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Charles Sanders Peirce
Em famoso pensamento de Peirce, temos o entendimento de que o pensamento não está em nós, nós é que estamos em pensamento.
Não reagimos mecanicamente às situações, de forma sempre igual. Estamos sempre em movimento, criando novos signos, aprendendo.
A semiótica, cada vez mais, vem sendo utilizada no campo comunicacional como método de pesquisa nas mais diversas áreas:
:seja nos estudos das linguagens musical e gestual, da linguagem fotográfica, cinematográfica, pedagógica e pictórica, bem como pela linguagem poética, publicitária e jornalística.
Assim, fica cada vez mais evidente a necessidade de se compreender a relação do homem e a infinidade de signos existentes em nossa sociedade atual.
A linguagem humana tem se multiplicado em várias formas e novas estruturas e novos meios de disseminação desta linguagem têm sido criado.
Cientistas norte-americanos, já no início da década de 80, descobriram uma onda cerebral que lhes permitiu observar o funcionamento da mente e até da consciência.
Esta sutil onda cerebral só aparecia quando o indivíduo descobria uma falta de sentido no final de uma frase comum (“A faxineira varreu o chão com réguas”).
A onda aparecia registrada numa tela logo que a mente reagia ao absurdo.
Trata-se então de uma sutil assinatura elétrica da mente humana, relatada pelo doutor Steven A.Hillyard da Universidade da Califórnia.
Estes sinais que acompanhavam processos mentais específicos foram chamados event-related-potencials (ERPs).
Compara-se a frase comum como “Ponha um vaso sobre a mesa” com a famosa e bem antiga frase de propaganda “Ponha um tigre no seu carro”.
As mensagens criptográficas foram usadas nos anos 60 também como recurso de publicidade: no L.P. “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, lançado pelos Beatles em abril de 1967 na Inglaterra, e em outros long-playning subsequentes, havia uma série de “pistas” que indicavam ...
...uma suposta morte de um dos componentes da banda, Paul MacCartney.
A capa do LP, que é uma verdadeira obra artística de montagem, apresentava uma série de índices e ícones como a mão espalmada sobre a cabeça de Paul (indicando parada) e, dentre numerosas fotos, a do poeta da morte, Edgar Allan Poe.
Os dois hemisférios cerebrais apresentam características diferentes. O esquerdo encarrega-se das atividades lógicas, verbais e matemáticas: respeita a sequência, nomeia, encaixa, verifica linearmente, analisa, conceitua, usa signos linguísticos, considera importante a sintaxe.
O direito processa as imagens e a intuição: vê similaridade (é analógico), é emoção, busca os paradigmas e rejeita os sintagmas, usa signos icônicos (navega melhor no “Windows” do que no “DOS”, enxerga diversas informações ao mesmo tempo (simultaneidade).
A mente ocidental tende para o pensamento linear e a mente oriental para o pensamento em imagens.
Os orientais utilizam intensamente os dois hemisférios cerebrais, uma vez que o idioma japonês é composto de ideogramas que correspondem a sons.
Quando lidos, a “imagem” ou desenho do ideograma é processado pelo hemisfério direito, enquanto o som correspondente ao vocábulo é interpretado pelo esquerdo. O mundo ocidental, reduzindo tudo ao discurso lógico ou ideológico, acabaria com o lobo direito do cérebro atrofiado.
Com a “invasão dos ícones” em todas as grandes cidades do ocidente, sobretudo nas mensagens publicitárias, nos videoclips, nas navegações pelo cyberspace (rede mundial de informação eivada de ícones), quebrar-se-á a “ilusão de contiguidade” e o mundo inteiro se orientará.
A Semiótica,sabemos, está bem perto da origem da vida, uma vez que, sem informação e energia, aquela última não existe.
Presume-se que o Universo tenha quinze bilhões de anos e sabe-se que ele não é somente este punhado de estrelas que vemos no céu à noite, quando não poluição.
Apenas na nossa galáxia há 250 bilhões de estrelas; o que vemos é parte dela e há bilhões de galáxias no Universo.
Se passaram a existir seres vivos na Terra, após o “Bing-Bang”, grande explosão de toda matéria universal, foi graças às fusões nucleares do interior das estrelas.
Muito tempo deve ter passado até que nosso sistema planetário tivesse esta trajetória estável e talvez um bilhão de anos até o aparecimento de moléculas orgânicas sobre a Terra.
A descoberta do código genético revela-nos a vida como linguagem.
Na análise da evolução da molécula de ADN (ácido desoxirribonucléico),substância universal portadora do referido código, percebeu-se que aquela é capaz de armazenar informações mediante uma linguagem entre átomos.
