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O próximo adversário do Flamengo não é um time qualquer. Se não tem um Messi, um Cristiano Ronaldo ou um Ronaldinho, o time do Liverpool impressiona em resultado e desempenho e se tornou uma máquina justamente por não depender de nenhum jogador específico.

Um desafio e tanto!
O Liverpool fez incríveis 97 pontos na temporada passada e só não saiu campeão por causa dos 98 pontos conquistados pelo City de Guardiola.

Obcecado na busca pelo título da Premier League, os Reds viajaram a Doha tendo conquistado 49 pontos de 51 possíveis na temporada atual.
A Premier League é hoje considerada a maior Liga do planeta pela maioria dos interessados em futebol.

Mesmo assim, os clubes da Terra da Rainha não conseguem atrair os jogadores mais badalados do futebol mundial.

Os clubes perceberam, então, que precisavam atrair os maiores treinadores para lá (lição que o Flamengo aprendeu bem em 2019).

Um dos primeiros a chegar foi Jürgen Klopp, contratado em outubro de 2015 para substituir Brendan Rodgers.
Klopp ajudou a revolucionar o futebol alemão e trouxe esse estilo para a Inglaterra.
Seu Liverpool tem muito a ver com os conceitos que ele trouxe da Alemanha

Para entender esse time, é fundamental entender o seu treinador.
Há pouco mais de 10 anos, o mundo do futebol viu uma revolução protagonizada pela Espanha. O jogo vinha se tornando cada vez mais rápido e físico, mas de repente voltou a ser mais cadenciado, às vezes até lento.
Quem dominava a posse de bola dominava o jogo. Nesse ambiente, jogadores como Xavi, Iniesta, David Silva, Fabregas e outros não-espanhóis, como Pirlo, foram elevados de status.

A Espanha venceu a Euro em 2008 e 2012 e a Copa de 2010 tocando a bola pacientemente de pé em pé.
Na década passada ninguém sabia quantos passes um time havia trocado num jogo, mas hoje isso é informação corriqueira em conversa de bar. Esse foi o principal legado daquela revolução espanhola, encarnada principalmente no Barcelona de Pep Guardiola.
Não é a toa que na própria Premier League, o percentual médio de acerto de passes aumentou de 70% para 81% entre 2004 e 2014!

Era a influência clara do novo jeito “certo” de se jogar futebol.
Enquanto isso tudo acontecia na península ibérica e espalhava para o mundo, o futebol alemão só recebia elogios pela resiliência e eficiência, mas não inspirava ninguém.

De repente, tudo mudou de novo.
Na Copa do Mundo de 2010 a Alemanha jogou muito. Perdeu nas semis para a Espanha campeã, mas marcou duas vezes mais gols que a Fúria.

Naquele mesmo ano o Bayern perdeu a final da Champions para a Inter de Mourinho (que havia eliminado o Barcelona).
A diretoria do time alemão traçou como objetivo claro vencer a Champions em 2012, já que a final seria disputada em Munique

O Bayern chegou àquela final, dominou o jogo, mas perdeu para o Chelsea nos pênaltis.
Em 2013, a semi-final teve Bayern 7x0 Barcelona e Borussia Dortmund 4x3 Real Madrid nos placares agregados.

Na final totalmente alemã, o Bayern venceu o Borussia de Jürgen Klopp.

Um ano depois, os alemães venceram a Copa do Mundo metendo 7x1 no Brasil.
Sem avisar ninguém, a Alemanha fazia a sua própria revolução.

Agora eram eles que davam as cartas no futebol mundial.

A seleção era a mais temida. A Bundesliga passou de um campeonato secundário a centro empolgante.
Jürgen Klopp estava no centro desse processo, que podia ser definido em uma palavra: intensidade.

