Precisamos dissecar essa manchete. Quando a gente fala em "receber", estamos pensando em salário, ou pagamento por trabalho feito.
O funcionário A recebe 1.000 reais.
O funcionário B recebe 690 reais.
As funções são as mesmas, o trabalho é o mesmo. Por que o salário de um é menor que o de outro?
Mas considerando a média, a historinha de A e B remete os 31% de diferença salarial.
Capital variável: trabalho.
O primeiro é constante porque não tem muito por onde fugir. Você compra uma impressora e há uma estimativa de quantas cópias ela faz (vamos supor, 1 milhão).
Mas e o trabalho do sujeito que faz as cópias? Bem, aí entra o funcionário A e o funcionário B.
O patrão, por sua vez, estava cobrando 25 centavos a cópia. Tirou 10 mil reais. E pagou aos seus funcionários 2 mil.
Só que, se lembrarmos bem, havia uma diferença salarial entre A e B de 31% (ou 310 reais). Se B recebe 310 reais a menos, por essa lógica teórica, para onde vai esse dinheiro?
"Ah, mas não é assim que funciona"...
Ok, não é assim que funciona.
E tem mais: negros têm mais dificuldade de conseguir empregos do que brancos.
O patrão, contudo, lembra que no mercado de trabalho está cheio de outros funcionários B dispostos a pegar um emprego que pague 690 reais por mês.
Racismo não pode ser lido como desvio de caráter, ou patologia.
Não dá para reduzir o racismo a isso? Não dá (e nem sou louco ou idiota de fazer isso).
Mas tampouco dá para ignorar essa dimensão.