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1/ O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite. O desconhecimento do brasileiro em relação a escravidão é enorme. Existe uma única autobiografia conhecida de um africano escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua. Segue o fio.👇🏿
2/ O número de escravos alfabetizados era menor que 1%. O que explica a ausência de outros relatos em 1º pessoa sobre o drama da escravidão. Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos EUA, Baquaqua conta o que mais de 4 milhões de africanos sofreram no Brasil.
3/ O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. É o país com a maior população negra fora da África. Apesar disso, não há museus ou estudamos sobre a África ou a escravidão nas escolas. Não é um acaso, é um projeto.
4/ Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e vivia no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravos já era proibido no Brasil desde 1830, mas as leis não valiam aqui.
5/ Os relatos de Baquaqua sobre a viagem de navio de Angola até o Recife são pujantes. A taxa de mortalidade nas viagens superava os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.
6/ Ao chegar aqui, Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Se tornou um "preto de ganho".
7/ Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. A violência servia para manter a "ordem".
8/ Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Baquaqua também fugiu. Mas foi recapturado. Era uma luta desigual.
9/ Após ser recapturado, tentou suicídio: "Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo". Acabou vendido e passou a trabalhar em um navio que teve como destino Nova York, onde conseguiu finalmente fugir da condição de escravo e se tornou, mais uma vez, um homem livre em 1847.
10/ Seus companheiros no Brasil, porém, esperaram até 1888 para alcançarem a liberdade. A liberdade veio, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo.
11/ Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportaram aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.
12/ É preciso lembrar dessa parte da nossa história para reparar a dívida com os escravizados. Alguns países, como os EUA, debatem a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”.
theintercept.com/2019/07/15/baq…
8/ Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Baquaqua também fugiu. Mas foi recapturado. Era uma luta desigual.
9/ Após ser recapturado, tentou suicídio: "Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo". Acabou vendido e passou a trabalhar em um navio que teve como destino Nova York, onde conseguiu finalmente fugir da condição de escravo e se tornou, mais uma vez, um homem livre em 1847.
10/ Seus companheiros no Brasil, porém, esperaram até 1888 para alcançarem a liberdade. A liberdade veio, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo.
11/ Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportaram aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.
12/ É preciso lembrar dessa parte da nossa história para reparar a dívida com os escravizados. Alguns países, como os EUA, debatem a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”.
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