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Paris 2024: paris2024.org/fr/ Na semana passada, o comitê olímpico francês apresentou a marca dos XXXIII Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão. Isso mesmo, uma mesma marca para os 2 eventos.

O projeto foi desenvolvido pela agência Royalties Ecobranding, de Paris.
Não achei infos sobre como rolou o processo de escolha da marca. Tbm há pouco conteúdo da Royalties online: royalties-ecobranding.com

Uma pág no Behance e um site sobre Ecobranding, q parece ser uma iniciativa da firma q propõe ações bizarras de greenwashing, como esburacar logos:
Esperei a marca decantar um pouco pra tecer essa análise, pq o efeito da novidade contamina nossa opinião com um tipo particular de estranhamento, parente da rejeição.

(sobretudo em projetos com longa tradição e importância histórica, pelos quais nos sentimos proprietários.)
Vamos lá!
1 marca, 2 eventos.

Jogos Paralímpicos e Olímpicos têm organização independente e são projetos muito distintos em diversos aspectos técnicos. Integrar a imagem de ambos teoricamente deve poupar algum trabalho de gestão de marca, mas não creio q seja tarefa simples.
Tudo q vc ganha simplificando o uso da marca, vc tbm perde na confusão q isso pode criar, afinal não são os mesmos patrocinadores, nem atletas, nem credenciais, vouchers, agenda... E tudo isso vai ter q funcionar a partir da pequena marca abaixo do logotipo, indicando COI ou IPC.
Marianne

A marca criada para Paris '24 traz um rosto feminino estilizado. A referência é Marianne, personificação nacional da República Francesa.

Do ponto de vista da escolha, acho feliz: por fugir do clichê da Torre Eiffel, pela mensagem simbólica e pela temática feminina.
Apesar de ser uma boa escolha de mkt (antes de entrar no mérito da representação) tbm é um convite para questões delicadas.

É legal Paris usar desse projeto pra se posicionar de forma progressista em um contexto de retrocesso conservador. Mas a maneira como o feminino foi +
trabalhado pode ser um problema, sobretudo pela junção com o outro elemento de leitura da marca, a chama. O cabelo de Marianne tem a forma de labareda, e essa associação é tudo, menos inofensiva. A carga pejorativa dessa imagem fogosa piora ainda mais por uma coincidências chata.
Outro ponto negativo é q Marianne é uma alegoria, e foi novamente representada como mulher branca de lábios finos e cabelo liso. E a situação racial na França é delicada, o processo de integração dos descendentes das ex-colônias no tecido social francês não é pleno, longe disso.
Quando usamos um elemento humano figurativo em um projeto de marca de proporções universais estamos adentrando um campo desconhecido. E, esporadicamente, eu não sei se isso é ousadia ou burrice.

O tempo dirá se o trabalho sobrevive e cresce pelo bom uso. Pode ser que sim.
Pra tentar reduzir essa conotação pouco inclusiva os organizadores têm forçado uma utilização da marca em fundo preto, com o emblema todo em dourado. Sei lá hein... E isso obriga q os anéis olímpicos percam suas cores originais (um deles é preto e some), algo q não é bem visto.
Aqui uma nota rápida sobre a paleta monocromática do sinal. Dourado é uma cor bem chata de reproduzir (em CMYK!). E aprofundando pelo lado simbólico, fez nossa amiga Marianne ganhar um ar de Madame, lembrando marcas de salão de beleza, coiffeur, cosmético caro.

Clichês, sorry.
E isso aponta para outra questão. É uma marca engraçadinha, um rostinho, uma boquinha, um trocadilho. É uma marca q não nasce com grandeza ou importância, ainda q isso venha a ser construído pelo uso recorrente. Mas não parece uma solução adequada para a dimensão do evento.
Ouvi de amigxs designers q acharam a marca uma bobagem. Algo com cara de bonequinha, infantil, banal, desimportante.

Lembrem-se do efeito novidade, essa irritação é potencializada. E deem tempo para q em uso possa crescer, amadurecer e aprofundar.

Mas sim, ficou devendo.
Achei o logotipo Paris 2024 marromenos demais. Contém vários errinhos típicos de montagem amadora de tipo display, como espelhamento de forma, geometria excessiva sem ajustes, desequilíbrio... E considerando q deve trabalhar sozinho em MUITAS aplicações, falta força e pregnância.
A referência estética para a construção das letras é o Art Deco francês. Nada contra um conceito tipográfico histórico (estereotipado) mas não está muito bem encaixado debaixo de uma representação estética moderninha de Marianne. Em q momento essa marca gostaria de estar, afinal?
O comitê organizador apresentou um tipo de apoio exclusivo junto a essa marca, onde o conceito tipográfico acaba sendo melhor explorado. Quando o tipo ganha peso e inclinação ele deixa a zona de conforto, e flerta com uma linguagem mais contemporânea, q me agrada. Mas só.
A versão regular é um projeto bem realizado do ponto de vista técnico, mas com muitos excessos de overdesign na direção de arte. O conceito é pegajoso e vai enjoar rapidamente (como aconteceu na Rio 2016), justamente por não ser um exercício complementar em tom de voz mais suave.
Outros pontos pra arrematar esse mega fio.

A boquinha será um problema técnico em reduções e reproduções de baixa qualidade.

A marca vazada tbm não a protege e vai obrigar alguns recursos duros como nessa imagem (página oficial). Vai aplicar sempre sobre foto assim? Jesus...
Sobre a execução do símbolo: há uma curva q me incomoda muito no cabelo de Marianne, exatamente no ponto de inflexão. Urgh.

Segunda marca de Gestalt circular na sequência (Tokyo 2020 > Paris 2024). Acho isso um pouco ruim...
A linguagem da vinheta de apresentação não é ruim, mira num hype francês Adidas interessante. Mas aí vc olha pra marca e isso não se sustenta:
Alguns amigos atentaram pro fato de q esse rostinho simplificado é um desenho meio genérico e pouco proprietário, e q isso ainda pode esbarrar em marcas existentes e dar merda. Depois do q rolou em Tokyo com a primeira marca abortada, não me surpreenderia outra pisada na bola.
Ao trazer pra marca olímpica outros elementos relacionados aos jogos - a chama da tocha e pira olímpica e a própria medalha, vc pode complicar um pouco a criação de outras submarcas do programa, de itens já mencionados no símbolo principal. Será?

Essa era a marca de candidatura.
quero ouvir meu amigo @alvaroefe. pega o fio lá de cima e deixa aqui seus 10 centavos, porfa. ;-)
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