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NO AR. Desenhamos fatos sobre a 'ideologia de gênero'. aosfatos.org/noticias/desen… 
1. O termo "ideologia de gênero" surgiu primeiro em textos doutrinários da Igreja Católica em meados da década de 1990, escritos pelo então cardeal e futuro papa Bento XVI, o alemão Joseph Ratzinger.
A expressão foi cunhada em oposição a resoluções da Conferência Mundial de Beijing sobre a Mulher, em 1995, que orientou a substituição do termo "mulher" por "gênero" nos documentos da ONU.
A conferência também registrou em seu documento final a desigualdade entre homens e mulheres como problema estrutural que só poderia ser abordado por “uma perspectiva integral de gênero”.
Em 2007, o relatório da V Conferência Geral do Conselho Episcopado Latinoamericano e do Caribe diz que "ideologia de gênero" não considera diferenças dadas pela natureza humana e "ferem gravemente a dignidade do matrimônio, o respeito ao direito à vida e a identidade da família".
O livro "La ideología de Género" do argentino Jorge Scala, lançado em 2010, colaborou ainda mais na construção da ideia de que a "ideologia de gênero" seria um instrumento político da esquerda para "impor uma nova antropologia".
2. A"ideologia de gênero" tem sido uma expressão usada por conservadores contrários às discussões de feminismo, sexualidade e diversidade. Eles alegam que essa "ideologia" faria parte de um plano mundial para destruir a família cristã e a heterossexualidade.
Esse conceito, porém, é bastante diferente dos de "estudos de gênero" e "teoria de gênero", campos de estudo acadêmico sobre fenômenos relativos a gênero e sexualidade na sociedade, e que surgiram nos EUA nos anos 1970.
A interpretação conservadora da "ideologia de gênero" ainda difere muito do que a ONU propõe como debate de gênero, que seria a busca de igualdades de condições entre homens e mulheres (não só em termos sexuais, mas também no acesso ao mercado de trabalho, por exemplo).
A difusão do termo "ideologia de gênero" costuma causar confusão entre os reais conceitos de identidade de gênero, orientação sexual e sexo, de acordo com o que reconhece a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Veja a seguir:
a) identidade de gênero é a "experiência interna e individual profunda do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo";
b) orientação sexual é "a capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva e sexual por indivíduos" seja de gênero diferente, mesmo gênero ou mais de um gênero;
c) sexo é definido como "características biológicas e fisiológicas (genéticas, endócrinas e anatômicas) utilizadas para categorizar as pessoas como sendo integrantes da população masculina ou feminina".
3. A "ideologia de gênero" ganha força no Brasil em setores religiosos e de direita à medida em que a comunidade LGBTQI conquista direitos. O uso do termo cresceu em 2011, quando o STF reconheceu a união estável homoafetiva e direitos como pensão e comunhão de bens.
Na mesma época, houve a polêmica sobre o projeto Escola Sem Homofobia, apelidado de "kit gay" por seus detratores. O plano, que visava debate sobre diversidade sexual no ensino médio, foi vetado pelo governo Dilma Rousseff (PT) por pressão da bancada evangélica.
4. Após o veto ao Escola Sem Homofobia, conservadores e religiosos pressionaram o governo novamente em 2014 sob a lógica de combate à "ideologia de gênero". Dessa vez, foram retirados os trechos que tratavam da gênero e orientaçao sexual no Plano Nacional da Educação.
Os deputados retiraram trecho do plano que dizia que "são diretrizes do PNE a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual" e inseriram no lugar "erradicação de todas as formas de discriminação".
E, em 2017, a "ideologia de gênero" resultou na retirada de uma diretriz relacionada à diversidade de mais um documento oficial: o MEC suprimiu parte da BNCC (Base Nacional Curricular Comum) que dizia que os estudantes deveriam respeitar a orientação sexual dos colegas.
5. As restrições impostas ao debate sobre gênero e diversidade sob pretexto de combate à "ideologia de gênero" vão contra as atuais recomendações internacionais e a maioria das pesquisas acadêmicas.
Segundo a ONU e a Organização Mundial da Saúde, a educação sexual, que deve incluir a perspectiva de gênero, contribui para a igualdade, incentiva a criação de relacionamentos respeitosos e equitativos e impacta os esforços de prevenção de DSTs e gravidez precoce.
Manifesto de associações brasileiras e centros de estudos defende que "o conceito de gênero está baseado em parâmetros científicos" e "tem sido historicamente útil para que muitas pesquisas consigam identificar mecanismos de reprodução de desigualdades no contexto escolar".
As afirmações são corroboradas por revisão da Universidade de Oxford em 2016 que, com evidências sobre educação sexual, concluiu que não há aumento da atividade sexual e que as aulas contribuem para o adiamento do início da vida sexual e para o aumento do uso de preservativos.
