Thread by @augustodefranco

A corrupção de Lula e a de Bolsonaro

O principal problema da corrupção do PT não foi a praticada por razões usuais e sim aquela feita com motivos de poder: a via que Ferreira Gullar batizou de "a revolução pela corrupção".

Siga o fio.

Na época, quase ninguém entendeu isso. Agora, em compensação, continua não entendendo.

Sim, alguns chefes petistas, como Lula e Dirceu, praticaram os dois tipos de corrupção. Mas foram condenados apenas pelo primeiro tipo.

Ou seja, até hoje quase ninguém entende que essa corrupção petista de novo tipo pode até ser praticada por pessoas individualmente honestas.

Aliás, a maioria das pessoas que estão no núcleo duro do PT, não praticou ações para enriquecer pessoalmente e sim para aplicar uma estratégia que exigia o financiamento ilegal (posto que o legal não seria possível) de um Estado paralelo.

E tanto é assim que a maioria dessas pessoas - inclusive sem mandato - jamais foi incomodada pela polícia, pelo ministério público ou pelo judiciário. E não foi porque, formalmente, não havia (e ainda não há) leis para tipificar e punir esse tipo de crime contra a democracia.

Esse erro de análise, induzido pelo PT, que queria esconder sua corrupção inédita, estratégica, coordenada pela primeira vez nacionalmente, para dizer que "o PT só fez o que todo mundo faz" (o truque Bastos-Malheiros).

Mas isso permitiu também que surgisse um combate antipolítico à corrupção, que explorou o moralismo popular, colocando os crimes comuns praticados por organizações de políticos na mesma categoria dos crimes praticados por organizações políticas.

É mais ou menos como condenar Péricles, principal expoente da democracia ateniense, porque se envolveu em corrupção normal (desviando - é uma suspeita - dinheiro da restauração do Partenon)...

... e absolver Crítias (discípulo dileto de Sócrates que, via Lisandro, honestíssimo autocrata espartano, conseguiu financiamento para desferir um golpe sangrento contra a democracia ateniense em 404 a.C.).

Esse erro permitiu também que tarados conspiracionistas, como Olavo de Carvalho e a família do capitão, vendessem a ideia de que todo esquerdista é corrupto e vice-versa.

Assim, a família Bolsonaro, envolvida desde sempre com a pequena corrupção do primeiro tipo (para enriquecer), ficou protegida contra qualquer acusação, posto que, se era anticomunista, não podia ser corrupta.

O lavajatismo, por sua vez, despolitizado e analfabeto democrático, nadou de braçada na confusão escolhendo alguns ícones mega-corruptos e promovendo uma campanha midiática com fins claramente políticos, para dizer que estava fazendo uma limpeza no sistema político.

O que deu margem para o surgimento de uma sanha jacobina, restauracionista, contra o velho sistema (e contra a política), contribuindo, objetivamente, para a eleição do "único candidato honesto" (Jair Bolsonaro).

Posso argumentar extensamente sobre cada uma das afirmações acima. Mas creio que seria malhar em ferro frio.