Enquanto eu comprava peixe, passavam patinhos e pintinhos pelo terreno, um mais bonito que o outro, e cada vez que via os bichos, Íris soltava gritinhos de felicidade e alegria.
Ainda tentei recusar, dizer que não tinha galinheiro, nem o que dar de comer ao bicho, mas no Marajó tudo se resolve com facilidade.
E como que podia negar o presente com Íris pulando de alegria, querendo pegar o bicho que se aconchegava na minha mão?
“...esse pinto tem cara de Gustavo.”
Agora que o bicho tinha nome, não tinha mais volta, era nosso.
Um caos, mas a filha estava feliz, e isso importava...
E aí começaram meus problemas.
Pude ler nos lábios da minha esposa, de forma retumbante, um silencioso “puta merda, Fernando”, enquanto minha sogra vaticinava que o pinto cagaria a casa toda, e que eu tratasse de limpar tudo, caso ocorresse.
E para provar meu dito, larguei Gustavo no chão, e foi só ele pisar no piso frio que fez logo dois cocôs na sala e ainda fugiu para o quintal, assustado.
Enquanto isso, Lívia só repetia o puta merda, Fernando, sentido de antes, mas com maior intensidade, com nortista vontade de me esganar.
O deus das galinhas fazia ele correr igual maratonista, dando canseira, eu e meu cunhado com a língua de fora encarando o bicho impassível.
Por fim, depois de muita correria, Gustavo sumiu nas brenhas do quintal, escondido.
Minha sogra, pessimista, dizia que ele devia ter sido comido pelo gavião, ou que devia ter entrado na toca da mucura e já era, enquanto Íris chorava com a repentina morte do pinto.
Acontece que nada aconteceu!
- Tomara que ele não cague na cozinha...
E Gustavo, consciente, foi lá e cagou na cozinha.
- Tomara que não suba nas panelas...
E Gustavo, consciente, subiu nas panelas.
Por fim, minha sogra disse:
- Tomara que não tente comer o pão...
E Gustavo, consciente, ainda fez menção, mas foi repelido pelo berro terrível da sogra.
Foi a gota d’água:
- Esse frango vai embora agora MESMO...
Mas como fazer para pegar o bicho?
Antes que me matassem, resolvi agir.
Da 1º vez, já quase lá, Lívia chegou na porta do quintal e perguntar, meio perplexa:
- Que aconteceu?, me vendo no mato, sofrendo de coceira no íntimo.
Da 2ª vez foi a sogra, que viu Gustavo entrando na armadilha, mas não me viu no mato controlando tudo...
- Fernando, Fernando, corre que achei Gustavo.
Nesse momento ela me viu no mato, e quando se deu conta da situação, saiu se rindo, como vingada de todas as cagadas feitas em sua casa.
Capturei o pinto, finalmente, que estava rígido, duro de medo, entre meus dedos.
- Mas porque não comeram ele, então? Daria um bom franguinho de leite...
- Minha senhora, jamais poderia comer o Gustavo.
- Gustavo?
- Sim, é o nome dele.
- Mas meu senhor... porque deu nome ao bicho? Agora que tem nome, nunca mais vai poder virar canja...
Entristeci a mulher do peixeiro, rs
Luv u Gustavo
Fim