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Afinal, nosso governo pode ser considerado fascista?

Analisemos em 10 pontos...

Lá vai textão... 🧵
1. Uma característica muito associada ao fascismo é o culto a tradição. Ora, o discurso do secretário fala em "renascimento da arte e cultura no Brasil", trazendo ainda o elemento religioso ao falar em resgate das virtudes da fé e do autossacrifício.
2. O fascismo se apóia num tipo de "irracionalismo" que valoriza a ação pela ação. "A ação é bela em si, por isso deve ser realizada antes se e sem nenhuma reflexão". Daí a frase de Bolsonaro sobre as denúncias na Secom ser tão sintomática: se for ilegal, a gente vê lá na frente.
Nesse sentido, a cultura é sempre suspeita, visto que está identificada com atitudes críticas. Atribui-se a Goebbels a frase: quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola. Por isso, encontramos no léxico fascista expressões de crítica à intelectualidade e às universidades.
3. O fascismo não tolera divergência, ele prega a consenso, a padronização. Para tanto, ele nutre um medo à diferença. Os fascistas ou aspirantes a fascistam costumam apelar para o risco dos "intrusos". De tal modo, os fascistas são racistas ou xenófobos por definição.
4. O fascismo provém da frustração individual ou social. Historicamente, ele tem encontrado terreno na frustração da classe média, desvalorizada por alguma crise econômica ou humilhação política (conseguem vislumbrar isso na história recente do Brasil?).
No nosso tempo, o processo de uberização que transforma proletários em pseudoempreendedores acaba formando um novo auditório de potenciais adeptos de ideários fascistas.
5. O fascismo traz um escopo nacionalista. E quem fornece identidade à nação são os inimigos. Com isso, a retórica fascista insiste em inimigis externos: Cuba, Venezuela, Foro de São Paulo: e internos: petistas, comunistas, progressistas.
6. Os adeptos devem se sentir ameaçados pela força do inimigo. No Brasil, a força se expressa (conforme as denúncias de Olavo de Carvalho e do príncipe De Orleans e Bragança) na rede cultural que a esquerda arquitetou para divulgar seus valores.
Essa rede foi tecida tanto por meio de manifestações artísticas e culturais: teatro, cinema, literatura, música; tanto por meio da educação, impregnada de ideias de Paulo Freire. Seria isso o que os ideólogos da direita chamam de gramscismo cultural?
7. O fascismo não defende a luta pela vida, mas sim a vida para a luta. O pacifismo acaba sendo condenado, uma vez que se valoriza um estado de guerra permanente. Nesse ínterim, acabamos tendo um culto ao herói. O herói fascista persegue a morte, como recompensa à vida heróica.
Sua dedicação às vezes é tão marcante, que sua aspiração à morte acaba provocando com maior frequência a morte dos outros.
8. O peso do heroísmo é tão grande, que o fascista transfere a vontade de poder para as questões sexuais. Disso resulta o seu machismo, que implica tanto o desdém às mulheres quanto a condenação às orientações sexuais "não conformistas", da castidade à homossexualidade.
E o jogo do sexo acaba sendo tão difícil para os heróis fascistas, que não é incomum eles adotarem as armas como seus substitutos fálicos. "Os jogos de guerra se devem a uma invidia penis permanente". Tem muita gente fazendo arminha por aí?
9. Nos discursos fascistas, o líder surge como intérprete dos anseios do povo. Nesse caminho, os cidadãos perdem o poder de delegar. Com isso, a entidade monolítica "povo" se transforma numa peça de ficção. Nestes tempos, esse modelo de populismo age sobretudo pela internet.
Sempre que um político puser em xeque as instituições democráticas, entre as quais a justiça e o parlamento, haverá ali ao menos um cheiro de fascismo (quem se lembra de como seria fácil fechar o STF? Um soldado e um cabo, né?).
10. O fascismo normalmente se apóia num léxico pobre e numa sintaxe elementar. Há uma estratégia deliberada para limitar o raciocínio complexo e crítico. Isso explica o alcance de Bolsonaro (e o insucesso de Haddad) nas eleições, que adotou uma linguagem mais direta.
E, após as eleições, sua estratégia de se comunicar pelo twitter, com poucos caracteres e sua proposta de suavizar os livros didáticos.
Enfim, identificaram ao menos uma fumaça fascista?

(A inspiração e as citações diretas foram tomadas do livro Fascismo Eterno, de Humberto Eco).
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