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Imagine que seu time centenário tenha deixado de existir. Esse é o pesadelo enfrentado pelos torcedores do Bury FC, clube de 134 anos da região de Manchester, na Inglaterra. Seu dono não conseguiu provar que poderia mantê-lo afiliado à liga nacional, nem vendê-lo. Foi expulso. 
São 125 anos consecutivos participando das competições inglesas, todos jogados fora por administrações ruins e consecutivas trocas de comando entre proprietários que passaram pelo clube. O Bury hoje disputaria a League One, que seria a terceira divisão do futebol do país.
Arrasados, os torcedores avaliam as suas opções. Uma delas seria começar o clube do zero, refundando-o. Os jogadores, que do dia pra noite se viram desempregados, estão divididos entre procurar outros clubes ou ajudar nesse processo de reconstrução, já que muitos são de Bury.
A cidade de Bury, sempre à sombra de Manchester e que, por isso, já perdeu muitas oportunidades de negócios para a vizinha mais famosa, agora perde também seu clube, parte de sua identidade, o entretenimento da sua gente, parte indissociável da sua história.
E não é qualquer história. O Bury tem dois títulos da FA Cup, o torneio de clubes mais tradicional do planeta. É o primeiro clube da história do futebol inglês que chegou a 1000 gols marcados. Na primeira divisão, seu melhor resultado foi um 4º lugar em 1925. Há, enfim, história.
E a prova de que o Bury tem torcida é que o jogo que a equipe deveria ter jogado no final de semana foi adiado. Ontem, horas antes da decisão de expulsar o Bury da liga, seus torcedores compareceram como voluntários para limpar seu estádio para poder receber o jogo. Não adiantou.
Greg Edyvean, um dos seus torcedores ouvidos pelo jornal The Guardian, recebeu o primeiro ingresso para um jogo do Bury quando ele tinha apenas 6 semanas de idade, um presente do pai e uma tradição que ele passou aos dois filhos. Agora, ele diz não saber o que fazer.
A morte de um clube por irresponsabilidade de seus proprietários precisa ser considerada como possibilidade quando se fala em transformar todos eles em empresas. Falamos disso aqui na semana passada, usando o exemplo do Belenenses
Ao permitir a venda do Bury FC para seu dono derradeiro, a liga dos clubes ingleses admitiu que não havia feito uma investigação apropriada das finanças dele. E assim, como se uma paixão, uma identidade, fosse só uma mercadoria que se pode vender, a história acaba.
