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FLAMENGO 5X0 GRÊMIO - PARTE 1

Aula. Baile. Massacre. Chame como quiser. Ontem a história foi escrita no Maracanã.

Tem tanta coisa pra falar sobre esse jogo, tanto detalhe pra dissecar, que a análise será dividida em partes.

Vamos à primeira: como o Grêmio imaginou o jogo.
Muita gente está dizendo que o primeiro tempo foi muito equilibrado. É verdade, mas só até certo ponto. O Flamengo foi melhor, jogou melhor, mas podemos dizer que o Grêmio conseguiu condicionar o jogo à sua estratégia no início. Ou seja, o jogo ficou com a cara que eles queriam.
Havia muito mistério ao redor das escalações. Pelo lado do Grêmio, Jean Pyerre e Luan eram dúvida mas, mesmo vetados oficialmente, muita gente especulava a possibilidade de um blefe.

Renato tinha um problema para resolver: fechar os espaços pelo meio e melhorar a saída de bola.
Usando lógica e dedução (e um tanto de sorte), imaginei a escalação antes do jogo (). Com três volantes, o Grêmio tentaria ter superioridade na sua saída de bola para construir lá de trás, coisa que não conseguiu fazer em Porto Alegre.
Como Plano B o Grêmio tentaria a bola longa para a casquinha - e André estaria em campo para isso. Com a possibilidade desses lançamentos nas costas, a defesa do Fla seria obrigada a recuar e abriria espaço para o Plano A (sair pelo chão com os volantes) funcionar.
A previsão da escalação estava correta, a da estratégia nem tanto. O plano principal de Renato era um só, e parecia ter saído direto dos manuais de Charles Hughes e Charles Reep.

Uma viagem no tempo rumo à Inglaterra dos anos 50.
Reep era um estatístico amador que resolveu coletar e analisar dados de milhares de jogos de futebol (antes da era dos computadores). Seu trabalho teve uma conclusão curiosa: para ele, a melhor estratégia do futebol era chutar a bola o mais longe possível e brigar por ela.
Assim nasceu o estilo conhecido por lá como “kick and rush” (algo como “bica e corre”). A ideia é lançar a bola longa para tentar ganhar o que hoje conhecemos como “segunda bola” (a sobra da disputa pelo alto) e, assim, já ter a posse perto do gol adversário.
Charles Hughes adotou a ideia e levou a novos patamares. Ele se tornou o diretor de treinamentos da Federação Inglesa (FA) e estabeleceu os manuais usados pelos treinadores ingleses durante várias décadas.
A principal publicação de Hughes tem o pomposo nome “The Winning Formula” (A fórmula vencedora). Ele mapeou o campo de jogo e estabeleceu o que chama de POMO - Positions of Maximum Opportunity (Posições de oportunidade máxima).
O objetivo do jogo era colocar a maior quantidade de bolas nas POMOs o mais rápido possível.

O futebol inglês passou a ser uma disputa pelo território, não pela posse da bola.

Aquele nosso imaginário de ingleses fortões bicando para frente não era apenas um estereótipo.
Voltamos ao Grêmio...

Aquilo que imaginei como Plano B pensado para potencializar o Plano A era, na verdade, o único plano. Renato Gaúcho veio enfrentar o Flamengo basicamente no “kick and rush”, buscando sempre a segunda bola com um dos pontas.
A ideia do Grêmio para lidar com a marcação sob pressão em cima dos seus volantes foi simplesmente pular essa fase do jogo. A bola não passava pelo meio-campo. Passava por cima do meio-campo.
Segundo o @Footstats, o Grêmio lança em média 25 bolas por jogo (atualmente 17o no Brasileiro - ), mas ontem lançou 22 no primeiro tempo!
Também precisamos levar em consideração a posse de bola. No Brasileiro, o Grêmio tem, em média, 56%. Ontem teve apenas 35%.

Ou seja, o Grêmio quase TRIPLICOU seu número normal de lançamentos por minuto com bola.

A defesa do Flamengo foi bem e não deu muitas oportunidades. Ganhou quase tudo pelo alto e mesmo quando o Grêmio ficou com a posse da bola, encontrou a defesa rubro-negra compacta e segura.
Mas essa proposta de jogo forçou o Flamengo a dar 13 rebatidas apenas no primeiro tempo e em vários momentos o jogo ficou feio. Muito feio!

Sem a bola, o Grêmio começou impondo um modelo interessante de marcação: fazia uma pressão alta na saída de bola rubro-negra, mas corria para trás, recuando todas as linhas, quando essa primeira pressão era vencida, e passando a marcar perto do próprio gol.
De fato, isso gerou dificuldades no início. O Flamengo fazia a “saída de três” para tentar escapar da pressão, mas teve 11 perdas de posse nos primeiros 15 minutos, muito por mérito gremista, e teve que apelar para o chutão algumas vezes.

Mas você reparou no detalhe sutil do vídeo acima?

Quando a defesa era pressionada, Everton Ribeiro sempre encontrava uma brecha no meio-campo. A questão era saber fazer a bola chegar até ele nesse espaço.
A partir dos 25-30 minutos, a saída melhorou. Diego Alves, Rodrigo Caio, Arão e Marí passaram a acalmar mais a bola, girar de um lado pro outro e bola passou a chegar na região onde Everton Ribeiro buscava espaço e, assim, o Fla conseguia avançar.

Foi tentando buscar esse espaço que o Fla concedeu a única chance no jogo. Cebolinha abandonou Rafinha e o passe de Rodrigo Caio deveria ter sido para o lateral, livre na direita. Everton ficou encaixotado e perdeu a bola. Filipe Luís salvou todo mundo.

A forma como saiu o primeiro gol foi até irônica. Geromel recebeu e ia lançar para frente, mas a defesa do Fla reagiu bem à situação de bola descoberta e o zagueiro refugou. Decidiu, então, quase que pela primeira vez, construir com os volantes e…

O Grêmio conseguiu, sim, amarrar o jogo a partir da sua estratégia. Condicionou algumas ações do Fla e foi respirando. Mas o time de JJ sabe se adaptar, sabe encontrar espaços, e o atropelamento que veio depois não tem nada a ver com apagão. Mas isso é assunto para outro fio...
*No primeiro tempo de ontem
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