Dois meninos numa bicicleta, em alta velocidade, passam do lado de uma senhora e zap, levam o cordão...
Mas deu ruim!
Queda feia.
Vi tudo da janela do 6º andar, inclusive a galera que imediatamente correu para pegar o meliante.
O fato de ser uma criança não impediu que a macharada chegasse descendo a porrada. O primeiro que chegou veio logo no chute, e da janela eu ouvi os gritos de dor.
Quando cheguei lá, vi que os caras se divertiam batendo pouco no menino, talvez cientes da fragilidade dele, mas batiam.
Na hora, os caras pararam de bater e começaram a argumentar: mas doutor... doutor para lá e para cá, rs (nesta hora o doutor serve para algo).
Em resumo: o menino tinha 11 anos, caiu de bicicleta e ficou para trás. Tava morrendo de medo de morrer e pediu pra eu não deixar ele sozinho.
A única pessoa que tomou partido dele, comigo, foi a assaltada.
- Gente, deixa o menino ir. Ele tem a idade do meu neto, esse cordão não vale nada...
Mas os vizinhos já tinham chamado a PM, então vamos esperar.
E o menino lá, sentado no meio fio, quase abraçado às minhas pernas.
Mas chegou meu vizinho de porta, e aí a coisa começou a ficar tensa...
Pois esse vizinho chegou e ficou de cochicho com os linchadores, num canto...
Aí o vizinho sumiu e, do nada, ressurgiu como carro dele, todo peliculado, já com o porta malas aberto.
Veio com tudo, acelerando, e parou quase em cima da gente.
Mas que eles iam resolver aquilo e levariam o menino de 11 anos para a delegacia - e enquanto diziam isso, eles riam.
Uma criança de 11 anos.
E eles vieram me empurrando, pegando o moleque na força, e eu fazendo força também, e jogaram o moleque no porta malas.
E quando vi o moleque sendo enfiado no porta malas, novamente fiz algo sem pensar: me meti no porta malas, com as pernas de fora, e disse: bora.
- Eu vou também.
- Não precisa.
- Mas eu vou.
- Então bora na frente.
- Só se ele for.
- Ele é bandido, é perigoso.
- Ele só tem 11 anos, vocês são três marmanjos. Que ele pode fazer?
- Como vão registrar ocorrência sem a vítima? - e tratei de empurrar a mulher para dentro.
Aí fomos, parece carro de palhaço: o motorista escrotão meu vizinho, dois outros mau-caráter, a assaltada e eu, e o menino no nosso meio, agarrado na gente, com medo nos olhos.
Os caras ainda rodaram meio sem rumo, se entreolhando, e eu, chato, indicando o caminho da delegacia.
E o menino, vejam bem, queria o cordão para vender e comprar um tênis maneiro, para ir para a escola...
Porque essa história virou um conto, O menino de 11 anos, que foi parar no meu livro.
E uma professora de Belém descobriu esse conto e resolveu usar com os alunos dela...
Os alunos dela SÃO O MENINO DE 11 ANOS, e tem sido lindo o trabalho que ela faz.