E quando preferimos uma lorota conveniente ao invés de aceitar os fatos que nos incomodam? Vamos pensar um pouco sobre o conto de Hans Christian Andersen (1805-1875), publicado em 1837 e uma epistemologia de lealdade aos fatos?
Segue a #AulaFio !
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O crítico literário, que debruçou-se sobre a obra de Andersen, Elias Bredsdorff classifica-o na categoria de “contos realistas que acontecem em um mundo imaginário”, pois não contém elementos mágicos ou sobrenaturais. Está localizado no mundo humano, embora não identificável.
Vamos a um resumo precário do conto! Mas recomendo a leitura do texto integral publicado pela editora Martins Fontes. É um ótimo meio de ensinar as crianças sobre um compromisso com a verdade.
Muitos anos atrás, vivia um imperador que amava acima de tudo estar bem vestido. Ele usava um casaco para cada hora do dia.
(As estátuas destas imagens que ilustram está parte do conto foram feitas por Raimond Spekking em 2011e ficam em Colônia, Alemanha)
(As estátuas destas imagens que ilustram está parte do conto foram feitas por Raimond Spekking em 2011e ficam em Colônia, Alemanha)
Um belo dia, dois bandidos chegaram à grande cidade do imperador. Eles alegaram saber tecer um tecido que apenas pessoas tolas ou incapacitadas não podiam ver e propuseram ao soberano fazer um casaco para ele.
O imperador achou que ele seria excepcional e que assim seria capaz de identificar as pessoas inteligentes de seu reino. Os dois charlatães então começaram a trabalhar.
Alguns dias depois, o curioso imperador veio ver onde estava a tecelagem desse famoso tecido. Ele não viu nada porque não havia nada. Confuso, ele decidiu não contar a ninguém sobre isso, porque ninguém queria um imperador tolo.
Ele enviou vários ministros para inspecionar o andamento do trabalho. Eles não viam mais que o soberano, mas também não se atreviam a admitir, por medo de parecerem tolos. O reino inteiro falou desse material extraordinário.
No dia em que os dois bandidos decidiram que o hábito havia terminado, ajudaram o imperador a vesti-lo. Assim, "vestido" e acompanhado por seus ministros, o soberano se apresentou ao seu povo, que também alegava ver e admirar suas roupas.
Apenas um garotinho se atreveu a dizer a verdade: "Mas ele não tem roupa nenhuma!" (Ou, em uma tradução mais usual: 'o rei está nu'!). E todos concordaram com ele. O imperador entendeu que seu povo estava certo, mas continuou sem dizer uma palavra.
Voltou ao castelo, pagou os bandidos e nunca mais tocou no assunto, mas já era tarde, até o fim de seus dias, estaria sempre nu diante de seu povo.
E o que este conto tem a nos ensinar?
E o que este conto tem a nos ensinar?
Basicamente, que nenhuma vaidade, nenhuma lorota, nenhuma arrogância, consegue fazer frente diante de um fato posto. Negar os fatos nos tornaria tão tolos quanto o imperador de Andersen.
Que devemos nos afastar das opiniões e mesmo das lorotas que nos convém, pois no final elas apenas irão demonstrar a nossa própria ignorância, o nosso próprio ridículo.
Que devemos ter cuidado ao querer ser inovadores pela inovação e sermos pegos nas armadilhas da vaidade e acabar nos tornado o motivo de risos.
Que a aclamação do povo, reticente em ser tachado como tolo não conferiu vestes ao imperador, apenas tornou todos cúmplices em uma lorota. Fatos não são construídos por aceitação de uma maioria e sim com evidências.
Aceitemos os fatos, por mais duros que sejam, desde que não tenho tanto dinheiro quanto gostaria de gastar e assim não me endividar ou mesmo que minha filha está morta e devo me despedir dela, dando-lhe e dando-me alguma paz e dignidade.
Vale dizer que este é um assunto tão sério, que em 1971, o Dr. Frank Gross publicou um artigo no New England Journal of Medicine sobre uma doença que ele batizou de "síndrome das roupas do imperador", com referência ao conto de Andersen.
Ele descreve como um diagnóstico falso pode ser confirmado por vários médicos por "contaminação" do diagnóstico anterior. Segue o link do artigo:
nejm.org/doi/full/10.10…
nejm.org/doi/full/10.10…
Portanto, tratem os fatos com mais carinho, mesmo quando eles não são agradáveis conosco. E menos gentis com as opniões que podem tornar-se lorotas apenas pela comodidade de as aceitarmos.
