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Como ando falando muito sobre ser tradutora, profissão que ocupa a maior parte do meu tempo/rende a maior parte da minha renda nesse momento, muita gente vem me procurando pra saber por onde começar. Tô no ônibus e resolvi fazer um fio sobre isso. Here we go! (Tradução: Boralá!)
Antes, o aviso de costume: essa é a minha experiência. Não é o único caminho correto, tampouco é um caminho que vai dar certo pra absolutamente todo mundo — como tudo na vida, meu caminho envolveu acaso, sorte e privilégios. Mas vou focar mais no que está sob nosso controle.
✨ É preciso estudar pra ser tradutor. Falar bem inglês e gostar de livros não basta. Falar bem inglês, gostar de livros e ter um bom domínio do português é um ótimo começo, com ênfase no último tópico. Mas, ainda assim, é preciso estudar tradução.
✨ Não acho que você precisa fazer graduação e pós-graduação em tradução pra traduzir a maioria dos textos literários — embora, em alguns casos, isso possa ser necessário sim. Mas é preciso saber pelo menos o básico dos conceitos/correntes de tradução.
✨ Porque traduzir NUNCA será só transformar um texto em um idioma em outro. Isso o Google Tradutor faz. O tradutor precisa pensar, interpretar, pesquisar, sentir as nuances da língua de partida e ter bagagem suficiente pra encontrar uma nuance similar na língua de chegada.
✨ Eu ainda não me sinto segura pra dar palestrinhas técnicas, mas um dia posso fazer um fio sobre coisas que aprendi com a minha experiência. Mas de antemão digo que ajuda muito ler/assistir conteúdo sobre tradução. Pra quem gosta, é uma delicia inclusive. Enfim:
✨ Eu fiz 1 curso de extensão no Instituto de Estudo de Linguagens da Unicamp, 2 cursos longos de tradução na @LabPub_EAD (um de formação, um real job), 1 curso de preparação de texto na Universidade do Livro, e cursos menores em locais como a Casa Guilherme de Almeida.
✨ Também assisti 3 dias de conteúdo foda no Congresso da Abrates (Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes) 2017 e fiz 1 curso de tradução pra legendagem. Além disso, já tinha vários cursos de escrita criativa e roteiro, além de experiência escrevendo/editando ficção.
✨ Além de abrir os olhos pra muita coisa que um leigo em tradução ignora, esses cursos todos me trouxeram uma coisa valiosíssima: CONTATOS. Com outros colegas tradutores, com colegas preparadores, com potenciais clientes, com pessoas que posso seguir e acompanhar experiências.
✨ Vale dizer aqui que eu já tinha muitos contatos no meio editorial por causa da escrita, do @curtaficcao e da @mafagaforevista, mas nunca consegui trabalho direto com pessoas que conheço (amigos, isso não foi um cutucão, mas se quiserem me dar trabalho eu quero 😂).
✨ Digo isso porque pode parecer desanimador pensar que você só entra nessa área se for “da panelinha”. É uma grande mentira. Todos os meus trabalhos até hoje foram com pessoas cujo primeiro contato comigo foi justamente via o trabalho em questão.
✨ Tá, mas então como consegui trabalho? Foi basicamente por 4 caminhos: a) indicação/contatos (calma que juro que isso não vai contradizer o que acabei de falar); b) portfólio; c) testes de tradução e d) curiosidade. PLUS: trabalhei direito e nunca atrasei (já volto nisso).
✨ Então vamos lá: consegui meu primeiro frila de tradução via a) indicação/contatos. Especificamente: em um dos cursos mencionados acima, fiz todos os exercícios e conversei muito com meus colegas de curso, sempre comentando como gosto de fantasia e ficção científica.
✨ Uma das tradutoras — que eu sequer conhecia antes do curso, hein? — recebeu convite pra um frila que não poderia aceitar, daí lembrou dos meus exercícios (que eram bem-feitinhos) e do meu gosto por fantasia e ficção científica e resolveu me indicar.
✨ Nunca mais parei de pegar trabalho nessa editora. Uma porque acho que trabalhei direito, mas também porque nunca atrasei uma entrega. ATENÇÃO com isso. Sei que a vida acontece, mas na pior das hipóteses tente avisar com o MÁXIMO de antecedência que você vai atrasar.
✨ Há muitas pessoas envolvidas no trabalho com um texto e o tradutor é a primeira delas. Atrasar significa tirar tempo de etapas PRECIOSÍSSIMAS do tratamento do seu texto, a saber: preparação e revisão. Avisar de última hora que vai atrasar muito impacta diretamente nisso.
