Perícia sugere que houve automutilação no caso da jovem que apareceu com uma suástica na barriga, em Porto Alegre. A polícia ainda investiga. A perícia e o caso no Rio - em que suásticas foram pichadas por opositores de Bolsonaro - mostram que é preciso ter cautela.
Cautela que muitos - especialmente Haddad e seus aliados - não demonstraram. Deram o caso como verdade estabelecida, como no episódio de Mourão. Exploraram politicamente suspeitas, alimentando o medo de uma vitória de Bolsonaro. E o associando ao nazifascismo.
Repito que não se sabe o que houve. Espera-se que a polícia e o MP determinem a verdade dos fatos. Não significa que não se pudesse - devesse - pedir uma investigação sobre o caso, demonstrando preocupação com a suspeita. Mas não se pode transformar suspeitas em verdade.
A exploração política e prematura desses dois casos açulou medos, na associação de um nascente neonazismo a Bolsonaro, mobilizando sentimentos de ódio ao candidato e, sobretudo, a seus eleitores.
A consequência mais danosa, a meu ver, não envolve o candidato Bolsonaro. Envolve seus eleitores. Por mais que alguns políticos e comentaristas façam firulas, esses eleitores foram associados ao nazismo. Tentou-se, assim, retirar-se a legitimidade da escolha deles.
A mensagem embutida foi: que tipo de pessoa você é se apoia um candidato neonazista, ou que espalha esse tipo de sentimento? A sentença moral já está definida: você é o anti-ser humano, que precisa ser varrido do mundo.
Esse tipo de radicalização é típico do PT, que passou, há anos, a aplicar a qualificação de fascista contra quem considera ser seus adversários. A condenação moral já está dada. Se você não concorda conosco, é um ser humano abjeto.
Ressalto que o caso ainda está sendo investigado, assim como outros. Houve episódios de violência e um assassinato - o mais notório na Bahia, como já falamos (testemunhas relatam a motivação política, apesar da negativa do criminoso). Mas não há “onda neonazista” ou algo do tipo.
Há um padrão preocupante nas principais suspeitas lançadas neste segundo turno: a ausência de base factual para muitas delas. Isso não impediu que Haddad transformasse toda suspeita ou acusação, independentemente das provas disponíveis, em verdades. Novamente: para provocar medo.
Quem vive de fatos, porém, não pode admitir a violação constante deles. A manipulação deles. Precisa apontar o que procede ou não - e quais as nuances do caso, se elas existirem. É como eu e muitos outros enxergamos o jornalismo. Cobrem isso de mim. Cobrem de quem vocês confiem.
Para quem me critica: vocês têm razão. Compartilhei a notícia no dia 10 sem frisar que se tratava de uma suspeita. Deveria ter tomado esse cuidado. Peço desculpas. Redobrarei a vigilância.
Não citarei todos os tuítes, mas reafirmo o que compartilhei (inclusive a maneira como tratei as suspeitas) e escrevi entre os dias 10 e 12, acerca de outros casos e da retórica de Bolsonaro e de seus aliados.
