1- Economistas frequentemente afirmam que transparência é essencial para o aperfeiçoamento das políticas públicas. Concordo! Meu artigo com Bráulio Borges, no blog do @FGVIBRE, leva essa discussão para o Banco Central, que pode ser bem mais transparente.
blogdoibre.fgv.br/posts/transpar…
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2- Em 2017, a meta de inflação era 4,5%. A inflação efetiva foi de 2,95%. Em 2018, a meta era 4,5%. A inflação foi de 3,75%. Em 2019, a meta é 4,25% e devemos encerrar o ano em 3,5%. Três anos com inflação abaixo da meta!
3- Entre 2011 e 2016, tivemos vários anos de inflação acima da meta. Curiosamente, em todos os casos, os modelos do Banco Central sempre previam convergência pra meta (ainda que não linear em alguns casos - para quem se lembra de 2012).
4- O fato é que temos uma política pública importante com erros sistemáticos. Para quem não sabe, a política monetária afeta o PIB, o desemprego e a inflação, variáveis cruciais para o bem-estar.
5- A política monetária no Brasil tem muitos graus de liberdade, pois divulga projeções, mas não oferece os detalhes de como são feitas essas projeções. Sabemos muito pouco sobre os modelos e sobre alguns insumos utilizados para construir os cenários para a inflação.
6- Quais são exatamente os modelos utilizados? Como é medido o hiato do produto? Qual a taxa neutra de juros? Qual o superávit primário estrutural? Qual o método de estimação? Quais são os instrumentos? Não sabemos a resposta, pois falta transparência no Banco Central.
7- Avançar na agenda de transparência traz mtos benefícios: i) aumenta o entendimento sobre as ações do BC e a sua credibilidade; ii) eleva a efetividade da política; iii) aumenta a disciplina do policymaker, uma vez que movimentos sem fundamento elevam os custos reputacionais;
8- iv) aumenta a previsibilidade das ações do BC, evitando eventos desestabilizadores no mercado financeiro; v) ajuda na sustentação de BCs independentes; vi) previne possíveis déficits democráticos de banqueiros centrais que têm preferências diferentes da sociedade;
9- A economia brasileira teria muito a ganhar caso os modelos do BC pudessem sofrer um amplo escrutínio da comunidade de economistas. Projeções mais precisas significariam menos alterações de juro em vão e menor volatilidade desnecessária da atividade e da inflação.
10- Artigo de Eichengreen, Dincer e Geraats (2019), publicado no The Oxford Handbook of the Economics of Central Banking, mostra que, a despeito de muitos avanços, há espaço para o Banco Central do Brasil melhorar no quesito transparência.
oxfordhandbooks.com/view/10.1093/o…
oxfordhandbooks.com/view/10.1093/o…
11- Se fosse no início do regime de metas, até poderíamos entender o desconforto de revelar a “cozinha das projeções”, ainda desarrumada e carente de aprendizado. Mas o regime de metas de inflação esse ano completa 20 anos!
12- Ex-diretores do BC, como Sergio Werlang (um dos responsáveis pela estruturação do Regime de Metas no Brasil), concordam que já passou da hora do BC ter maior transparência em relação aos seus modelos de projeção de inflação.
atarde.uol.com.br/economia/notic…
atarde.uol.com.br/economia/notic…
13- Uma maior transparência em relação aos modelos e estimativas de variáveis não-observáveis utilizados pelo BC não significa amarrar as suas mãos. É sabido que uma boa condução de política monetária envolve uma relevante dosagem de arte, ou melhor, discricionariedade.
14- A diferença seria que, com modelos explícitos, as discricionariedades também o seriam e, de preferência, estariam devidamente justificadas na comunicação oficial.
15- Em suma, esperamos que a transparência do BC avance muito mais. A conjuntura é propícia (BC crível). Como dizia John F. Kennedy, "a hora certa de consertar o telhado é quando o sol está brilhando". @macrolca