(Vou postar os fios que já escrevi até agora pra não perder nada e já continuo, aguentem firme!)
✨ Tá, agora vou contar exemplos de como consegui outros trabalhos com base nos caminhos que enumerei lá em cima. Pelo caminho b) (portfólio), peguei o Tome of Beasts porque um editor (que também não me conhecia) leu os D&D que traduzi, curtiu e um amigo em comum nos apresentou.
✨ O caminho c) (testes de tradução) exige mais atenção porque ele é, talvez, o caminhos mais correto e efetivo de todos. Basicamente é assim: editoras testam novos tradutores. E fazem isso pedindo que os tradutores... traduzam. Há testes específicos e outros gerais.
✨ Nos testes específicos, as editoras mandam pra vários tradutores uma amostra de um livro a ser traduzido e escolhem a tradução que acham mais adequada. Aí o tradutor é contratado pra fazer aquele livro específico (e se mandar bem entra na lista de tradutores da editora).
✨ Nos testes gerais, a editora manda uma amostra de um livro qualquer (às vezes até já traduzido) e, em vez de escolher o teste mais adequado, selecionam os que foram bem, que entram na base de tradutores da editora. Em oportunidades futuras, mandam trabalho pra essa pessoa.
✨ “Tá, Jana, mas onde me inscrevo pra saber quando as editoras tão oferecendo testes?” Pois então, você não se inscreve. Você tem três opções: 1) seguir editores/editoras que você gosta e ficar de olho quando eles EVENTUALMENTE postarem a respeito de testes (acontece bem);
✨ 2) Ter amigos/colegas tradutores que podem te avisar quando souberem de um teste (olha aí a importância de contatos entre pares) ou 3) PEDIR testes de tradução. Que é justamente isso mesmo: você vai e fala “Ow, dona editora, tem um teste de tradução dando sopa aí?”
✨ Zoeiras à parte, pedir teste de tradução do jeito certo e educado não é inconveniente, não é estranho, não é abusado. É o costume nesse meio, além de ser um sinal de que você sabe mais ou menos como o mercado funciona. Segura na mão da Jana que vou contar como faz.
✨ Basicamente, você vai precisar de: 1) um curriculum. Nesse CV você vai listar todos os cursos de tradução, escrita, roteiro e afins que fez (aqui entra a importância da formação também), eventos/congressos a que foi e... trabalhos de tradução que já fez/está fazendo.
✨ “Ah, LÁ VAI o ciclo sem fim de não consigo tradução porque não tenho experiencia, não consigo experiência porque não consigo tradução”. Errado, expensive grasshopper! (Tradução: caro gafanhoto! [essa tradução contém zoeira]). Primeiro porque você será testado, certo?
✨ Então um bom teste pode muito bem passar por cima da sua falta de experiência, até porque todo mundo precisa começar de algum lugar. E segundo que você pode muito bem conseguir experiência pregressa fazendo coisas que não dependem mais de muita gente.
✨ Um exemplo é uma tradução voluntária. Há alguns projetos que procuram tradutores voluntários de conteúdo que é disponibilizado de graça — se esse não for o caso, NÃO ME VÁ trabalhar de graça só pra conseguir experiência, hein?
✨ Outro exemplo é você traduzir por conta própria conteúdo que está em domínio público e publicar no Medium, Wattpad, sites. Procure conteúdos (curtos, até) que você curte e que não tem mais direitos autorais e use como experiência e construção de portfólio.
✨ Uma última ideia é entrar em contato com produtores de conteúdo em inglês e pedir autorização pra traduzir o conteúdo e publicar de graça em português. Leu um texto com dicas legais de algum assunto que você curte na internet? Pergunta pro autor se pode traduzir e publicar.
(Outra pausa pra postar o que já escrevi. Estou chegando em São Paulo, então se der uma demorada pra continuar é porque tô na rua ou no metrô. Mas ainda tem muita coisa pra falar! Enquanto isso, se achar legal dá aquele RT pra chegar em gente que quer ser tradutora! ♥️)
✨ Ok, Jana, você disse que eu precisava de duas coisas. 1) CV, e o 2)? Boralá intensifies: você precisa de um e-mail legal pra mandar pras editoras com as quais você quer trabalhar (e aqui eu sugiro incluir editoras de conteúdo que você curta de verdade).
✨ Esse e-mail é uma variação qualquer dessa mensagem: “Cara editora, estou começando agora a trabalhar com tradução e gostaria de saber se poderia fazer um teste de tradução com vocês quando possível. Segue em anexo o meu CV”.
