Como dá para acertar casos de coronavírus ignorados nos EUA ou Irã enquanto não dá para responder sobre o risco para cachorros ou algum grupo? E pq não respondo muitas perguntas aqui? Segue um fio sobre conhecimento científico (e as minhas limitações).
Tem um podcast sobre virologia excelente que acompanhei muito no doutorado (microbe.tv/twiv/) e voltei a acompanhar agora por conta da COVID-19. Quem apresenta é o @profvrr com outros virologistas com décadas de experiência que fazem pesquisa direta na área.
Mesmo com algumas das pessoas mais capacitadas do mundo pra falar sobre coronavírus, o que você mais vai ouvir nos episódios recentes é "não sabemos, ainda não é claro, não dá para concluir". Porque é isso, muito do coronavírus não se sabe. Tento seguir esse exemplo.
Para várias perguntas, como prevenção, lavar as mãos, álcool gel e afins, temos os dados da SARS ou da gripe regular e extrapolamos a partir deles que foram bem estudados. Se lavar as mãos protege de gripe, o coronavírus que é transmitido da mesma forma deve ser barrado também.
Tem experimentos e mais experimentos testando o que funciona ou não para prevenir a gripe. E como são próximos, podemos extrapolar com um certo conforto. Para outras coisas, nem sempre a extrapolação funciona ou é indicada. A COVID mata bem menos do que a SARS, por exemplo.
O mesmo vale para números oficiais. "Atila, você acredita nesse número de casos do país x ou y?" A princípio, é o que temos e não tem o que fazer. Não fazer isso seria especulação. Só em alguns casos que temos dados que permitem uma extrapolação mais segura.
Por exemplo, o Irã no começo reportou várias mortes e poucos casos diagnosticados. Com base em +70 mil casos fora, já sabíamos que o vírus não mata tanto. É bem razoável extrapolar que estavam perdendo casos mais leves. O mesmo vale pros EUA agora, o número de mortos não bate.
E o mesmo vale para sintomas. O relatório do CDC Chinês fala de risco mais alto para diabéticos (sem controle), hipertensos e pessoas com problemas cardíacos e respiratórios. E alguém com lúpus? Não sabemos. E alguém com sinusite? Para as outras condições todas, não sabemos.
O que é razoável extrapolar é o que já sabemos de antemão. Imunodeprimidos ou imunossuprimidos (transplantados, por exemplo) têm menos imunidade para conter um vírus. É razoável se esperar que tenham mais complicações. Mas ainda não temos números nem pra confirmar isso.
E ainda tem a área de competência. A minha é estudar os vírus. Consigo ir um pouco para saúde, por ser algo próximo da biologia que tanto estudei. Mas evito discutir sintomas ou o próprio processo do vírus no corpo para não dar a entender que é algo que domino.
Menos ainda se for para falar de política ou economia. Sei extrapolar tanto quanto qualquer um. No máximo estou um pouco mais informado sobre como algumas dessas coisas funcionam. Mas não quer dizer que devo ser ouvido ou que vou dar a resposta mais certa.
Por coincidência acabei de escrever isso aqui, que explica pq não sei responder sua pergunta:
