Thread by @marinamaral2

Trabalhando na seleção do conteúdo pra minha série da Ditadura Militar, e encontrando coisas como essas:

1) Censura no Carnaval.
Parecer sobre o samba enredo da escola de samba Império Serrano para o ano de 1976.

2) Rita Lee, “As Duas Faces de Eva”.

“O veto teria decorrido da inserção do texto do verso “todo mês sangra”, referindo-se à mulher, de maneira geral. Ora, Sr. Diretor, a existência do ciclo menstrual não é mais motivo de vergonha ou medo.”

3) Composição “Nós, essa criança” de Taiguara, censurada em abril de 1974.

4) “Procedida a verificação censória da letra musical “Muleque Sacana”, de autoria de Mu e Rita Lee, constatamos a impossibilidade de sua liberação por conter a palavra “SACANA”, que popularmente em algumas regiões brasileiras é considerada de baixo calão.”

5) Estandartes de alas do Grêmio Recreativo de Samba Unidos do Cabuçu, no carnaval de 1984. O enredo era intitulado “Beth Carvalho, enamorada do samba”. Croquis submetidos à Censura Federal.

Tiro ao Álvaro, Adoniran Barbosa.

“Vetado. A falta de gosto impede a liberação da letra.”

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“Quando se refere a cachaça, que é abundante no terreiro de macumba, vê-se a divulgação de um hábito condenável. A letra em questão mistura, em seu último verso, Jesus e cachaça, fato que vem contrariar princípios religiosos.

Sou, portanto, pelo veto.”

🙄

Avaliação da Censura dos figurinos do bloco carnavalesco “Samba como Pode”, 1983.

Vamos a mais documentos da censura que seriam patéticos se não fossem trágicos.

Tinta Fresca, de Taiguara.

“Vetada. Os incomodados que se mudem.”

Adoro a maturidade e a coerência das justificativas.

“Homossexual”, de Luiz Ayrão.

“Não aprovo, pois a divulgação do homossexualismo é proibida pela Lei Censória.”

Mais uma do Adoniran Barbosa (e Marcos Cesar), “Já Fui Uma Brasa”, a mesma justificativa: “a falta de gosto impede a liberação da letra.”

Curiosa pra saber o gosto musical de quem censurou Adoniran.

Depois da homofobia, também temos racismo, silenciamento dos negros e perseguição ao samba.

Flor Negra, de Elton Medeiros, Cristóvão Bastos e Antônio Valente.

“Vetada - conteúdo que permite lembrar a situação social do negro em nossa história.”

Já esse relatório do SNI contém informações sobre o “movimento nacional dos blacks”. A partir de 1970, grupos começaram a ser espionados.

“Esses movimentos revelam o incremento das tentativas subversivas de exploração de antagonismos raciais em nosso país.”

O samba-enredo de Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira que exaltou a liberdade em plena ditadura militar.

Muita gente entendeu o recado.

Também tivemos obras incineradas, veja só....

“O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, música que se tornou um hino na época da ditadura e da anistia, eternizada na voz de Elis Regina.

Documento de 1975.