Entre a queda de James Callaghan em 4 maio 1979, e a ascensão de Margaret Thatcher, que ficaria no poder até 1990, o Partido Trabalhista teve quatro líderes. Todos fracassaram na oposição.
Michael Foot, Neil Kinnock, John Smith – que morreu no cargo de chefe do partido e líder da oposição –, e Margaret Beckett, que chefiou interinamente o partido, não conseguiram derrubar nem Tatcher, nem John Major.
O único a conseguir bater os Conservadores (Tories) nas urnas foi Tony Blair – goste-se ou não dele.
Blair conseguiu se eleger ao renovar o Partido Trabalhista, afastá-lo ao eixo de influência sindical e adotar o social-liberalismo como doutrina política, deslocando a legenda ao centro-esquerda.
(Michael Foot já havia tentado o mesmo movimento de deslocamento ao "soft left" nos anos 70, mas fracassou.)
O New Labour, como foi chamado, foi liderado por Blair e por Gordon Brown, seu ministro da Economia e seu sucessor (não-eleito) no posto de primeiro-ministro. Mas o homem por trás da vitória eleitoral não foi um líder político, e sim um intelectual: Anthony Giddens.
Giddens foi o idealizador do New Labor ao criar o conceito de "Third Way", ou seja, de Terceira Via, que temperou a esquerda com elementos do liberalismo econômico, compondo uma tendência chamada de social-liberalismo.
Essa foi a chave da vitória de Tony Blair e de seu início arrasador à frente do Reino Unido. Até o desastre da Guerra do Iraque, quando apoiou George W. Bush e mentiu sobre as supostas armas de destruição de massa, Blair era a referência da esquerda mundial.
Gordon Brown, que o sucedeu em meio à crise de 2007-2008, era da mesma linha e, estimo eu, teria sido primeiro-ministro por vários anos não fosse o desgaste do Labour no poder – thanks to Blair – e pela turbulência financeira mundial.
Brown foi derrotado por um "Blair conservador", David Cameron, esse sim o grande responsável pelo Brexit (foi ele quem abriu a caixa de pandora ao convocar o referendo). Cameron havia feito o mesmo movimento de moderação no Partido Conservador.
Após a queda de Brown, os trabalhistas foram liderados por Harriet Harman, como interina, até a eleição fratricida entre Ed Miliband e David Miliband. David era New Labour e soft left. Era uma espécie de príncipe do "Third Way".
Mas em setembro de 2010 perdeu a eleição interna do partido para Ed, "The Red". Aí nasce o abandondo do Partido Trabalhista do social-liberalismo, o retorno às bandeiras de esquerda mais sindical.
Esse movimento foi radicalizado por Jeremy Corbyn, um líder medíocre, impopular, incapaz de reconhecer e corrigir o antissemitismo subjacente do Labour e sobretudo de dar um norte ao partido diante do Brexit. Por quê? Porque ele próprio sempre foi um "leaver".
Corbyn se apropriou do partido usando a máquina sindical e um movimento, Momentum, que lhe serviu de plataforma para sufocar toda oposição interna e seguir no poder mesmo após o Brexit e a derrota para Theresa May.
Corbyn entra para a história como um dos piores, senão o pior desempenho eleitoral do Partido Trabalhista em,
... em, sei lá, 80 anos.
Fica a lição para a esquerda britânica, americana e brasileira: o radicalismo – Corbyn é de esquerda radical – fragmenta a esquerda e a isola na opinião pública, enquanto o radicalismo de direita congrega. Trump, Bolsonaro e agora Johnson são as provas disso.
