, 25 tweets, 7 min read
FLAMENGO 5 X 0 GRÊMIO - PARTE 3

“Eu disse que hoje faríamos gols de escanteio fácil, antes de acontecer. E fizemos.”

Jorge Jesus foi direto na coletiva após o jogo. Estudou o Grêmio à exaustão e preparou cada detalhe para furar o bloqueio de Renato.

Vem comigo para mais um fio
Um jogo de futebol é dividido em vários momentos distintos, cada um com sua particularidade. Jogar bem não significa criar mais chances, nem ter maior posse de bola. Jogar bem é se comportar bem e impor seu jogo a partir de um plano definido para cada um desses momentos.
Hoje é comum dividir o jogo em quatro fases que se encadeiam continuamente: o time tem a bola, perde e se organiza, fica sem a bola, retoma e se reorganiza.

Organização ofensiva > transição defensiva > organização defensiva > transição ofensiva.

O processo se repete...
O ciclo é quebrado, porém, por um quinto momento - alguns diriam que uma quinta fase: a bola parada.

Há tempos esse tipo de jogada decide jogos - Muricy está aí para provar - mas no futebol contemporâneo as bolas paradas ganharam um novo nível de importância e complexidade.
A diferença é que a bola parada é menos glamurosa. Quase todo mundo trata gols de bola parada como se fossem pura sorte. O treinador sai do campo e diz na coletiva que “o time jogou bem, mas tomou um gol de escanteio” como se fosse um elemento aleatório e fora do jogo.
De alguma forma as coisas sempre foram assim. Quando o futebol começou, ainda no século 19, o jogo de passes era considerado coisa de maricas. Os escoceses só desenvolveram esse modelo porque eram menores e mais fracos que os ingleses fisicamente e precisavam de uma alternativa.
Depois, o jogo de contra-ataque, explorando as transições, passou a ser considerado coisa de time pequeno, ideia de gente covarde. As pessoas entortam o nariz até hoje para times que focam em estruturas defensivas sólidas.
Montar uma estratégia focada em contra-ataques, ataques rápidos ou bolas paradas não é necessariamente “jogar por uma bola” ou “esperar uma chance vadia”. Ter uma boa defesa e controlar o jogo sem a posse não significa necessariamente ser retranqueiro ou medroso.
Jorge Jesus estou o Grêmio à exaustão e criou várias alternativas e armadilhas. O jogo fluiu e o Flamengo foi se aproximando de abrir o placar ()

Mas sua obra-prima estava nas bolas paradas.
Uma dica do que poderia acontecer no jogo apareceu no final de semana anterior, num duelo totalmente inesperado.

A Chapecoense usou uma estratégia completamente inusitada para manipular a marcação individual do Goiás num escanteio e quase fez o gol.

O atento @NicoWagner lembrou que o treinador da Chape, Marquinhos Santos, já havia feito isso quando treinava o Juventude num jogo contra o… Grêmio!

Sinceramente, quando vi essa foto, tive a certeza de que Jorge Jesus ia deitar e rolar.

Arsène Wenger foi muito criticado na sua chegada ao Arsenal em 1996 por implementar uma marcação por zona nas bolas paradas.

Ninguém na Premier League marcava por zona.

“A zona não faz gol, quem faz gol é o jogador. Por que vou marcar a zona?”, diziam os críticos.
Hoje, no Brasil, a maioria das marcações são mistas (misturam zonas, individual e bloqueios), mas ainda vemos uma enorme predominância da marcação individual.

“Cada um pega o seu” é a regra geral, inclusive no imaginário da imprensa e do torcedor.
Toda vez que sai um gol de escanteio, todo mundo vai logo procurar quem falhou, quem não subiu, quem perdeu a disputa pelo alto...
Desde a chegada de JJ, o Fla marca por zona (às vezes usa alguns bloqueios) e o time sofreu bastante na bola parada defensiva no início.

Ele insistiu no modelo e foi colhendo frutos aos poucos. Hoje o Flamengo é uma rocha sólida defendendo a própria área em faltas e escanteios.
Ora, todo trabalho leva um tempo e para chegar a uma marcação zona excelente, tivemos que ter uma marcação zona com falhas, não é mesmo?

O mesmo aconteceu com a linha alta de defesa e vários outros detalhes

Como bem disse o genial @boucas_pedro: “O Grêmio marca individual. Isso significa que os jogadores do Grêmio estarão onde o Jesus quer que eles estejam”



Assistam a excelente análise e, assim, não preciso mostrar cada jogada aqui.
É sério. Eu poderia analisar lance a lance aqui, mas o pessoal do @Canal_11Oficial já fez um trabalho magnífico.

Vai lá e assiste. Eu espero.
Jesus, entendeu perfeitamente a marcação do Grêmio e criou um arsenal de opções para vencê-la. Ele sabia que faria pelo menos um gol assim. Fez três.

O repertório é enorme e vai aumentando a cada jogo. @adrianomotta falou sobre isso no Fla-Flu

A discussão chegou até às cobranças de lateral depois dos dois gols no Castelão contra Ceará e Fortaleza usando a mesmíssima jogada. Muita gente ficou chateada porque os gols do Flamengo foram valorizados enquanto lances parecidos de outros times já foram criticados.
A questão aí está na forma como se planeja a bola parada.

A máxima do torcedor brasileiro é “não bata escanteio curto”. De fato, se for só rolar para trás e bicar na área, é melhor não bater mesmo.

O mesmo vale para o lateral longo. Se for jogar na confusão, repense.
Por outro lado, se cada posicionamento, movimentação e toque tiver um objetivo, faça! Use e abuse!

É isso que falta nos mecanismos táticos por aqui algumas vezes: propósito.
Toda ação no futebol precisa ter um propósito. Se não tiver, descarte!

Um bom time não é o que faz muitas coisas. É o que faz poucas coisas, as coisas certas, muito bem.
Chegou a hora de ver um grande time nas quatro principais fases do jogo apresentar um grande desempenho na quinta fase também.

Chegou a hora de conhecer um repertório variado. Chegou a hora de se apaixonar pelo escanteio curto!
Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh.

Enjoying this thread?

Keep Current with Téo Benjamin

Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!