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Há duas correntes de interpretação possíveis sobre o compartilhamento do texto semijanista feito pelo Bolsonaro. A primeira estabelece que é mera burrice, ele simplesmente gostou do texto e compartilhou sem ver o que indicaria. A segunda é como parte de plano para autogolpe.
Minha proposta é que as duas interpretações não são mutuamente excludentes, mas que um ímpeto causa o outro. Bolsonaro não percebe, por ser burro, quanto poder teria condições de acumular jogando de forma razoável. Daí adota a tática do confronto total, a única que conhece.
O país seria "ingovernável" por culpa de umas elites malvadas, tem que resolver isso daí, taokei?, e se ninguém resolver é porque não querem resolver e são inimigos. Uma hora todo mundo virou inimigo e só dá para confiar no "povo" que votou nele.
Realisticamente, o autogolpe teria de vir pelas mãos de Moro, operacionalizando a PF para prender os desafetos corruptos e limpar a área. Se essa estratégia foi pensada (tenho quase certeza que foi), faltou calcular o timing, e isso é basicamente culpa da burrice.
Acho que a janela para isso se fechou. Todo mundo agora está ciente do objetivo final e sabe que está na mira. E todo mundo sabe que dá para rearticular a coalizão de forma muito mais suave eliminando os olavetes e incluindo Centrão e PSDB.
Mas, assim como no caso da Dilma, essa reorganização depende das ações do presidente. Dilma só perdeu o controle do processo totalmente quando o PT decidiu ir contra Cunha mesmo que custando o governo. Bolsonaro ainda tem muitas cartas para jogar.
O problema é que ele erodiu a confiança dos atores e até agora não demonstrou vontade alguma nem de governar, nem de jogar. É o Coringa no Dark Knight. "I'm a dog chasing cars. I wouldn't know what to do with one if I caught it!"
Ele até sabe o que gostaria de fazer: um governo autoritário em que a oposição existiria apenas para ele ficar tirando sarro 24/7. Mas não tem ideia de como chegar lá e agora entrou na fase de agonia, da qual quase nenhum presidente soube sair por cima.
Fora os chupins e os fãs incondicionais, todo mundo quer que essa agonia acabe logo, e o jeito mais fácil de encerrar é por renúncia. Por outro lado é o jeito mais perigoso para o Bolsonaro, que não teria a boa vontade dos atores como Dilma teve.
Se ele renunciar, Flavio não terá nenhuma serventia para ninguém, por exemplo. Vira presa fácil. E quem acha que Jair não tem seus esquemas também é ingênuo. Com renúncia ele ainda seria elegível e portanto atacado, sem foro para segurar o tranco.
