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O episódio Karol Eller e como fazer política, a thread:

Já aviso que ficou um pouco grande, mas acho que tudo que eu escrevi fala de problemas recorrentes tanto da esquerda quanto do movimento LGBT e vou amar para sempre quem fizer o esforço de ler tudo.
Quando a youtuber lésbica e apoiadora do bolsonaro sofreu um terrível e assustador caso de violência a extrema-direita se aproveitou pra fazer o que adoram criticar: eles politizaram uma tragédia.
Tentando, lógico, inverter o óbvio teor político real da tragédia: a violência LGBTfóbica, e transformar em falta de solidariedade da esquerda hipócrita.

E como nós, de esquerda, reagimos e podemos reagir a isso?
A questão principal e que precisa ser enfatizada aqui é: o empenho da direita não é a preocupação com o bem estar da aliada deles e muito menos é encontrar uma solução para a violência sofrida pela população LGBT do Brasil.
O que a extrema direita quer é criar uma narrativa que ao mesmo tempo os desresponsabilize e transforme a esquerda na vilã do episódio. Criam uma polêmica em cima do fato real. Em outras palavras: os bolsominions querem nos trollar.

E isso precisa estar sempre na tua cabeça.
E isso é óbvio.

E se a direita não se preocupa com a saúde dela e não se importa com a homofobia, ela não tá nem aí se de fato a esquerda tá prestando solidariedade ou a mídia está cobrindo ou não. Qual a conclusão?

O interesse deles não está na resposta e nem no debate.
Mas a esquerda continua mordendo essa isca. Tentando provar que a direita está errada e a esquerda certa. Eles estão com a mentira e nós com a verdade.

Mas a política não é o campo da verdade, é o campo do poder. Os bolsominions estão fazendo política, nós tentado estar certo.
E sobre política, duas lições:

1ª Lição: Na política, quem tenta debater com quem não quer sempre vai perder

Se o argumento n faz parte do interesse do interlocutor, o argumento n importa. E se o argumento não importa, a acusação n precisa nem ser verdadeira pra ser eficiente.
Não é por acaso que fake news são formas tão sedutoras de se fazer política para esse pessoal. Porque ser verdade ou não importa pouco. Interessa mais é nos manter dando murro em ponta de faca. Deles rindo do nosso esforço e tentar ensinar algo que eles não querem aprender.
No caso específico da violência contra a Karol é ainda mais fácil de se manter na mentira. Porque a acusação não é objetiva, é ponderada. A direita não questiona se existe solidariedade, mas se a solidariedade está sendo >suficiente<. Mas quem determina o que é suficiente? Eles
Então, pode listar quantas pessoas quiser, o argumento nunca vai ser suficientemente respondido. A esquerda praticando esforço descomunal enquanto a direita só precisa manter a palavra e esperar pacientemente a vitória.
Por isso, não entrem no jogo deles, não façam o que eles querem, não caiam na armadilha que eles tão armando pra vocês. A resposta, para eles, não importa, então porque gastar tempo e neurônio produzindo ela?
Listar todas as pessoas do Brasil que estão prestando solidariedade; apontar a hipocrisia de cobrarem solidariedade da esquerda enquanto não prestam a mesma solidariedade aos milhares de casos de violência com LGBTs de esquerda;
elencar todas as contradições de defender a Karol enquanto apoia um governo que organiza e legitima a homofobia em todos as esferas da vida pública. Nada disso importa politicamente, porque nada disso está realmente em discussão.

A vitória continuará sendo deles.
Porque, de novo, e repita isso até internalizar:

A política não é o campo da verdade, é o campo do poder.
2ª Lição: na política, quem tá se justificando tá perdendo.

Quem propõe o tema do debate, pede explicações, cobra e acusa, sempre vai ter o poder num cenário político, sempre terá vantagem. Quem pede desculpas, se justifica, se defende, sempre vai estar perto de perder.
E a direita criou o cenário das infinitas justificativas fácil.

