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Cheguei em casa e vi que me marcaram várias vezes em posts sobre a homenagem do @exercitooficial a um oficial alemão assassinado no Brasil em 1968. Sobre isso tenho alguns pontos, a quem achar interessante, peço que leiam até o fim antes de conclusões (...)
(...) 1, nem todo alemão que combateu na Segunda Guerra Mundial era nazista. Sim, tínhamos nazistas radicais e o braço armado do partido nazista, as Waffen-SS. Elas diferem das forças armadas convencionais alemãs, a Wehrmacht, cujo exército era o Heer (...)
(...) 2, o que também não quer dizer que não tínhamos nazistas e criminosos nas Wehrmacht, como o piloto Hans-Ulrich Rudel, que foi "consultor" dos governos de Pinochet e Stroessner.

Ou seja, precisaríamos saber a fundo a trajetória do homenageado (...)
(...) Nesse sentido, ele era um jovem oficial na guerra; a maioria dos tenentes e capitães eram apoiadores do partido nazista, pela retórica de retomar as antigas glórias alemãs, embora não tão fanáticos. (...)
(...) A maioria dos oficiais não-nazistas eram os mais antigos, de major para cima; já entre os praças, o apoio ao partido era enorme, especialmente nos anos iniciais da guerra.

Outra questão que depõe contra o homenageado é o fato dele ter lutado no Fronte Oriental (...)
(...) Os alemães da época foram doutrinados a ver os eslavos como um povo inferior e políticas criminosas eram universais nas forças alemãs, como a famosa Ordem do Comissário e a colaboração com os einsatzgruppen para a limpeza étnica das regiões ocupadas. (...)
(...) Além disso, os alemães alegavam que a URSS não fazia parte da Convenção de Genebra, originalmente assinada pelo Império Russo, o que era uma imprecisão.

Essa alegação, entretanto, servia de justificativa para nenhum respeito aos procedimentos de guerra (...)
(...) Sem mencionar o ódio ideológico. E, claro, essa violência era retribuída pelo lado soviético, em vingança aos crimes das áreas ocupadas. O fato é que o fronte Oriental foi uma carnificina recheada de condutas criminosas que vão além do mero conflito militar. (...)
(...) Então, embora seja importante contextualizar que nem todo alemão na Segunda Guerra era nazista, o fato do homenageado ser um jovem tenente no fronte Oriental me faz crer ser impossível "colocar a mão no fogo" pela sua conduta durante o conflito (...)
(...) Ele pode ter sido um oficial exemplar? Pode, mas também pode ter executado prisioneiros, civis, violentado a população local. Impossível saber.

O benefício da dúvida fica ainda mais complicado quando vemos que, após o conflito, ele fugiu para a Argentina (...)
(...) A Argentina de Perón, destino de Eduard Ernest Thilo Otto Maximilian von Westernhagen, foi notório refúgio de nazistas, desde cientistas, como o projetista Kurt Tank, até nazistas ferrenhos e da linha de frente, como o agente especial Otto Skorzeny (...)
(...) Otto Skorzeny, inclusive, contribuiu para diversas agências de inteligências em operações contra comunistas, e também com o Egito, contra Israel.

Após reconstituição das forças armadas alemãs, a atual Bundeswehr, o homenageado voltou ao seu país e retomou a carreira (...)
(...) Muitos ex-militares da 2GM retomaram o serviço na Alemanha Ocidental; um deles, Adolf Heusinger, chegou a chefiar a OTAN. Isso habitualmente é visto como um testamento de que o currículo daquele oficial é "limpo" de máculas durante a guerra, mas não foi a regra (...)
(...) No fim das contas, ficam outras duas considerações. 1, ele de fato foi primeiro oficial alemão a fazer intercâmbio no Brasil, tanto que, em sua homenagem ano passado, um representante da Bundeswehr estava presente. Esse tipo de homenagem pode valorizar essas relações (...)
(...) 2, mas qual o propósito de homenagear esse oficial apenas cinquenta anos depois, em 2018? Alguém cujo histórico não é precisamente conhecido? Mais, ele foi assassinado por engano e as autoridades nunca solucionaram o atentado contra sua vida. A verdade só veio a tona (...)
(...) Com o livro Combate nas Trevas, de Jacob Gorender, trazendo depoimentos dos envolvidos que achavam que estavam "vingando" Che Guevara matando um oficial boliviano. A morte do oficial nunca foi um grande símbolo da luta armada na ditadura.

Espero ter ajudado na discussão
Como complemento, repito a dica que sempre dou: a trilogia de Richard Evans sobre o nazismo e o Terceiro Reich.

xadrezverbal.com/2016/03/10/dic…
Outro complemento, mandaram uma ótima coluna do Elio Gaspari sobre o alemão, publicada em 2008, quando de 40 anos da morte.

www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2…
Sobre ~passar pano~

"o fato do homenageado ser um jovem tenente no fronte Oriental me faz crer ser impossível "colocar a mão no fogo" pela sua conduta durante o conflito(...)O benefício da dúvida fica ainda mais complicado quando vemos que(...)ele fugiu para a Argentina(...)"
O mais bizarro dessa história toda é: eu pego o argumento de que nem todo alemão na Segunda Guerra Mundial era nazista, mostro o motivo desse argumento NÃO SE APLICAR no caso do homenageado pelo Exército...e sou acusado de "passar pano" pra nazista.

Sério, não faz sentido
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