ALVIM REVELOU O REAL OBJETIVO DO GOVERNO BOLSONARO
Siga o fio.
Em democracias não é aceitável que governos comandem guerras contra inimigos internos. Isso viola o Estado democrático de direito - forma encontrada pelos modernos para drogar o Leviatã.
Siga o fio.
Em democracias não é aceitável que governos comandem guerras contra inimigos internos. Isso viola o Estado democrático de direito - forma encontrada pelos modernos para drogar o Leviatã.
A guerra cultural de Bolsonaro e Alvim, a guerra bannonista e olavista contra um suposto "marxismo cultural" que estaria infectando e adoecendo a nossa sociedade, instrumentaliza o Estado-nação para combater sua própria gente.
Se isso acontece, não pode mais haver democracia, a não ser como rito formal. É simples. A democracia é um modo não-guerreiro de regulação de conflitos (ao contrário da guerra, que é a autocracia).
Os delírios nazistas de Alvim não surgiram do nada. Eles expressam uma visão que é majoritária no núcleo duro do governo. Foi por aderir a essa visão que Alvim foi nomeado e elogiado, na véspera de sua demissão, pelo presidente da República.
Ou seja, o aparelhamento ideológico da cultura não foi um mal-entendido, um erro, um descuido. Foi o resultado da aplicação de uma diretriz estratégica: usar o governo conquistado eleitoralmente para fazer guerra contra uma parte da sociedade.
É uma guerra da minoria (talvez de 10 a 20% dos 60 milhões que escolheram Bolsonaro), contra a maioria (uma porcentagem maior dos 90 milhões que não votaram nele). O objetivo dessa guerra é drenar a democracia do seu conteúdo liberal. Isso os democratas já sabíamos.
Mas o fato de Alvim ter feito essa besteira, de revelar prematuramente qual é o propósito real do governo, contribuiu para abrir ou olhos de alguns setores para o perigo que corremos.
Dentre esses setores destacam-se alguns jornalistas e analistas políticos que ainda estavam "dispostos a fechar os olhos para essa evidência em nome da política econômica" (como percebeu Vera Magalhães em artigo de hoje no Estadão).
Na cabeça dos empresários, entretanto, a ficha ainda não caiu.
A demissão de Alvim foi forçada pelas circunstâncias, mas nada mudou no olavobolsonarismo. Pelo contrário, predispôs ainda mais as minorias militantes que apoiam o governo a prosseguirem no caminho de autocratização da nossa democracia.
Significa que vai piorar, não melhorar. Vem mais guerra por aí, não menos.
Se essa situação for mantida, se o estado de guerra perdurar, se a guerra for o modo preferencial de regular os conflitos, nossos índices de direitos políticos e liberdades civis vão cair em todos os rankings internacionais de democracia.
Por isso é preciso parar Bolsonaro, antes que seja tarde. Mas isso boa parte dos agentes políticos ainda não viu. De quantas mais catástrofes como a de Roberto Alvim precisaremos para acordar?