Pegaram print de um idiota completo e ultraminoritário falando que a Karol mereceu apanhar por ser bolsanarista, generalizaram que toda a esquerda pensa assim e cobraram explicação. E as justificativas começaram.
Daí, dois grupos se formaram:

Um que odeia essa situação, fica indignado com LGBT defendendo Bolsonaro, falando que não existe homofobia e é tudo mimimi. E, por estar muito puto com tudo isso, justifica falando coisas como "colheu o que plantou", "o mundo da voltas" e etc.
O outro é um grupo que é mais sensível a toda a forma de violência, e tem uma visão pedagógica mais acolhedora e menos responsabilizadora. Ou é só super moralista mesmo e não aceita de jeito nenhum que as pessoas são contraditórias e gostam de ver gente escrota se fuder.
E a extrema-direita sabe que esses dois grupos existem, e isso que precisa ter em mente. Eles, e ao invés de admitir culpa no cartório, só jogam a polêmica no meio das gay e deixa elas se tapearem até a morte, enquanto assistem tudo de camarote.
Isso é uma tática, um projeto da direita. É tudo planejado e bem pensado. Eles fazem de propósito, e a gente PRECISA urgente começar a escapar dessa armadilha.

A direita quer cansar, enfraquecer, distrair e dividir o movimento LGBT, e ela tá conseguindo com louvor.
Mas o que fazer então? Como escapar dessa estratégia bolsonarista de monopolizar o debate e criar discórdia? Porque a gente sabe que só fingir que não existe é ainda pior, é dar para eles de mão beijada o discurso dominante.
Solução 1: a esquerda precisa parar de se importar tanto com como cada um se sente pessoalmente com cada coisa que acontece no Brasil e no mundo.

Foda-se o posicionamento das pessoas. Não importa como a pessoa se sente em cada caso.
Não importa se o melhor seria rir ou abraçar ou um meio termo que não vai comemorar mas não vai sentir pena.

Sinceramente? Ela não vai deixar de ser bolsonarista, e, por mais incrível que ela possa ser, temos outros milhões de LGBTs no Brasil pra ela ser nossa única prioridade.
Sinta-se do jeito que quiser, vamos parar com concurso de sentimento, ficar tentando provar qual o sentimento mais politicamente correto de todos. Isso não produz nada, não gera resultado. Só tem função de fazer tu se achar melhor que os outros.
Solução 2: Fazer política pública. E fazer coletivamente.

Sair do foco único na desconstrução individual para um ataque frontal as estruturas opressão. Ir para o público. Fazer política para as massas.
Achou que ela colheu o que plantou ou achou que ela as únicas mensagens tem que ser de repúdio? Não importa.

Agora, tu apoia essa lei de iniciativa popular para dar mais segurança à população LGBT? Sim? Então estamos juntos, foda-se como tu se sentiu.

Vamos ser práticos.
Tá Tito, mas fazer lei, criar política pública? Isso é coisa pra deputado, pra partido político, ou alguém com muito mais poder. E eu que sou um reles twitteiro tentando sobreviver de lacração na internet, o que eu posso fazer?
Solução 3: Se filie a um partido político ou a uma organização política. Minha sugestão: PSOL (eu sei, mas né?).

Se ainda não se sentir preparado para um partido, comece a fazer parte de um movimento social, existem diversos em todas as cidades.
Mas Tito, eu sou muito bom pra qualquer partido ou movimento, nenhum deles me merece.

Eu acho que posso fazer a diferença mesmo discutindo com gente online, onde eu brilho de verdade. O que eu faço?
Solução 4: Pautar, deixar de ser pautado.

Temos um projeto? Temos uma lei? Temos uma campanha? Esse vai ser o foco nosso, esse vai ser o foco do Brasil, é isso que a gente vai discutir.

Se tu não gosta do que está sendo falado, mude a conversa.
A direita faz isso horrores e o tempo todo e tá dando certo, no macro e no micro. Problema com Queiroz? Alguém do governo faz declaração polêmica. Você questiona sobre a Marielle? Eles vem e perguntam sobre o Celso Daniel, ou Battisti e a gente responde como um trouxa toda vez.
Solução 5: Pare de se justificar, façam eles se justificarem.

É uma postagem cobrando a esquerda de solidariedade? Não responda, pergunte o que o Bolsonaro está fazendo, o que ela acha que precisa ser feito para acabar com a homofobia no Brasil, inverta a situação.
Ele ignorou? Repita. E repita. E repita. Nunca se justifique a não ser que estritamente necessário. Eles tem muito mais a explicar.

Muitas vezes eles pegam pontos específicos pra problematizar. Saiba o seu ponto central, se mantenha nele. Faça o bolsominion ter que responder.
E é isso, desculpa o tamanho da thread, meu recorde.

E parabéns para quem teve empenho de chegar até aqui, amo vocês por isso.
Olha, vou marcar gente famosa porque não me esforcei tanto nessa thread à toa, vai que dá boa.

@GeorgMarques @carapanarana @nadanovonofront @jairmearrependi @laurinhalero @safbf @AnarcoFino e seja o que deus quiser.
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