Desrespeito às instituições e uso dos filhos para criação de um projeto de poder não são exclusividades de @jairbolsonaro. Ao compartilhar vídeo sugerindo um autogolpe, ele se aproxima de outro líder autoritário latino: o peruano Alberto Fujimori. Acompanhe no fio do @girolatino
Assim como Bolsonaro, Fujimori sedimentou sua ascensão no populismo, prometendo combater a corrupção, a estagnação econômica e o avanço da criminalidade e do narcotráfico. Com popularidade meteórica, ‘El Chino’ venceu o escritor Vargas Llosa nas eleições de 1990. 
No 2º ano no poder, sentindo-se ameaçado por parlamentares que o impediam de comandar sem amarras e prometiam investigar um esquema de corrupção envolvendo seus familiares, Fujimori, com a ajuda de militares, dissolveu o Congresso, a Suprema Corte e rasgou a Constituição.
No domingo de 5 de abril de 1992, em rede nacional Fujimori classifica o autogolpe como “uma mudança de rumo que vai ao encontro da vontade do povo peruano”. Assim como no vídeo compartilhado por Bolsonaro, o peruano promete esperança de dias melhores.
“Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo”. A frase poderia estar no discurso fujimorista, mas foi dita por Bolsonaro, no programa Câmera Aberta, da TV Bandeirantes, em 1999.
O discurso oportunista anti-esquerda também aproxima os dois líderes. Se Fujimori fazia ataques generalizados à esquerda por conta da violência da guerrilha Sendero Luminoso, Bolsonaro criou uma ideia de “terrorismo” que não existe.
O próprio vídeo compartilhado pelo presidente classifica a esquerda como “sanguinária” e não é difícil achar um post em que Bolsonaro e seus filhos chamam toda e qualquer esquerda de ditatorial e terrorista, com menções sem sentido ao trabalho do inexpressivo Foro de São Paulo.
Por falar em filhocracia, esse é outro ponto que aproxima os dois líderes. Com saúde frágil e preso por crimes contra os direitos humanos, Fujimori está fora do jogo. Mas deixou legados: seus filhos Keiko e Kenji, ambos congressistas, mas com papéis diferentes na política local.
Kenji, suspenso do Congresso e à espera de investigação por corrupção, é figura dos bastidores. Já Keiko, que foi candidata à presidência e hj lidera a oposição, segue à risca os caminhos do pai: discurso duro contra o crime e conservadorismo. Está presa e aguarda julgamento.
Além de dar sobrevida ao sobrenome se amparando nos filhos como Bolsonaro, El Chino corroeu as instituições: desde o fim da ditadura, todos os presidentes peruanos estão presos ou na mira da Justiça, alguns alvos de uma lava jato igualmente controversa. theintercept.com/2019/11/03/lav…
Em 2019, o presidente Martín Vizcarra - único pós-Fujimori ainda livre de investigações - fechou o Congresso (constitucionalmente) contra os mesmos fujimoristas. O sobrenome de origem japonesa sobrevive há 30 anos, algo que Bolsonaro quer repetir com seus filhos.
Em “Como as democracias morrem”, o professor de Harvard Steven Levistky usa o caso de Fujimori no Peru como exemplo um populista no poder instala uma crise institucional entre os poderes. Qualquer semelhança com @jairbolsonaro não é mera coincidência, segundo Levistky.
