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Quando fiz 13 ou 14 anos, meu pai pediu a um amigo que tinha uma empresa ligada à engenharia elétrica para me colocar lá trabalhando durante as férias.
Me recordo da rotina estafante. (segue o fio)
Eu levantava antes das sete (nas férias!) e pegava o ônibus para uma parte da cidade que nunca tinha conhecido. Chegando na sede da empresa eu a abria e tinha que fazer pequenos trabalhos de limpeza como tirar o pó e passar pano nas mesas.
Depois, precisava atender os telefones até o pessoal chegar. De tarde, meu trabalho virava o de um "office-boy" mais regular. Indo a bancos e correios. O expediente durava até às 17 horas, quando eu retornava "cansado" para a casa.
O dia era estafante, no calor da Porto Alegre no verão. O dinheiro, mais tarde eu soube, vinha de minha mãe e meu pai. Eu o usei para comprar cartuchos novos para o antigo videogame Mega Drive.
Era o aprendizado para a "cultura do trabalho" que o presidente tanto quer.
Até entrar na História UFRGS, tive outros empregos. E sempre me gabei de "ter trabalhado desde os 13 ou 14 anos". Todo este "classe média fellings" reforçava a narrativa da diferença entre eu e "os outros" que não gostavam de trabalhar. Afinal, desde os 13-14 anos eu "trabalhava"
Fiz o curso noturno na UFRGS. Tinha que trabalhar para sobreviver.

Quanto mais a faculdade desnudava-se nos meus olhos mais eu me envergonhava de dizer que "tinha trabalhado".
Primeiro aprendi o caso clássico dos meninos carvoeiros na Inglaterra e nos EUA que você pode ver aqui (mashable.com/2015/10/05/chi…). Quase todos morriam de câncer antes dos 30 anos em virtude do trabalho insalubre no subterrâneo.
Trabalho que tinha dois enormes males: o primeiro era roubar a infância e a vida dos meninos e meninas pagando-lhes uma pequena parcela do que recebia um adulto. O segundo, era exatamente retirar uma vaga de trabalho de um adulto e diminuir o preço da mão de obra.
Depois, aprendi sobre o trabalho infantil nas lavouras de cana. Em toda a América Latina, o capital usava crianças nas plantações de cana. A imensa maioria terminava sem os membros ou com eles impossibilitados para o trabalho.
E recebiam (quando recebiam) muito menos do que um trabalhador adulto. A desculpa é de que eles "produziam menos". O engraçado é que mesmo tendo trabalhadores adultos desempregados, o capital usa as crianças.
Exatamente porque o foco não é a produção, mas o ganho marginal com ínfima paga que o trabalho infantil proporciona. (edition.cnn.com…/philippines-child-labor/index.html).
Aqui, reportagem no JN durante o governo FHC ... o trabalho infantil na cana e o depoimento do menino que "havia falado com o presidente" ...

()

Aqui um estudo sobre o tema (jus.com.br/artigos/17713/…)
Aqui o caso mais recente e "da moda". Os trabalhadores infantis - quase em situação de escravidão - que colhem cacau e trabalham para "grandes empresas" capitalistas como a Nestlé. foodispower.org/human-labor-sl…
O caso chamava a atenção, porque estes meninos nunca haviam PROVADO o chocolate que davam a vida para produzir. ()
Na faculdade, envergonhado, eu decidi nunca mais falar as asneiras que o presidente da república e seus apoiadores repetem.
Ser branco, morar em cidade e trabalhar em "escritório", casa ou mesmo um sítio de familiares nem se compara com o que a Organização Internacional do Trabalho se esforça por combater. ilo.org/global/topics/…
O "trabalho infantil" quase sempre está ao lado ou alinhado com a escravidão em favor do grande capital. É uma chaga civilizacional que não deveria sequer ser mencionada de forma positiva por um chefe de estado.
Bolsonaro mostra o imbecil inumano que realmente é. Sua ignorância e sua burrice não podem ser desculpa para sua monstruosidade.

Lugar de criança, é na escola.
Não toquei na forma mais nojenta e perversa de trabalho infantil: O trabalho sexual infantil. Deixo aqui para as pessoas mais fortes psicologicamente ... ilo.org/global/about-t…
Não é à toa que o "presidente" disse que "este governo é dos latifundiários" ... notoriamente os que mais empregam o trabalho escravo e o trabalho infantil. Sempre com a cínica desculpa de dar às crianças "o que comer" ... criminosos bem vestidos e bem representados no congresso.
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