Esta linguagem é valiosa e legítima para todos os seres vivos, chamados “máquinas químicas” que perambulam sobre a Terra.
A vida, portanto, depende de informação que, por sua vez, coordena a energia-geradora dos processos dinâmicos no meio biológico. O homem é um universo em miniatura. As vibrações de energia existentes no Cosmo também existem em cada célula do corpo e da mente do ser humano.
Cada célula cumpre sempre o papel que deve cumprir no instante biológico exato.
Segundo Crocomo, cada molécula tem de saber o que as outras moléculas estão fazendo e cada molécula deve ser capaz de receber mensagens, devendo, por assim dizer, ser suficientemente disciplinada para obter ordens e em muitos casos transmitir mensagens.
Já neste ponto, é importante ressaltar que a biologia moderna se compõe de dois grandes ramos: a biologia molecular ou celular e a biologia evolutiva.
A cronologia cósmica, a natureza foi conseguindo estocar mais e mais informações na molécula de ADN, e assim conseguiu organismos mais e mais complexos na escala evolutiva.
Se pudéssemos perguntar a Peirce sobre os fatos da História que ninguém conhece, por estarem perdidos na noite dos tempos, ele nos responderia com inúmeras indagações:
Deixarão essas coisas de realmente existir por inexiste qualquer esperança de o nosso conhecimento alcançá-las?
Depois da morte do universo e depois de a vida ter cessado para sempre, não continuará a colisão de átomos, conquanto já não exista espírito que possa notar isso? E responderia:
: - " Há uns poucos anos, não sabíamos de que substâncias são constituídas as estrelas, cuja luz para atingir-nos pode ter exigido tempo superior ao da existência da raça humana. Não se pode dizer, enfim, que haja uma questão que não possa vir a ser resolvida.
Seja o que for que pensemos, temos presente à consciência ou sensação, imagem, concepção ou outra representação, servindo de signo. Mas segue-se da nossa própria existência que tudo aquilo que nos é presente constitui manifestação fenomenal de nossa pessoa".
Outra pergunta a Peirce: - Que tipo de criaturas seremos dentro de 100 anos? Como hoje, ou profundamente diferentes?
Será que com isso estaremos mais perto de construir um cérebro artificial, uma máquina capaz de não só obedecer a comandos, mas também de mostrar que tem consciência de si mesma, “personalidade”?
Ou de seu desejo de nos destruir. Potencialmente, seria um retorno ao mito de Frankenstein, mas, nesse caso, ganharia a criatura.
Algo a se pensar, não?
Peirce responderia:
- “A ideia é que máquinas inteligentes — a inteligência artificial (IA) — não só serão uma realidade como nos sobrepujarão. De certa forma, segue a ideia, nos tornaríamos obsoletos.
A visão de um cérebro sem um corpo é muito simplista; se criarmos uma máquina inteligente, não será uma inteligência humana. Será outra coisa. E não temos a menor ideia da moral desse tipo de inteligência.”
Vale a pena abrir um parênteses e destacar a abdução como tipo de raciocínio ou argumento, e como base da indução e dedução, mais conhecidas do pensamento moderno.
A abdução está em posição de primeira (a indução na posição de segunda e a dedução na posição de terceira).
Como paralela a primeiridade, a abdução é o momento do insight, é uma quase adivinhação da resposta a um problema, trata-se da elaboração de uma hipótese, que será observada e demonstrada por indução e dedução.
Outra palavra corrente que corresponde ao raciocínio abdutivo é o feeling, presente no pesquisador ou no professor atento aos processos dos quais faz parte.
O reconhecimento deste momento “divinatório” é notório no pensamento de Peirce, é o princípio da investigação, dando lugar ao que poderia parecer estrangeiro ao fazer ciência.
O próprio Peirce pode ser lembrado como exemplo de abdução. Quando jovem, abduziu que havia algo em comum nos fenômenos todos que estudava nas mais diferentes áreas. A hipótese que levantou foi comprovada após décadas de estudos.
O importantíssimo é ter em mente: há comunicação, há aprendizado. Se há ação do signo, mentes elaborando conteúdos, há aprendizado, há diálogo.
O código hegemônico não é apenas verbal, tampouco apenas imagem. É sim o cruzamento, a junção de diversas linguagens.
Qual é a diferença entre semiótica e semiologia?
Resumidamente: a Semiologia, também conhecida como a Linguística saussureana (Ferdinand de Saussure), é ciência da linguagem verbal, e a Semiótica (Charles Sanders Peirce) é a ciência de toda e qualquer linguagem.
Fonte: Valente,Nelson. Elementos de Semiótica - comunicação verbal e alfabeto visual, Panorama, 1999.
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