“Arsène Wenger gosta de ter a bola, trocar passes. É como uma orquestra. Eu prefiro heavy metal. Sempre quero tudo bem alto” - disse, enquanto ainda treinava o Borussia.
Klopp estruturou aquele Borussia Dortmund. Chegou em 2008, com o time tendo terminado em 13º (de 18 times) e com a pior defesa do campeonato na temporada anterior. Terminou em sexto naquele ano e foi campeão em 2011 e 2012.
O futebol alemão era cada vez mais técnico e valorizava cada vez mais jogadores habilidosos, mas, ao contrário do futebol espanhol, o foco era todo em verticalidade.

Nada de toques laterais e 50 passes trocados por jogada.
A Bundesliga se tornou a maior referência em ataques rápidos e mortais. Martí Perarnau narra no livro “Guardiola confidencial” a maior obsessão de Pep quando chegou ao Bayern: entender controlar os contra-ataques dos adversários alemães.

Ele adaptou todo o seu jogo para isso.
Ao mesmo tempo, sem a bola os times também desenvolveram um ritmo frenético para se defender. Mais uma vez, organização e intensidade eram as palavras de ordem.

Nesse contexto, Klopp nomeou o conceito que logo estaria na boca de todo treinador europeu: Gegenpressing
Gegenpressing significa, literalmente, “contra-pressão”.

Em português a gente costuma usar “pressão pós-perda” ou “perde-pressiona”.

A ideia básica é pressionar o adversário assim que a bola for perdida, recuperando a posse rapidamente.
A “contra-pressão” não serve para contrapor uma pressão (como o contra-ataque contrapõe um ataque), mas sim para pressionar o contra-ataque. Perder a bola e imediatamente encurralar o adversário, evitando que ele se organize para contra-atacar.
Assim, Klopp recuperava a bola sistematicamente no campo de ataque, perto do gol adversário.

Você precisa de muitos passes para chegar na cara do gol, mas se roubar a bola por ali, chega rápido.

“Nenhum armador no mundo consegue ser tão bom quanto uma boa contra-pressão”
Lembra um pouco o estilo que Jorge Jesus implementou no Flamengo, mas em outro nível, de verdade.

Assim, Klopp foi dando sua cara ao Liverpool aos poucos, em quatro anos, não quatro meses.
Além de contratar muito bem e renovar o elenco, Klopp subiu muito o nível dos jogadores. Um trabalho individualizado e fantástico.

Firmino foi lapidado. Mané e Salah foram contratados com altas expectativas, mas se transformaram em jogadores muito mais completos...
Nas primeiras temporadas, o Liverpool era realmente heavy metal. Correria, pressão desenfreada e muito suor. Intensidade, intensidade, intensidade.

Depois o time foi aprendendo outras formas de jogar, foi se adaptando, aprendendo e ganhando novos repertórios.
Hoje o Liverpool é um time bem mais completo.

Gosta de jogar com a posse de bola, amassando o adversário, mas também se sente confortável jogando recuado, explorando o contra-ataque. Pode entrar de cabeça numa disputa física intensa no meio-campo ou acalmar mais o jogo.
Quando consegue jogar à vontade, é um triturador de carne. Um time que não tira o pé.

Como Claudio Coutinho dizia "depois que você enfia a faca, não pode tirar! Tem que rodar!"

E o Liverpool roda!
Salah, Mané, Firmino, Van Dijk, Alexander-Arnold e Alisson são os jogadores que chamam mais atenção, mas a força está no conjunto. É muito difícil apontar um craque que faça a diferença. É a união deles que torna esse time fantástico.
No fim, Liverpool e Flamengo são até parecidos.

Times intensos nas suas realidades, que gostam da bola, não perdoam quando vão ao ataque e se caracterizam mais pelo conjunto do que por uma estrela, com treinadores que mudaram a história.

Cada um em seu patamar!
PS: estou lançando meu primeiro livro - Outro patamar: análises sobre o Flamengo de 2019 e as lições para o futebol brasileiro.

Estamos com uma campanha de crowdfunding que funciona basicamente como uma pré-venda com recompensas incríveis.

Chega junto!

benfeitoria.com/outropatamar
Continuei falando sobre o Liverpool aqui:

O foco dessa vez é mais em cada jogador
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