O COMUNISMO É MAU?
Como tenho muitos novos amigos a perguntar-me se o comunismo é mau (já que lhes custa dizer tanto que o fascismo é mau sem comparações com o comunismo), apetece-me responder num fio que duvido que agrade a muita gente. Sem qualificadores: não. O (1/12)
Como tenho muitos novos amigos a perguntar-me se o comunismo é mau (já que lhes custa dizer tanto que o fascismo é mau sem comparações com o comunismo), apetece-me responder num fio que duvido que agrade a muita gente. Sem qualificadores: não. O (1/12)
comunismo não é mau. Enquanto que o fascismo é moralmente reprovável antes e depois de ser posto em prática e indissociável do seu racismo, chauvinismo e autoritarismo, o comunismo representa mais que apenas as tentativas de implementação. Primeiro, todos os fascismos e (2/12)
Implementações são más. Não há um fascismo bom, que não envolva a falha moral de hierarquizar o valor da vida humana. Mas já a TEORIA do comunismo (portanto a teoria Marxista) precede as suas tentativas de implementação. Já aqui temos uma confusão entre teoria e prática. (3/12)
Mesmo se assumirmos que o comunismo em prática é mau (lá chegaremos) não seria capaz de lançar o bebé (a teoria e intenção da teoria) com a água. Se virmos a teoria marxista, materialismo histórico, forma-valor, mais-valia, a relação entre a classe operária e a capitalista (4/12)
continua a ter utilidade e aplicabilidade como ferramenta de análise de relações de poder e em diagnosticar as causas dos atuais problemas da nossa sociedade. À direita tentarão sempre confundir a teoria com a prática, claro, precisamente porque é mais fácil berrar (5/12)
Venezuela ou 10 ou 100 ou 200 milhões de mortos (os números vão mudando) do que rebater a teoria económica/histórica marxista. Sendo que há imensos pensadores que foram para além de marx (e em várias direcções), daí ser parvo pintar tudo com o mesmo pincel (6/12)
Aquela corrente de pensamento com que mais me identifico de momento não se revê necessariamente no modelo que muitos países ditos socialistas/comunistas seguiram. Tal como isso não me impede de reconhecer os seus sucessos (de qualidade de vida, igualdade de género, (7/12)
feitos na ciência, nas artes, na literatura) não me impede de reconhecer as limitações, fracassos ou repudiar o autoritarismo, como lidavam com a oposição interna, etc, mesmo contextualizando a paranóia securitária com o sentimento que havia de perseguição e isolamento (8/12)
a estes países. Tal sentimento não justifica também o lado militarista, mas contextualiza-o. Se acreditarmos (há provas suficientes para isso) que estes regimes estiveram sob ataque e ameaça contínua desde a sua fundação, é possível, lá está, entender melhor as decisões. (9/12)
Dito isto, faz sentido defender estes regimes nos dias de hoje? Para mim não, apenas entendê-los no seu contexto e aprender com eles. A ideia de abolir classes e dar controlo colectivo dos meios de produção a todos ainda me parece a melhor maneira de atingir (10/12)
justiça e minimizar o sofrimento da maioria do mundo (além de salvar o planeta da catástrofe ambiental). Mas daqui até lá há um longo caminho a percorrer. Há trabalho dentro e fora do eleitoralismo e dentro e fora das nossas fronteiras. (11/12)
O comunismo é mau? Não. Estou disposto a ouvir as vossas opiniões, mas confesso que não terei muita paciência para berros de 100 milhões nem para negacionismos. (12/12)
