A denúncia do MPF contra o Glenn é um caso muito grave de abuso de poder e de tentativa de intimidação com violação de direitos fundamentais. As acusações são de que Glenn “auxiliou, incentivou e orientou”, além de ter sido “garantidor do grupo”. Nenhuma se sustenta. 
Vejam que na denúncia, o Procurador coloca jornalista entre aspas, como se Glenn, de fato, não fosse um (ele é). Prossegue para dizer que parte da conduta criminosa seria ter mantido contato com os agentes enquanto eles continuavam praticando crimes (o que não é crime).
Tudo isso se baseia num áudio, transcrito na denúncia, que simplesmente não demonstra - muito pelo contrário - a prática de qualquer crime. Vejam que o Procurador destaca diversos pontos em vermelho. Para ele, esses são os trechos que comprovariam o “crime” do Glenn.
O problema é que em nenhuma interpretação isso é crime. Um dos pontos discutidos entre Glenn e o hacker refere-se i) notícias de outros hackeando que não tinham relação com aquele; ii) insistência do Glenn em deixar claro que recebeu as informações *antes* desses fatos.
O Procurador parece tratar isso como se fosse uma orientação de defesa. Mas i) é verdade que foram recebidos antes; ii) Glenn estava fazendo o óbvio para registrar que *não participou do hackeamento* (e, de fato, não participou).
Novamente aqui, além de não haver orientação, há mais uma vez a tentativa de preservar o veículo que está com a informação ([...] ele não sabe quem tem).
E notem que um dos pontos que divulgaram - a questão do download das mensagens - não comprova nada. A questão colocada pelo hacker era sobre fazer o download de informações de outras pessoas (portanto, de baixar o material que ainda não havia sido baixado).
O mais impressionante é que o próprio Procurador admite que Glenn *NÃO* deu o alegado incentivo. Que agiu com cautela. Na sua narrativa, no entanto, isso, ao invés de comprovar que não é crime, reforça sua convicção.
Em outro ponto suposta sensível, Glenn reforça que já salvou as informações encaminhadas e que precisava resguardá-las (afinal, era sua informação). Acrescenta que não vê sentido no hacker mantê-la, justamente para evitar a violação da fonte.
O mais importante contudo é que no trecho citado pelo próprio procurador Glenn diz que isso é “ESCOLHA” do Hacker. Não há incentivo, não há orientação. Há apenas um jornalista preservando sua própria atuação e sua fonte.
Novamente, trechos em vermelhos para parecer que são graves, mas não dizem o que o Procurador quer que diga. Eles vão falar que receberam os documentos antes do artigo porque, vejam só, de fato receberam antes dos artigos.
A conclusão do procurador beira o absurdo. O crime é ter relação próxima com fonte que praticou crime. Como algum jornalista vai investigar algo sem ter relação próxima com fontes, mesmo aquelas que praticaram - sem participação do jornalista - algum crime?
É tudo muito grave. A denúncia não para em pé. Pelo entendimento do procuradora, simplesmente não há mais jornalismo investigativo no Brasil. Que isso seja feito por um servidor de um dos mais importantes órgãos do país e encontre quem o aplauda é um sinal sombrio dos tempos.
