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Mitos do capitalismo sobre o salário

Tradução livre da thread escrita originalmente por Arash Kolahi (@ArashKolahi).

Dentre os mitos mais difundidos sobre o capitalismo, estão como este recompensa os trabalhadores.

O Capitalismo não recompensa:
- Produtividade
- Valor
- Trabalho duro, esforço, sacrifício ou tempo trabalhado
Como iremos provar, estas mentiras são apenas propaganda sem NENHUMA base na realidade.
Começaremos com como salários REALMENTE funcionam. Como a maioria dos preços no capitalismo, salários (preço do trabalho) são determinados pelo mercado. Mercados são sistemas de alocação onde preços refletem o poder relativo de barganha entre quem compra ou vende bens e serviços.
O Mercado incentiva que, tanto quem compra como quem vende, maximizem o benefício da transação para si mesmos.
No Mercado, compradores querem que o preço seja o menor possível, e vendedores querem o maior preço possível. Porém...
Abaixo de um certo preço (piso), um negócio não interessa mais ao vendedor (eles perdem dinheiro nesse valor). E acima de um certo preço (teto), não interessa mais ao comprador (pode desistir do negócio, e buscar alternativas).
Entretanto, entre o piso e o teto, o valor real de bens e serviços nos negócios do mercado tende para quem tiver o maior poder de barganha. Quem pode desistir da transação mais facilmente? Quem pode encontrar uma alternativa com maior facilidade? Quem está mais desesperado?
De fato, no mercado, dentre valores do piso e teto, a maior parte do benefício de cada transação vai para aquele que já possui o maior poder de barganha.
conomistas sabem que é verdade já a muito tempo. O Fair-Trade Movement nasceu em grande parte como resultado disso. Negociar com parceiros desesperados e empobrecidos em um sistema de mercado dá virtualmente todas as vantagens a quem já possui o maior poder de barganha.
Por exemplo: imagine que custa a um vendedor de um país pobre $2 para fabricar o 'produto A', o piso é $2. Vamos dizer que compradores de países ricos estejam dispostos a pagar até $10 pelo 'produto A' (teto).
O preço na realidade vai estar muito mais próximo de $2 que de $10 por causa das disparidades no poder de barganha.
O Fair-Trade Movement entendeu que no comércio internacional, os preços de mercado refletem o poder relativo de barganha entre os compradores (países ricos) e os vendedores (países mais pobres), e como resultado, os preços são tão baixos que dão toda vantagem aos compradores.
O Fair-Trade Movement mostrou como e porquê o mercado aumenta as disparidades de riqueza pelo mundo. Negócios no mercado entre parceiros comerciais radicalmente desiguais (em poder de barganha) ao longo do tempo AUMENTAM essas desigualdades por cause de como o mercado funciona.
Isso deveria ser auto-evidente, já que vemos todos os dias. Pessoas desesperadas para sobreviver, no limite da fome ou de ficar sem teto, tem pouco poder de barganha. Pessoas ricas que podem adiar negócios com pouco efeito para si mesmas tem um poder de barganha maior.
No mercado, os preços sempre tendem a beneficiar aquele com o maior poder de barganha. Por salários serem preços para diversos tipos de trabalho, negociados em um sistema de mercado, eles seguem a mesma lógica.
Entre o valor do piso e do teto, quando quem vende está mais desesperado que quem compra, preços diminuem até se aproximar do piso. Quando os compradores estão mais desesperados, preços sobem até se aproximar do teto.
Como vimos, preços no mercado refletem o relativo poder de barganha entre compradores e vendedores. Como salários são negociados no mercado de trabalho, eles também são definidos pelo poder de barganha relativo entre o empregador (comprador) e o trabalhador (vendedor).
Os empregadores sabem que é verdade. Por isso odeiam sindicatos. Sindicatos aumentam o poder de barganha dos trabalhadores de várias formas (poder de barganha coletivo, fazer os trabalhadores menos dispensáveis, etc), resultando em maiores salários para quem é sindicalizado.
Além de formado em Economia, eu também tenho mestrado em administração (no caso o @ArashKolahi, não eu). Uma das principais coisas ensinadas nos melhores programas de MBA é como diminuir o poder de barganha dos empregados, assim diminuindo os salários, e aumentando os lucros.
No mercado, poder de barganha é TUDO.
Empregadores sabem, executivos sabem, MBAs sabem, economistas sabem. Ainda assim a propaganda é o oposto. Trabalhe duro e você ganhará mais. TUDO MENTIRA para as massas.

