Thread by @teofb

Jorge Jesus foi vestido para a ocasião: um baile de gala.

O Flamengo trucidou o Palmeiras. Controle absoluto.

São tantas coisas pra falar que o difícil aqui é cortar informação.

Segue o líder! Quero dizer... Segue o fio!

De início, o Flamengo repetiu a formação que entrou contra o Inter nos dois jogos. 4-2-3-1 com Everton centralizado, Arrascaeta pela direita e Bruno Henrique pela esquerda.

A única mudança, é claro, foi a entrada de Arão no lugar de Cuellar. Gerson herdou a 8.

A ideia parecia ser explorar as costas de Marcos Rocha com a velocidade de Bruno Henrique e causar confusão do outro lado com as trocas entre Arrascaeta e Everton.

Não deu certo. Marcos Rocha é bom na marcação agressiva e conseguiu ganhar antecipar três jogadas antes dos 6 min.

O primeiro lance, logo aos 2, é crucial. Tem um conceito importante aqui: controle da profundidade.

Como futebol tem impedimento, nem todo o campo está disponível para os jogadores. Algumas partes estão "fora de jogo", como se diz em Portugal.

Na prática, isso quer dizer que o time que NÃO tem a bola ganha o poder de determinar O TAMANHO DO CAMPO de jogo.

O conceito de bola coberta e descoberta (

https://twitter.com/teofb/status/1151846767895482374?s=20

) fica um pouquinho mais complexo ;)

É isso que Jorge Jesus faz muito bem.

Ezequiel Scher escreveu sobre Jesus antes de sua chegada ao Flamengo: "Um provocador de impedimento obcecado com espaços cada vez menores e com os quatro marcadores permanecendo na mesma linha, funcionando quase como uma regra da escola primária."

copalibertadores.com/pt-br/noticias…

O impedimento foi milimétrico. Podemos até discutir se a reação de Rodrigo Caio foi a melhor, mas Rafinha trava a corrida quando percebe a escolha do zagueiro.

Não é coincidência que o Flamengo tenha anulado gols contra Ceará e Palmeiras assim - e quase contra o Inter.

O gol anulado do Palmeiras fez JJ mudar de ideia sobre a distribuição do time. Reverteu para um 4-4-2 com Arrascaeta no lado esquerdo e Everton na direita.

Forçava os dois zagueiros do Palmeiras ao mano-a-mano e deixava Felipe Melo mais livre.

O efeito foi: com os pontas palmeirenses colados nos nossos laterais (que não ultrapassam toda hora), Marcos Rocha e Diogo Barbosa não podiam sair pra caçar Arrasca e Everton como loucos, pois deixariam os zagueiros muito expostos.

Isso deu mais espaço para os meias do Flamengo.

Com a bola de um dos lados, o meia do lado oposto ainda centralizava, ocupando a atenção de Felipe Melo, que não podia dobrar a marcação na bola.

O caminho se abre justamente em cima da mudança. BH sai para pressionar Gustavo Gómez. Repare como ele não chega pela frente do jogador, mas sim pelo lado, cortando as linhas de passe para Victor Hugo e Weverton e forçando o chutão.

O Flamengo diminui o campo e pede o chutão.

Só um pequeno comentário: Gabriel poderia ter aberto o placar de qualquer maneira e comemoraríamos como loucos. Poderia ser de canela! Mas depois da quarta passada, fazer o gol numa cavadinha foi demais!

O Palmeiras marca por encaixes longos no campo todo, o que significa que "cada um persegue o seu" quase desde o início da jogada

Mas o Flamengo tem uma capacidade incrível de sair da pressão. Atraía o Palmeiras, saía e desmontava o time deles, criando um buraco no meio-campo.

Repito o que eu sempre digo por aqui: às vezes o passe mais importante para desmontar o adversário não é o último, mas o primeiro.

A bola sai limpa lá de trás e acha Arrascaeta, Everton, Bruno Henrique e Gabigol equilibrados, correndo pra frente... Aí já viu...

Nesse sentido, é um prazer ver Gerson jogar. Versátil, participativo, inteligente, equilibrado, técnico e forte fisicamente. Torna essa tarefa de girar o jogo muito mais fácil.

Melhor em campo!

A grande dúvida da escalação, aliás, era a presença de Arão e Gerson juntos.

Arão fechou muito bem o meio e ainda cobriu o espaço entre o lateral e o zagueiro, mas precisa entender melhor o controle da profundidade na linha de impedimento (como no ultimo lance do vídeo).

Na maior parte do tempo, os dois atuaram lado a lado. Em alguns momentos pontuais, Arão recuou para fazer a "saída de 3" e liberou mais Gerson, lembrando um pouco o 4-1-3-2 que o Mister adora.

Essa dinâmica só mudou depois da entrada de Piris no lugar de Arrascaeta. O paraguaio veio jogar mais fixo, enquanto Gerson e Arão jogavam alinhados à frente.

Como o Flamengo saia mais pela direita, até houve a impressão de que Arão estava mais à frente, mas a estrutura era essa

Isso significa que no primeiro jogo depois da saída de Cuellar Jorge Jesus já usou TODAS as quatro opções que eu listei durante a semana:

https://twitter.com/teofb/status/1167936056831819779?s=20

Muitos falam sobre o "caos" positivo do ataque do Flamengo. Na verdade, tudo é muito organizado. Os jogadores não ficam presos às mesmas posições, mas trocam de lugar dentro de funções já definidas.

Sempre que alguém tem a bola, recebe 4 tipos de apoio: 1- Alguém por trás ou lado como passe de segurança
2- Alguém se aproximando pela frente pra fazer a parede num passe vertical
3- Alguém se movimentando pra puxar a marcação e abrir espaço
4- Alguém atacando o espaço vazio

Com isso, o jogo do Flamengo flui. Controla o espaço assim como controla o ritmo. Leva o jogo da forma como quer. Fica mais lento, espera, atrai e de repente acelera atacando o espaço.

Já é um time de verdade. Mas vale lembrar que ainda não conhecemos o auge dessa equipe.