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Lula segue vendendo que seria vítima de uma prisão política. Eu já entendo que toda prisão é política. Mas que umas são mais políticas do que as outras.
Por exemplo, prende-se no Brasil quem atrasa pensão alimentícia, mas nenhuma mulher é presa por deliberadamente abortar um filho. De alguma forma, a sociedade concorda que não é politicamente conveniente prender a mãe, mas é preciso prender o pai.
Também entendo que o que chamamos de decisão técnica é na verdade uma decisão em que foi politicamente conveniente decidir exclusivamente com base em uma leitura técnica do caso.
Lula tanto sabe disso que, quando acuado pela Lava Jato, resolveu brigar por uma absolvição explorando nada menos do que a política em seus escalões mais altos.
Primeiro, exigiu que Dilma derrubasse o comando da Polícia Federal. Mas a presidente não tinha interesse nisso. Há um bom número de depoimentos de aliados testemunhando que a petista preferia ver o adversário interno fora da disputa de 2014 e 2018.
Quando Marcelo Odebrecht encontra Dilma no México, o empreiteiro não a alerta do risco de a conta suíça ser descoberta. Aquilo era uma ameaça. Ou Dilma protegia o grupo dele — Lula integrava este grupo —, ou este grupo entregaria o que sabia do governo Dilma.
Só ali Dilma passou a tentar conter a Lava Jato. Em vão. Marcelo Odebrecht foi preso. Os emissários de Dilma foram pegos em grampos. Lula foi nomeado ministro, Gilmar Mendes o derrubou numa canetada. Ao fim, Dilma foi afastada.
Lula então passou a usar uma non sense, antecipada e ilegal campanha presidencial para se blindar da Justiça. Foi o maior dos erros dele.
Porque, até então, se a Lava Jato fosse bem sucedida, prenderia o homem que permitiu um saque bilionário à Petrobras. Depois daquilo, prenderia o candidato que se dispunha a inutilizar o combate à corrupção no Brasil.
Para evitar a prisão, Lula mergulhou na política. E isso fez com que a liberdade dele se tornasse o que havia de mais politicamente nocivo para a Justiça do país.
Quando Lula terá liberdade? Quando desistir deste personagem que ele mesmo criou. Passado um ano, no entanto, segue com a mesma postura, mesmo que isso implique em dar cada vez mais força a monstros como Jair Bolsonaro — que agradecem a imprudência com silêncios sorridentes.
Complementando: ao tomar para si o papel de maior ameaça ao combate à corrupção, Lula contamina o PT, aliados e, de certa forma, toda a esquerda. De quebra, ajuda a manter o Brasil refém do fascismo bolsonarista.
