Thread by @nelsonhbarbosa

Vamos ao pacote de medidas emergenciais do governo.

Em 1o lugar é bom ver as autoridades de mexendo

Em 2o lugar, por enquanto a maior parte do pacote é remanejamento de recurso ou depende de os bancos oferecerem mais crédito

A tabela abaixo resumo as principais medidas

As medidas de transferência de renda (13o e abono) antecipam despesa do 2o semestre para o 1o semestre. Faz sentido, pois o choque é agora, mas se a economia não se recuperar rapidamente, o $ fará falta no final do ano. Mas o governo ganhou tempo para avaliar medidas adicionais.

As desonerações (FGTS e Supersimples) são basicamente temporárias, deslocando receita do 1o para o 2o semestre, quando o governo espera que a economia já tenha se recuperado. Outra ação para ganhar tempo (faz parte), pois é difícil não ocorrer outro diferimento no 2o semestre.

Só a redução da contribuição ao Sistema S em 50% é uma desoneração propriamente dita, pois não haverá compensação mais a frente (ou eu não vi isso). São "somente" 2,2 bilhões, fora do orçamento primário do governo, mas ajuda, se o Sistema S não cortar gastos na mesma magnitude.

Os novos saques do FGTS são "dinheiro novo" para a população e podem evitar queda do consumo (boa medida). Mas do ponto de vista contábil, como é transferência do PIS/PASEP ao FGTS, é remanejamento de $ pelo governo, que se compromete a cobrir o PIS/Pasep depois.

Já o $ adicional para SUS e Bolsa Família deve vir de outros programas, sem alterar meta de resultado primário (ou eu não vi proposta de alteração). Se o $ vier de programas com recursos "empoçados", é uma expansão fiscal. Boa medida, a ver se é suficiente (acho que não).

Por fim, o maior valor está no potencial de ampliação do crédito a partir das medidas do CMN, anunciadas mais cedos (matéria abaixo). Tem a linha de 5 bi pelo FGTS (finalmente!) e redução temporária do requerimento de capital dos bancos, que pode induzi-los a aumentar o crédito.

As medidas de crédito também estão na direção correta, mas seu impacto depende dos bancos quererem ofertar mais crédito e o BNDES conseguir sair do marasmo que se encontra desde Temer. De qualquer modo é uma mudança importante na agenda de "corte, corte, corte" pré-Covid 19.

O que faltou? Governo não alterou a meta para colocar ainda mais $ na saúde via crédito extraordinário, nem decidiu aumentar investimento retomando algumas das milhares de obras paradas. Isto indica que por enquanto a expectativa é que a crise seja temporária, ou então...

... que o governo ainda reluta em liberar mais gasto por que acha que isto prejudica sua credibilidade.

Dado que grande parte das medidas é remanejamento, adiamento ou liberação de $ na expectativa que bancos atuem, devemos ter mais medidas nos próximos meses.

FIM

Ops! Aqui a matéria sobre a decisão do CMN pela manhã, que foi mais forte do que as medidas anunciadas pelo Ministério da Economia à tarde.

valor.globo.com/financas/notic…

E dispensa de provisão adicional para renegociação de créditos é importante, mas não representa crédito novo. Boa medida, cujo impacto depende da vontade dos bancos em renegociar créditos em condições mais favoráveis (pois os devedores certamente querem isso).

*pelo BNDES