✨ Se você estiver mandando essa mensagem pra um e-mail contato@editoraX.com.br ou pra uma pessoa que você conhece mas sabe que não é responsável pela área editorial da editora, é melhor mandar um e-mail explicando que você quer um teste, mas perguntando com quem pode falar.
✨ Você também pode acrescentar um parágrafo no e-mail explicando porque escolheu aquela editora. Com sinceridade. Gosta dos livros/autores que a editora publica? Lê todos? Comente sem medo! Só não seja puxa-saco e nem minta. É só ter bom senso.
✨ (Isso não é necessário, até porque você pode muito bem começar traduzindo coisas que não são exatamente seu conteúdo preferido. Muito mais legal traduzir o que a gente ama, mas nem sempre isso é possível e os boletos chegam. Mas como disse, é só não mentir.)
✨ Nessa fase, você tem que ser paciente. Vai ter editora que vai te ignorar. Outra vão responder “mando teste sim!” e nunca vai mandar. Outras vão mandar, você vai fazer e ela nunca vai te responder. Ou que vai dizer que você foi bem e demorar pra te mandar frila, ou nem mandar.
✨ Mas acredite: vai ter editora que vai te dar trabalho. Eu mesma traduzi um livro super legal (que ainda não saiu) depois de fazer um teste. Também fui bem num teste de uma editora que eu adoro; ainda não me mandaram nada, mas estou feliz porque há essa possibilidade.
✨ Ah, teve um livro que traduzi porque pedi um teste, a editora não mandou (me ignorou mesmo hahaha), mas depois uma editora preparou um texto que eu traduzi, curtiu a tradução e me deu um frila considerando a tradução que ela já tinha lido como teste!
✨ Por fim, há o caminho d) curiosidade. Esse é o caminho que mais envolveu sorte e acaso, mas acho legal mencionar porque tradutor precisa ser curioso, e nesse caso a curiosidade não só me ajudou na tradução como também me colocou dentro de outro cliente.
✨ Basicamente, tive dúvidas de tradução de um conteúdo cuja franquia tinha outra traduções no Brasil. Fucei a internet atrás de quem pudesse me ajudar. Fui cara de pau, ela me ajudou... e no ainda soube que eu existo e que sou tradutora. E aí me chamou pra traduzir também. ♥️
✨ E com isso, aaaaachoooo que é o geralzão que posso falar nesse momento sobre como comecei e continuei fazendo frilas incríveis de tradução. Depois um colega de curso abriu uma editora e me chamou pra traduzir pra ele (também lembrando dos meus exercícios), e assim por diante.
✨ Depois que você cria um portfólio legal e uma fama de prestador que não atrasa e trabalha direitinho, fica muito mais fácil. Qualquer falta de trampo vai ser reflexo do mercado ruim, mas aí acho que não tem muito o que fazer. Aliás, outra dica:
✨ Sempre que possível, tente variar o portfólio no começo. Acho que a tendência é a longo prazo você encontrar seu ramo/nicho, algo que você traduz melhor e é foda, mas no começo nem tem muito como saber que bicho é esse sem experimentar. Experimente sempre que der.
✨ Eu já traduzi RPG, prosa adulta, prosa young adult, prosa middle grade, quadrinho de ficção, quadrinho de não-ficção e jogo de tabuleiro. Também fiz portfólio tanto traduzindo do inglês quanto do espanhol. E pra minha alegria, quase tudo fantasia e ficção científica, meus ♥️.
✨ ENFIM. Eu poderia expandir esse fio falando de como é ser frila/MEI/ME, como é trabalhar de home office, e até mesmo as principais questões técnicas da tradução que aprendi com a minha experiência. Mas acho melhor fazer isso em outros fios mais pra frente?
✨ Enquanto isso, sigam ET Bilu e BUSQUEM CONHECIMENTO. Vai na ficha do livro que você leu/amou e vê quem traduziu. Procura essa pessoa no Twitter e segue ela. Vê se ela já fez vídeos/escreveu sobre/deu entrevistas sobre tradução — no caso de grandes projetos, é certeza.
✨ Já comece a ser curioso já. Enquanto não consegue pagar por cursos, procure canais e textos sobre tradução e escrita. Leia livros sobre tradução e escrita. Fuce, fuce, fuce! Procure o original de trechos traduzidos que te deixam com curiosidade.
✨Isso, além de tudo, é divertido demais pra quem curte o tema. Eu absorvo furiosamente qualquer coisa sobre tradução que vejo. Aproveite o fato que muito provavelmente (espero hahaha) você lê em outros idiomas. Go that go! (Tradução: vai que vai! Hahahaha...)
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