Agora que sabemos a verdade, é fácil rebater as mentiras.
Mito #1: Salários são baseados em produtividade:

Entre os anos 50 e hoje a produtividade dos trabalhadores aumentou diversas vezes, ainda assim salários se mantiveram estagnados. Zero correlação histórica entre produtividade e salários.
A produtividade por trabalhador disparou, mas nenhum desses ganhos beneficiou os trabalhadores porquê o poder de barganha deles permaneceu o mesmo. A guerra contra os sindicatos dos últimos 50 anos contribuiu em muito para manter baixo o poder de barganha dos trabalhadores.
A única vez em que produtividade aumenta salários é SE esse ganho em produtividade se traduzir em maior poder de barganha para os trabalhadores.
SE sua produtividade aumentar de forma a fazer você mais indispensável para seu empregador, isso aumenta seu poder de barganha, e logo seu salário.
Assim, não é o aumento em produtividade que causa o aumento dos salários; apenas se os trabalhadores conseguirem maior poder de barganha como resultado desse aumento de produtividade que os salários aumentariam.
O Mito 1 foi rebatido: Não existe correlação entre produtividade e salário.
Mito #2: Salários são baseados no valor do seu trabalho.

Se por 'valor' queremos dizer 'valor dado pela sociedade', esse obviamente não é o caso pois os trabalhadores dos bens e serviços mais valorizados pela sociedade (por exemplo, professores) recebem os menores salários.
Se por 'valor' dizemos o valor que pode se traduzir em lucro para os empregadores, isso também é obviamente falso pois os trabalhadores de algumas das indústrias mais lucrativas (fábricas de iPhones, por exemplo) também recebem salários baixos.
Não importa a quantidade de lucro (desde que não haja prejuízo), a correlação MAIS FORTE é a do poder de barganha dos trabalhadores e salário, NÃO dos lucros, NÃO do valor do trabalho.

O Mito 2 foi rebatido.
E finalmente, o mito favorito. Mito #3: Salários são baseados em trabalho duro, esforço, sacrifício ou tempo de trabalho.
Ninguém trabalha 100x, 1000x ou 10.000x mais ou mais duro que qualquer outra pessoa - mas alguns ganham 100x, 1000x ou 10.000x mais remuneração que outros.
Como mostrado em uma thread em separado, se os salários fossem remotamente equivalentes, o trabalhador médio, trabalhando pela jornada média em um nível médio de esforço receberia o salário médio (nos EUA) de $130.000 por ano!
Mas e a respeito da jornada de trabalho? Para muitos trabalhadores existe ALGUMA correlação entre jornada trabalhada e remuneração.
Mas essa correlação existe apenas por causa do salário mínimo (por hora, nos EUA), não por causa das forças de mercado.
E muito da luta por um salário mínimo foi baseada no fato de que se deixado a mercê do mercado, isto é, poder de barganha relativo entre trabalhadores e empregadores, os salários seriam levados tão para baixo que a maioria dos trabalhadores receberia um salário de fome (piso).
Assim mostramos que o capitalismo de mercado recompensa o poder de barganha, NÃO a produtividade, NEM valor e certamente NÃO trabalho duro, esforço, sacrifício ou tempo trabalhado. Por o capitalismo de mercado recompensar apenas o poder de barganha, ele é inerentemente desigual
A única forma justa e igualitária de determinar o salário é recompensar o trabalho duro, esforço, sacrifício e tempo trabalhado.

Os capitalistas mentem a respeito disso por que soa justo, mas o capitalismo é inerentemente INJUSTO.
São os socialistas quem demandam justiça e igualdade.

participatoryeconomics.info/values/
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