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Pra quem gostou do carnaval da Mangueira, vem aí uma thread neste fim de domingo:

QUANDO O SAMBA MOSTROU PERSONAGENS E HISTÓRIAS QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA
Salgueiro: O Quilombo dos Palmares (1960)
O enredo, criação de Fernando Pamplona, foi uma das primeiras citações a Zumbi e o Quilombo dos Palmares no Carnaval.

O Globo do dia seguinte disse: "A maior nota de enredo será do Salgueiro, com Quilombo dos Palmares, tema ainda inédito"
Salgueiro: Xica da Silva (1963)
Outra personagem até então à margem da história, Xica da Silva foi enredo no primeiro título não dividido do Salgueiro. A escola foi ovacionada durante o desfile, e ela foi interpretada por Isabel Valença.
Salgueiro: Chico Rei (1964)
Embora não haja comprovação de sua existência, Chico Rei, ou Galanga, é um personagem da história negra do Brasil. Rei no Congo, foi escravizado e trazido ao Rio de Janeiro. Mas foi em Vila Rica que Galanga se tornou um verdadeiro herói.
Na cidade mineira, o monarca africano juntou ouro suficiente para garantir a sua liberdade e de seu filho, Muzinga. Depois de livre, Galanga comprou a mina em que era escravo e libertou os outros escravos com os quais conviveu.
Mais da história de Galanga Livre neste artigo do Estado de Minas: em.com.br/app/noticia/ge…
Império Serrano: Mãe Baiana Mãe (1983)
Em 1983, defendendo o título, o Império Serrano contou a história de Tia Ciata, mãe de santo que foi uma das protagonistas no surgimento do samba no Rio de Janeiro.
Unidos da Tijuca: Lima Barreto - Mulato, pobre, mas livre (1982)
Autor de grandes obras da literatura brasileira, Lima Barreto foi recusado pela Academia Brasileira de Letras 3 vezes, o que foi citado no samba da Tijuca

“Mesmo sendo excelente escritor/ Inocente, Barreto não sabia/ Que o talento banhado pela cor/ Não pisava o chão da Academia”
Mangueira: Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão? (1988)
No centenário da Lei Áurea, a Mangueira questionou o quão livre era o negro no Brasil.

"Será.../Que já raiou a liberdade/Ou se foi tudo ilusão/Será.../Que a lei áurea tão sonhada/Há tanto tempo assinada/Não foi o fim da escravidão?/"
Também em 1988, a Vila Isabel foi campeã com um dos sambas mais icônicos e importantes de todos os tempos: Kizomba, Festa da Raça
O desfile rendeu à Vila o seu primeiro título, e exaltou vários heróis negros, como Zumbi dos Palmares, Anastácia e Nelson Mandela.
Império Serrano: E verás que um filho teu não foge à luta (1996)
O samba do Império homenageou o sociólogo Betinho, exilado durante a ditadura. O desfile contou com a participação de integrantes do MST em uma das alas.
Viradouro: Tereza de Benguela - Uma Rainha Negra no Pantanal (1994)
Em um de seus maiores sambas, a Viradouro contou a história de Tereza de Benguela, que liderou o Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso.

Ela assumiu o comando do quilombo após o assassinato de José Piolho, seu companheiro.
Segundo documentos da época, o quilombo abrigava mais de 100 pessoas, entre negros e índios. O quilombo resistiu até o fim do século XVIII, anos após a captura e morte de Tereza de Benguela.
Unidos da Tijuca: Salamaleikum, a epopeia dos insubmissos malês (1984)
Antes da Mangueira citar Luísa Mahin, a Tijuca exaltou a Revolta dos Malês. Ela participou da Grande Insurreição, grande revolta de escravos em Salvador, em 1835.

Liderança na revolta, Mahin foi mãe de Luiz Gama, poeta e abolicionista, também citado no enredo mangueirense.
União da Ilha: Um herói, um enredo, uma canção (1985)
Em mais um samba belíssimo, a Ilha contou a história da Revolta da Chibata. João Cândido, o Almirante Negro, liderou a insurreição contra os castigos físicos e maus tratos aos marinheiros.
Unidos do Cabuçu: Tire sua mordaça do caminho, que eu quero gritar a minha cor (2014)
Em 2014, na Intendente Magalhães, a Unidos do Cabuçu falou sobre a escrava Anastácia. Citada também em Kizomba, da Vila Isabel (1988), foi símbolo de resistência por não ceder aos abusos sexuais do senhorio. Foi estuprada, violentada e amordaçada até o dia de sua morte.
Renascer de Jacarepaguá: O papel e o mar (2017)
Em samba composto por Moacyr Luz, a Renascer imaginou, em 2017, como seria um encontro entre Carolina Maria de Jesus (o papel) e João Cândido (o mar).

A letra, que tem trechos em primeira pessoa, compara a maneira como os dois batalharam pela liberdade de seu povo.
Uma das maiores escritoras brasileiras, Carolina de Jesus se notabilizou por retratar sua realidade como moradora da favela do Canindé (SP). No desfile, a Renascer a citou:

"Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos"
Império da Tijuca: O mundo de barro de Mestre Vitalino (1977)
Artesão, o pernambucano Mestre Vitalino foi um expoente da arte ceramista no país. Suas obras ganharam notoriedade após uma exposição no Rio de Janeiro. As peças retratavam o cotidiano sertanejo de Caruaru, e, no início, eram feitas com as sobras do material usado por sua mãe.
Unidos da Tijuca: Agudás, os que levaram ao Brasil a África no coração e trouxeram para o coração da África, o Brasil (2003)
Os agudás são descendentes de ex-escravos libertos e de mercadores de escravos que retornaram ao Benin, em meados do século XIX, como cita o samba

"Sou negro e venci tantas correntes/A glória de quebrar todos grilhões/Na volta das espumas flutuantes/Mãe África receba seus leões"
Autor do enredo, o carnavalesco Milton Cunha frisou o quanto a história negra é esquecida pelos brasileiros:

"Esse país é engraçado. Ele se vê refletido em branco. A gente não estuda no colégio a contribuição negra, a história dos agudás, por exemplo" bbc.com/portuguese/not…
Acadêmicos do Cubango: O Rei que bordou o mundo (2018)
No ano passado, a Cubango relembrou o artista Bispo do Rosário, que produziu milhares de obras na cela do Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, no século XX. Sua “loucura” era tão famosa quanto sua genialidade, que sofreu nas mãos da tortura psiquiátrica da época.
Acadêmicos do Engenho da Rainha: Ganga Zumba, raiz da liberdade (1986)
Nascido no reino do Congo, Ganga Zumba foi sequestrado e escravizado no Brasil. Aqui, tornou-se o primeiro rei do Quilombo dos Palmares, um dos mais importantes da resistência negra no país.

Liderou o quilombo de 1670 a 1678, quando morreu. Foi sucedido por seu sobrinho, Zumbi.
Mocidade: Mãe Menininha do Gantois (1976)
Mãe Menininha do Gantois foi uma das grandes líderes espirituais do Brasil. Considerada uma das mais importantes mãe de santo do Candomblé no país, ficou por mais de 60 anos o terreiro do Gantois, um dos mais antigos de Salvador.
Mangueira: Dom Obá II - Rei dos esfarrapados, príncipe do povo (2000)
Cândido da Fonseca Galvão, o Dom Obá II, foi um militar negro, de origem iorubá. Foi condecorado como oficial honorário do Exército. Prestigiado socialmente, Dom Obá defendeu o abolicionismo durante o século XIX.
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