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Rob Gordon @robgordon_sp
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Um atentado influenciar uma eleição já aconteceu algumas vezes aqui. Mas a história mais bizarra é do assassinato de João Pessoa, que é quase um faroeste caboclo que mudou a história do país.
Vamos falar dessa história aqui. Tudo rolou em 1930, quando o Brasil vivia a política do café com leite, que era um esquema bem do pilantra para políticos de MG e SP se alternarem no poder.
Funcionava assim: o presidente era paulista. Aí, na eleição seguinte, ele apoiava o candidato de Minas, fazendo o cara ter muitos votos. Esse cara ganhava e, na eleição seguinte, apoiava o candidato de SP. Esse rodízio durou uns vinte anos.
Só que, na eleição de 1930, o presidente Washington Luiz furou o esquema. Em vez de apoiar um mineiro, resolveu apoiar outro paulista, Júlio Prestes. Aí a parceria começou a fazer água.
Os mineiros ficaram emputecidos e decidiram apoiar o candidato gaúcho, um tal de Getúlio Vargas (que tinha sido ministro do Washington Luiz). Aí o Brasil rachou de vez e começou a pegar fogo.
E onde João Pessoa entra nisso? Bom, ele era presidente da Paraíba (hoje seria governador) e também não apoiou os paulistas, num lance que está eternizado na bandeira da Paraíba. Sim, caso você nunca tinha pensado a respeito, a palavra “nego” da bandeira vem do verbo “negar”.
Então, RS, PB e MG formaram um lance chamado Aliança Liberal, com Vargas candidato a presidente e João Pessoa (que era sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa) como vice.
Mas ele não era um cara fácil e tinha vários inimigos na Paraíba. O pior deles era um jornalista chamado João Dantas. Pessoa atacava Dantas no jornal oficial do governo (A União, que ainda existe) e Dantas contra-atacava no jornal em que trabalhava.
Um dia, João Pessoa, de saco cheio, mandou a polícia invadir o escritório de Dantas e encontrar algum podre do cara. Os soldados encontraram cartas de amor entre Dantas e a professora Anaíde Beiriz (que não era muito bem vista pelas suas ideias progressistas).
E aí João Pessoa decidiu fazer terrorismo com essas cartas. Cada dia, publicava um trecho (particularmente safado) no jornal, apontando o quanto aquilo era imoral e blá-blá-blá. Ou seja, virou barraco.
João Dantas não teve saída: arrumou as malas e, jurando João Pessoa de morte, se mandou para Olinda. E João Pessoa? Decidiu fazer uma viagem oficial para Pernambuco, para ver se Dantas era macho mesmo.
Claro que deu merda. João Pessoa estava numa confeitaria em Pernambuco quando Dantas apareceu com uma arma na mão e mandou dois tiros no governador da Paraíba.
Quando isso aconteceu, as eleições já tinham rolado e Vargas tinha tomado uma surra. Mas a morte de João Pessoa virou o jogo, porque a galera da Aliança Liberal começou a gritar que o crime era político e incendiou o país.
O resultado? Explodiu a revolução de 30. Washington Luiz foi deposto e Julio Prestes, que ganhou a eleição, nem assumiu. Quem assumiu o poder foi Vargas, no primeiro dos 519 golpes de estado que ele deu na vida.
E, claro, quem se deu mal foi João Dantas. Preso, foi morto pelo pessoal da revolução – mas a versão oficial diz que foi suicídio. Sua amante, Anaíde, se matou dias depois e foi enterrada como indigente.
(tem imagem do corpo de Dantas no Google, para quem quiser)
Epílogo: Vargas governou até 1945 e depois voltou à presidência (dessa vez, eleito) em 1951, até se suicidar, em agosto de 1954, “saindo da vida para entrar na história”.
O interessante é que o estopim da crise de 54 foi a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda orquestrada pelo chefe da guarda pessoal de Getúlio. Mas isso é outro atentado. E outra história.
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