Thread by @jlbraga

VOCÊ NÃO VAI ACERTAR O FUNDO DO MERCADO

Com essa do Trump declaro hoje, oficialmente, que entramos no modo pânico. Na live com o @hbredda, segunda, falei que já achava as coisas baratas, mas não no modo pânico. 2 circuit breaks depois, aqui estamos.

Bem, vocês devem estar percebendo o que falo em seus estômagos. Mas a thread é sobre outra coisa.

Lembro-me bem dos últimos meses de 2008. Ainda estava no fundo Verde. O clima era exatamente esse. Dava para ouvir os cliques dos mouses de tão silencioso era o ambiente.

Vocês sabem a história, risco sistêmico. Como eu cobria bancos, cada hora um banker diferente me perguntava qual ia quebrar, incluindo os grandes como o Unibanco.

Poderíamos, na época, entrar em algo parecido com o Nikkei - décadas sem sair do lugar - mas para o Luis,

aquela era uma oportunidade, uma assimetria. Ele comprava muito, todos os dias, no que ele chamava de "Missão Impossível": levar o fundo para 50% net long. Era difícil porque ele comprava todo dia, mas as ações continuavam caindo e, com isso, não cresciam em percentual do fundo..

Comprava e comprava. Chegou até a soltar uma carta chamando o Verde de um long biased.

Ali não era o fundo do poço, que foi em fevereiro de 2009. E, de novo, não tinhamos a menor ideia se a recuperação seria um V, um U, um L__, nada.

Ouvi coisas como "treasury era o risk free return. Agora é o return free risk!" e coisas assim. Até o Verde tomou resgate (concentrado em fundos de fundos que não conseguiam resgatar dos outros, que colocaram os famosos gates). Os duplo-indexadores faziam com que ninguém...

tivesse a real noção da alavancagem cambial das empresas: Se derrubou Sadia e Aracruz, imaginem as médias empresas que tomaram isso! Não tinha registro em nenhuma bolsa. Não dava para calcular.

Os preços chegaram a piorar bem, algo perto de 29k no ibovespa, até recuperar fortemente - convenhamos - rápido, ao longo de 2009. Com isso, o Verde subiu 50%, amplamente recuperando as perdas de 6% de 2008.

Voltando para agora, infelizmente não conseguimos defender essa queda como em 2015, drawdowns de 2016, maio de 2018 e outras. Acontece, quero fazer isso por 30 anos ainda, vou acertando e errando ao longo do caminho e a ideia é acertar mais que errar...

Peço desculpas e vamos trabalhar forte pra recuperar, mas voltando ao tema, eu não acho que necessariamente chegamos no fundo do poço. Eu não achava isso na segunda, quando já estava comprado. Podemos sofrer ainda mais!

Mas não dá para desprezar a assimetria que está na nossa frente no exato momento, causada exatamente pelo pânico.

Seguimos forte aqui no trabalho de fazer eventuais trocas de coisas baratas por coisas mais baratas, especialmente ajustando pelo risco.

Como sempre recomendamos, se você coloca em risco o dinheiro que você não vai precisar no curto prazo, que você consegue tolerar perder, a crise passará e você continuará bem. Crises são normais, e provavelmente passaremos por mais umas 30 dessas enquanto eu ainda for gestor.

E se você tem um caixa sobrando e quer entrar, não tente acertar o fundo. Você provavelmente não vai conseguir. O segredo está no tamanho, na ponderação de riscos condizentes com o que você tolera e, por fim, no longo prazo. De novo, o que a gente tá vivendo é normal!

Nos próximos dias vou abrir a conta dos meus filhos (3 e 1 ano) e dar de presente para eles ações em um nível que, bem, eu compraria para meus filhos. Se cair mais nos dias seguintes, acredito que eles conseguirão esperar a crise passar.

Depois escrevo mais. Abraços!