Já chegava na Praça da República quando peguei um enorme engarrafamento na Tiradentes, tudo por causa de um sinal quebrado.
Nisso, vejo que passamos pelo carro da minha mãe, inclusive, com minha mãe dentro.
Que felicidade.
Comentei o fato com o taxista:
- Olha, é minha mãe aqui do lado! Ela nem deve saber que voltei de viagem.
Aí então, movido pela saudade, resolvi que tinha que falar com minha mãezinha, no meio daquele maldito engarrafamento.
E disse:
O taxista, gente boa, feliz por proporcionar o encontro, aceitou de pronto.
Atrás dele, carros buzinando, todos com pressa para chegar onde deviam, e aquele homem lerdando no meio da pista, sorriso bobo no rosto, pronto para fazer uma boa ação.
- Acho que já dá para ela me ver.
Enquanto escutava buzinas e mais reclamações, abri a janela e coloquei os braços para fora dando tchau, com meu sorriso mais bobo-besta-emocionado pelo encontro materno.
Mas ela nem me deu bola. Então, voltei cabisbaixo para dentro do carro, e o taxista me consolou:
- Calma, Dr., ela ainda está longe. Deixa chegar mais perto e o senhor tenta novamente.
Gritei mais alto, e nada. Fiz mais adeusinhos com os braços, e nada.
Então, a fila do lado andou e o carro da mãe fica bem ao lado, janela com janela.
Atrás da gente rolava um buzinaço. Na calçada, duas senhoras pararam para ver a cena inusitada, do homem engravatado que parecia um maluco.
Minha santa mãezinha me percebeu, em esforço sobre-humano para a ver, e começou a abrir o vidro...
Alegria. ALEGRIA. E filho realizado, finalmente, a não ser por um pequeno detalhe:
não era minha mãe...
O que restava fazer, com a assustada mulher que me encarava naquele engarrafamento?
- Desculpa, senhora... Achei que era minha mãe.
Mas, antes, ainda pude escutar um "maluco..." enquanto a mulher, agora minha ex-mãe, sumia no interior do veículo.
- O senhor está fora de casa faz quanto tempo?
- Faz pouco tempo, uns cinco dias...
- E faz tempo que não vê sua mãe?
- Não, vejo sempre. Mas era tão parecida que realmente confundi.
- Doutor, o problema não foi ela parecer com a sua mãe. O problema mesmo é que o senhor não deve ser nada parecido com o filho dela...
Sábio taxista, do dia em que, mais uma vez, fui besta, rs
Fim