Ecologia do Revisionismo Histórico: por que analistas conservadores mentem para dizer que a "Ku Klux Klan é de esquerda"? por @carapanarana
No dia 24 de fevereiro de 2016, David Duke, antigo Grão-Mestre da KKK anunciou em seu programa de rádio que ele apoiava a candidatura de Donald Trump à presidência e que trabalharia por ela. Já havia defendido Trump em Setembro de 2015.
Trump foi entrevistado por Jake Tapper na CNN, no dia 29 de fevereiro. Quando indagado sobre o endosso por David Duke ele respondeu: "não sei nada sobre nenhum David Duke, nem sobre supremacistas brancos".
Mais que não ser capaz de recusar publicamente o apoio de David Duke ou da Ku Klux Klan, Trump jogou muito bem um jogo que agora já é familiar: a ambiguidade no tratamento de organizações racistas. "Vou ter que ver de qual organização você fala".
Muitos Republicanos e conservadores que se opunham à sua candidatura aproveitaram esse momento para mostrar a diferença entre como Trump e outros Republicanos reagiram publicamente ao endosso formal da KKK e outras organizações do tipo.
Reagan reagiu categoricamente em 1984: "As políticas de ódio racial e preconceito religioso praticadas pela Klan e outros não têm lugar nesse país, são destruidoras dos valores os quais a América sempre defendeu." nytimes.com/1984/05/02/us/… 
Antes de Reagan, Barry Goldwater e Richard Nixon também rejeitaram o apoio da KKK. Goldwater se opunha ao Civil Rights Act de 1964 e o fim da segregação em nível federal. Como vocês podem ler abaixo, outros Republicanos achavam que Goldwater deveria aceitar o endosso da KKK.
Jeffrey Lord, um dos analistas pró-Trump da CNN, logo tratou de colocar um boato em movimento para defender o candidato Republicano. O boato? A afirmação absurda de que a Ku Klux Klan seria uma "organização de esquerda".
Rush Limbaugh e vários outros "conservadores" logo embarcaram na afirmação absurda de Jeffrey Lord. Mas ninguém conseguiu explicar porque tanto simbolismo, meios e pessoas associadas à Klan começavam a se declarar favoráveis à campanha de Trump.
Mas o que é a Ku Klux Klan? Por que ela endossou candidatos Republicanos nessas três ocasiões? E por que ela apoiava os Democratas do Sul antes? Para entender isso é necessário fazer uma "breve história dos partidos políticos nos EUA".
Antes cabe reconhecer que o tipo de torção da realidade praticado por Lord e Limbaugh se tornou comum na política norte-americana: revisionismo histórico usando meias-verdades ou nenhuma verdade, para dizer que "a direita nunca pode ser autoritária ou violenta" apenas a esquerda.
Prometendo "a verdade escondida pelos "esquerdistas" (ou globalistas, ou SJWs) comentadores conservadores como Jonah Goldberg, Pat Buchanan e Dinesh d'Souza, se encontram no esforço de produzir uma "realidade histórica PARALELA" adequada às suas narrativas. Soa familiar? Deveria.
Vamos aos fatos. Durante o século XIX, os Democratas emergiram de uma facção de anti-federalistas, pró-Escravidão do antigo partido Democrata-Republicano. Andrew Jackson é considerado seu fundador espiritual, conseguindo tirar seus rivais políticos do partido.
Os Democratas logo se tornaram a força política dominante nos EUA naquela época. Foram desafiados pelos Partido Whig (fundado em parte pelos antigos Democrata-Republicanos inimigos de Jackson). E depois pelo Partido que nasceria a partir da derrocada do Whig: o Republicano.
O partido Whig colapsou porque seus membros não conseguiam chegar a um acordo sobre a expansão da escravidão para os Estados do Oeste. O nascente partido Republicano tinha outra cara: urbano, anti-escravidão, nascido para combater a expansão de poder da elite agrária sulista.
Os Republicanos crescem rapidamente como força política. Lincoln vence a eleições de 1860. A Guerra da Secessão se segue, com Unionistas dizendo que lutavam pela "lealdade à Constituição" e Confederados defendendo o "direito dos Estados" de expandir a escravidão.
Os Confederados perdem a guerra. A 13a Emenda à Constituição é assinada, abolindo a escravidão. A primeira Ku Klux Klan é formada logo após o fim da Guerra, num período chamado de Reconstrução. Seu propósito era o uso da violência extrema para manter os libertos sem direitos.
A segunda KKK vem nos anos 1920, quando um grupo reconstitui a idéia a Klan a partir do filme "The Birth of a Nation", homenagem à 1a KKK. Outro evento foi o linchamento público de Leo Frank, judeu supervisor de fabrica acusado injustamente de assassinato, na Atlanta de 1915.
Essa segunda KKK foi de longe a mais influente. Gozando de respeitabilidade na política institucional. Era uma organização anti-imigração, e anti-semita e anti-católica (religiões dos imigrantes), que defendia "americanos de puro sangue protegidos da poluição racial" (eugenia).
A Klan dessa era tinha um apelo mais popular dada a quantidade propaganda anti-imigração que circulava na mídia da época. Os imigrantes eram frequentemente associados à desordem, crime, socialismo e ao terrorismo (em qual campanha vimos isso?).
A associação da 2a KKK com os Democratas começou a ruir a em 1928, quando Joseph Smith venceu as primárias. Smith perdeu a eleição para Hoover, mas sua coalizão contava com judeus, católicos e mulheres, que mais tarde seriam muito importantes para a campanha de Theodore Roosevelt
A Klan perde muita influência durante os anos do New Deal de Roosevelt. Ainda, ele hesitou em pautas anti-racismo por medo do impacto eleitoral no Sul. Sua esposa, Eleanor, fez uma campanha anti-linchamentos mas ele não apoiou uma proposta legislativa de 1938 sobre o assunto.
