Esta semana publicaram um artigo argumentando (erroneamente) que o coronavírus tinha se separado em duas linhagens e uma delas é mais agressiva (academic.oup.com/nsr/advance-ar…). Estranhei ninguém que estuda a evolução do vírus ter falado disso antes e fiz bem em esperar. Segue o fio.
Olhar só para o vírus sem levar em conta a epidemia pode gerar enganos. Por exemplo, se o vírus entra em uma nova região como a Coréia do Sul e se espalha mais por lá, vou ver mais pontos de coleta de lá.
E olhando só para o número de amostras, posso achar que o vírus é mais agressivo, porque tenho bem mais pontos de um mesmo grupo. Quando na verdade é só porque ele se espalhou por uma área nova. Só posso falar que um grupo se espalha mais se estão em região comparável.
Também não levaram em conta que o vírus muda com o tempo até por acaso e quanto mais tempo entre uma amostra e outra, mais diferente ele vai ser por puro acaso. Nem levaram em conta os erros que os experimentos geram nos dados. Normal para um grupo sem experiência na área.
Aí o pessoal que tem mais experiência analisou, criticou e publicou este artigo sugerindo retratar (tirar do ar, apagar) a análise anterior e mostrando que não tem duas linhagens, nem diferença de "agressividade": virological.org/t/response-to-…
Recomendo o mesmo ceticismo para resultados futuros. Vale esperar confirmação para novos achados, especialmente quando contrariam o que sabemos ou afirmam algo importante ou perigoso. Ainda mais quando estamos navegando em território desconhecido como com a COVID-19 ;)
