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Muita gente acha que os políticos do PSL são todos radicais e conservadores, mas não é bem assim. Entender a heterogenia do partido ajuda a compreender também a atual crise. Faço um fio aqui abaixo contando um pouco sobre o que já escrevi a respeito dos "moderados" do PSL. Segue:
A atuação independente e a crítica ao extremismo marcam o perfil desses moderados do PSL. São geralmente bem abertos ao diálogo com a esquerda e se distanciam das pautas ideológicas do presidente. Sim, eles existem.
O governador Carlos Moisés (SC) talvez seja o "moderado dos moderados" do partido. Ele já foi chamado de comunista em suas redes sociais e sofreu uma enxurrada de críticas após ter colocado à disposição dos estados da Amazônia a tropa estadual de policiais ambientais e bombeiros.
Outras acusações de "esquerdismo", ele me disse, vieram quando a Polícia Militar do estado incluiu na programação do seu curso de formação de sargentos uma aula de como lidar com transsexuais em situação de rua. "Esse grupo extremista disse que eu estaria (...)
(...) fomentando o discurso LGBT nas forças militares. Não tem isso. A PM está no caminho certo. Assim como policiais aprendem a falar inglês/espanhol para atender a estrangeiros nas vias públicas, eles precisam entender o linguajar de todos os extratos da sociedade. É natural!"
Moisés me disse que esses grupos tentam se aproveitar desses casos para colocar nele uma "pecha que não serve". Para ele, episódios como os mencionados impedem parte do eleitorado de olhar para as boas políticas públicas que o governo de SC tem feito.
"Essa pauta extremista me chateia muito. Não gosto de dizer que sou de direita ou de esquerda. A gente tem que ter o equilíbrio das coisas. Precisamos juntar a nossa nação. Um governo deve receber a todos", ele falou. (Sim, ele é um governador do PSL de Bolsonaro)
Mas há outros que seguem essa linha. O delegado Bruno Lima, deputado estadual por São Paulo, me disse que "a eleição já passou e que tem se focado em colocar em prática o que prometeu em campanha em vez de entrar na dicotomia de esquerda e direita".
Bruno Lima é militante da causa animal e contrário aos projetos de Bolsonaro para caça e rodeios. "O Gil Diniz (líder do PSL na Alesp) diz que sou o mais moderado do partido. Alguns do PSL têm a bandeira de direita e extrema-direita, mas eu tento ser um pouco mais moderado".
O deputado me disse que "faltou tato" ao presidente Bolsonaro na questão das queimadas na Amazônia e que não concorda com a política ambiental de Ricardo Salles. E tbm defende políticas públicas para o público LGBT. (sim, deputado do PSL)
"Enquanto policial, convivi muito com a questão LGBT. Apesar de não ter um projeto meu sobre isso, eu tenho apoiado projetos de outros partidos considerados de esquerda". Calma lá que tem mais. Discordem ou não, tem também a Janaina Paschoal:
Ela é apontada pelos colegas como uma voz moderada no PSL, alheia à "linha bolsonarista". Critica abertamente atitudes do Bolsonaro, como a indicação do Eduardo para a embaixada em Washington, desaprova extremismos e já chegou a afirmar que o "PSL não pode ser um PT às avessas".
Bom, isso ela mesma acha. "Me considero muito moderada. Sempre tento ser justa e olhar as situações com distanciamento", ela me disse. No começo de agosto, Janaina trocou elogios com Marcelo Freixo em uma conversa gravada e veiculada para o canal Quebrando o Tabu, no Youtube.
Além deles, há outros quadros de projetos e posicionamentos curiosos. O prefeito de Araripina (PE), Raimundo Pimentel, embora filiado ao PSL, recepcionou a caravana de Lula pelo Nordeste em 2017 e elogiou o ex-presidente. Ele apoiou Ciro Gomes nas eleições de 2018.
O presidente do PSL, Luciano Bivar, defende algumas (poucas) pautas progressistas. Ele defende a legalização do aborto e, quando concorreu à presidência, em 2006, sugeriu um plebiscito para decidir sobre a união homoafetiva, ainda não reconhecida pelo STF naquela época.
Agora já distanciando um pouco da "moderação" política, tem outros casos inusitados. O governo Bolsonaro não é lá conhecido positivamente por sua agenda ambiental, mas o deputado Hélio Lopes tem dedicado parte de suas proposições na Câmara dos Deputados ao meio ambiente.
Diferente do discurso ambientalmente esquisito de Bolsonaro e Salles, Lopes tem projetos para reflorestar áreas adjacentes a estradas, implantar medidas que auxiliem a travessia de animais nas vias, incentivar o uso de energia sustentável e isentar de impostos carros elétricos.
Eu conversei com o cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV de São Paulo, sobre isso. Ele me disse que essa ala menos radical mostra que o PSL não é um partido que reúne pessoas com objetivos comuns, mas que agrupa projetos de poder individual.
"O PSL é um partido ainda sem identidade ideológica clara. Como reúne muitos militares e agrupamentos conservadores, acaba rotulado de extrema-direita. Mas isso é mais pelos seus membros e menos por uma plataforma de ideias. A força do PSL se chama Jair Bolsonaro", ele disse.
Falei também com a antropóloga @kalil_isabela, do Instituto Federal de São Paulo. Ela disse que o PSL não pode ser chamado de um partido de extrema-direita. "Apesar de a sigla ter dado uma guinada extremista desde 2018, não é certo que essa tendência continue e que (...)
(...) uma eleição é pouco para rotular o partido. Se o Bolsonaro sair do PSL, o partido pode mudar radicalmente. Hoje os políticos do PSL são muito maiores que o partido. Isso não é comum no Brasil, mesmo com o caso de Lula. Já o PSL pode se tornar qualquer coisa", ela falou.
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