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De forma bastante resumida, em vista à quantidade de informação destacada na imprensa sobre o tema, podemos dizer o seguinte: Os EUA mataram o homem número 2 do Irã, literalmente.
O Iraque, desde antes da guerra com o Kwait, sempre foi um caldeirão étnico/religioso difícil de ser administrado em vista aos seus diversos problemas seculares.
Ao Norte, os iraquianos lidam com os curdos, grupo étnico com uma minoria fora do escopo religioso islâmico (iazidistas), o qual Saddam Hussein em seu reinado de mão de ferro tratava com armas químicas e toda sorte de arbitrariedades.
Entre os islâmicos, tradicionalmente os iraquianos se dividem entre uma minoria sunita e os xiitas, sendo a região a leste, ou seja, fronteiriça com o Irã, de maioria xiita, religião predominante no país vizinho.
Hussein era sunita e mantinha uma delicada ordem no país através de seu poder ditatorial, principalmente ao suprimir avanços de grupos religiosos, assim como fizeram Muammar Kadafi na Líbia e Hosni Mubarak no Egito durante anos.
O Irã, desde a destituição do Xá Reza Pahlavi em 1979 pela revolução islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, é regido por grupos religiosos xiitas, contrários à modernização do país que ocorria desde 1973.
A guerra do Kwait e posteriormente a guerra contra o Iraque abriu espaços importantes no Oriente médio para o avanço de grupos xiitas dentro do Iraque e a formação de grupos extremistas como o ISIS e o fortalecimento da Al-Qaeda, de Osama Bin Laden.
Daí que entra Qassen Suleimani, brigadeiro-general e comandante das Forças Quds desde 1990, unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã, considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais importantes de 2017, devido a este poder.
Com a ausência de um comando forte no Iraque e a alta corrupção, grupos xiitas pró-Irã, como as Forças de Mobilização Popular (FMP), do comandante Abu Mahdi al-Muhandis ocuparam espaços importantes entre as fileiras militares e alimentavam insurgências cada vez mais constantes.
Com livre trânsito dentro do Iraque, Suleimani foi morto por um drone junto a al-Muhandis e mais 6 pessoas num comboio próximo ao aeroporto, como provável resposta americana ao ataque recente à sua embaixada e à morte de um funcionário americano em um bombardeio com foguetes.
Aparentemente, o ataque em si não é a única motivação americana. Os republicanos tradicionais veem em eventos bélicos um momento importante tanto para elevar o ‘espírito nacional’, como para destravar o teto do orçamento, levando a momentos de crescimento econômico com gastos do
governo, ainda que seja bastante restritivos no trato fiscal com gastos sociais, por exemplo. Trump até que resistiu a tal retórica por muitos anos, inclusive demitindo John Bolton, o maior apoiador de intervenções militares do governo.
Eleitoralmente, isso pode ser importante para a recondução do presidente americano. Em meio ao desgastante processo de impeachment, uma “declaração de guerra” como esta dificulta em muito a vida dos democratas e pode chancelar a retórica de ‘perseguição’ contra Trump.
O presidente americano agora vai lidar não somente com as consequências de tal ataque, como 1 possível retaliação iraniana, mas também deve se preparar para apoiar Israel, o qual tende a ser 1 dos principais alvos de ataques na região, até mesmo pelo seu posicionamento geográfico
Para alguns analistas internacionais, a morte de Suleimani tem significado ainda maior do que a morte de Bin Laden, dado o poder que o mesmo acumulava no Irã e também por ser praticamente insubstituível,
daí se esperar uma reação enérgica é natural, até mesmo com o possível fechamento do Estreito de Ormuz e travamento do fluxo de petróleo do Oriente Médio.

Para o Irã, a situação interna é igualmente tensa, principalmente com as sanções americanas.
O recente ataque ao Banco Central iraniano demonstra que a população está há bastante tempo cansada tanto da ditadura de costumes, quanto militar imposta no país, o que acaba por levar ao desastre econômico observado.
Durante o ataque ao BC, iranianos gritavam “Não temos dinheiro ou gasolina, para o inferno com a Palestina”, demonstrando o desalento da população com temas fora do escopo econômico, ou seja, a 'perda de tempo' do governo com temas insensíveis às demandas populares.
Este é o cenário de curto prazo.

Ainda de difícil dimensão e consequências, porém tudo indica que o ano que prometia ser 'calmo', já deu sinais bastante interessantes logo na largada.
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