Thread by @CienciaEscura

Sabia que o Brasil já deveria ter um cientista ganhador do Prêmio Nobel de Física mas que foi injustiçado?

O Ciência Escura traz hoje uma homenagem ao trabalho que César Lattes, CIENTISTA BRASILEIRO, um dos cientistas que descobriram uma partícula: o píon.

Segue a thread!!!

César Lattes foi um físico brasileiro, nascido em Curitiba em 1924 e morreu em Campinas em 2005. Em 1943, César se formou em Matemática e Física pela Universidade de São Paulo, numa época que praticamente não existia nenhum(a) físico(a), em que os professores eram estrangeiros.

Logo cedo na faculdade, César se destacou entre todos os alunos como um aluno brilhante. Depois de se formar, César foi estudar raios cósmicos e, em 1947, foi construir um laboratório de detecção desses raios no alto de uma montanha na Bolívia (Chacaltaya), a mais de 5000m

Em 1947-1948, aos 23 anos, César foi um dos idealizadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro. Hoje, o centro é vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O centro, colabora com vários grandes projetos como o CERN.

Ainda em 1947, César foi a Inglaterra com o seu professor, Giuseppi Occhialini, foi trabalhar no laboratório de Cecil Frank Powell na Universidade de Bristol num projeto que raios cósmicos atingiam placas fotgráficas postas no alto de montanhas. 1ª foto é o Occhialini e 2ª Powell

A explicação de pôr no alto de montanhas é que o ar é mais rarefeito, então os raios cósmicos tem mais chance de não interagirem com o ar e terem a sua energia maior para que consiga fazer uma reação nuclear e, ao produzir uma partícula, a placa fotográfica marca a trajetória.

Nesse trabalho, Lattes, Occhialini e Powell descobriram uma nova partícula: Píon, uma partícula com carga. O píon é composto de um quark e um anti-quark. A esse tipo de partícula (quark + anti-quark) damos o nome de Méson. Esquema do Modelo Padrão, partículas que compõe a matéria

César escreveu um artigo para a Nature sobre a nova descoberta, sem se preocupar com o consentimento de Powell, chefe do laboratório. Esse artigo foi aceito e publicado em 1947: s3.amazonaws.com/academia.edu.d…

Então, no ano seguinte, César vai aos EUA, para trabalhar na Universidade da Califórnia - Berkeley, num projeto com Eugene Gardner. O projeto foi sobre a produção de píons num acelerador circular a partir do bombardeio de átomos de Carbono em núcleos de Hélio. Foto do Eugene

Dessa forma, conseguiu produzir artificialmente essas partículas. Detalhe, César só tinha 24 anos de idade e já tinha feito tudo isso.

Em 1950, acontece a injustiça. A comissão do Nobel concede o prêmio ao trabalho de descoberta dos píons, só que só premia o chefe do projeto: Cecil Powell, mesmo que Lattes, Occhialini e Muirhead trabalharam no projeto. A partir de 1960, o Nobel premia todos os envolvidos.

Em 1949, César volta ao Brasil, dessa vez para ser professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da CBPF. Em 1957, ele aceita uma posição de pesquisador no Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Em 1967, Lattes vai para o recém aberto Instituto de Física Gleb Wataghin, na UNICAMP, a qual ele ajuda a fundar. Ele se torna o líder do Departamento de Raios Cósmicos, Altas Energias e Léptons, em que ele e o grupo descobrem a massa das "fireballs".

"Fireballs" são partículas resultantes de colisões em altas energias de hádrons (partículas como prótons e nêutrons, que compõe todos os átomos).

Após isso, César se aposentou em 1986, recebendo o título de Honiris Causa e Professor Emérito da Unicamp. César Lattes morreu em março de 2005 devido a um ataque cardíaco.

O IMPACTO DE CÉSAR LATTES NA CIÊNCIA BRASILEIRA

Primeiro, ele foi uma das pessoas a ajudar na criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão federal que financia cientistas, pós-graduandos e alunos de iniciação científica nos seus projetos

César esteve nos projetos de criação de grandes centros de pesquisa e ensino de física do Brasil, que hoje são referência: CBPF no Rio e o IFGW na Unicamp. O IFGW possui o LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncroton), o maior do mundo.

Sem dúvida, César foi o físico brasileiro mais impactante e importante de nossa história, sendo referência e inspiração a um geração inteira de físicos brasileiros que hoje trabalham no Brasil e mundo afora.

Sua influência e importância é tanta que seu nome é homenagiado como o nome da plataforma de currículos acadêmicos do Brasil: A plataforma Lattes. Hoje, é nela que cientistas de todas as áres que trabalham aqui colocam seus trabalhos e seus currículos acadêmicos.

Em tempos de desvalorização da Ciência, a história de César é uma eterna lembrança de que alguém fez ciência quando não se tinha infraestrutura e esteve no processo de 50 anos de criar essa estrutura a qual hoje usufruímos hoje. A defesa do investimento na ciência e educação (+)

e das instituições que financiam pesquisas faz parte do processo de manter viva a história do trabalho e luta de César Lattes pela ciência e educação brasileira.

Referências sobre a vida de César Lattes:
Livro sobre a vida dele: editoraunesp.com.br/catalogo/85713…
Uma breve descrição da história dele no Jornal da Unicamp: unicamp.br/unicamp/unicam…

Texto da CBPF sobre César: web.archive.org/web/2005021117…
Fotos sobre o experimento na Bolívia: web.archive.org/web/2016030321…