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1 - Bons articulistas estão colocando sua reputação em xeque por bobagem. Julgam defender um realismo político que na verdade é falso. Porque ignoram a natureza de coalizões em democracias normais. E fingem que vivemos numa, quando isso não é verdade em inúmeros aspectos.
2 - Coalizões existem em democracias saudáveis. Não há problema em dividir ministérios para garantir governabilidade. Porém, o fim da coalizão não é dividir cargo. Cargo é meio. O fim é a agenda. Partidos normais se inserem num governo negociando suas agendas e do seu eleitorado.
3 - O problema é que todo mundo já entendeu que não é isso o que se trata no Centrão. A agenda do Centrão é a rapina, o dinheiro, o esquema. O que se quer são fatias do orçamento. Grana para sustentar campanhas de candidatos fisiológicos, que não tem ideais, nem projeto de país.
4- Nesse jogo, fatiar ministérios agora é para a votação de hoje. Aumentá-los é para a de amanhã. E inchar o Estado para "aliados" que elevam seu preço a cada votação ou crise na opinião pública passa a ser caminho inevitável. Até o ponto que se cobra mesmo uma mesada.
5 - E nada disso pode vir com aumento do controle sobre o uso do Orçamento. Porque aumentar o controle significa diminuir o espaço do esquema. E o esquema é a agenda. Então, o que se tem, é uma impossibilidade dupla, que atinge o coração do governo Bolsonaro.
6 - Por um lado, as reformas liberais na economia tem seu limite exatamente na medida em que drenar o pântano é tirar o terreno onde nasce o esquema. E por outro, as reformas na Justiça não podem avançar porque o esquema não aceita controle de qualquer espécie.
7 - E o Presidente que se comprometer nesse jogo não sai mais da lama. Sua agenda é a agenda do esquema. Aconteceu com FHC, com Lula, com Dilma, acontece em cada governo estadual e prefeitura do país. Porque esse tipo de jogo não é próprio da democracia: é próprio do esquema.
8 - Quanto mais o Presidente deixa isso claro, mas os demônios se revelam enquanto tal à luz do dia. E parte da imprensa cai na armadilha, comprometendo sua reputação achando que sai em defesa da política, quando o público só lê uma coisa: O esquema. O Mecanismo. Os corruptos.
9 - A próxima etapa do jogo é contrapor a agenda revolucionário do STF com uma agenda positiva. Programa de luta contra o aborto. PEC que criminaliza o ativismo judicial. E uma de recall dos ministros. Aí vai ficar claro que a briga se dá contra duas forças que se retroalimentam.
10 - Uma corte revolucionária com poder centralizado e disposição para o Terror, aliada a uma classe política que aceita tudo, desde que os esquemas estejam preservados, assim como as proteções de natureza institucional. Contra esse dragão de duas cabeças, só tem uma arma: A Rua.
