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Chegou a hora da parte 2!!!! Sigam o fio:
Jair fez uma campanha sem muito sentido. O slogan era: "A crise é de homens", pq soava bem. A proposta base, no entanto, atingia as mulheres: ele implementaria cirurgias de ligadura de trompas para todas na periferia – para não ter essa gente "Invadindo a zona sul". Foi eleito.
O novo emprego foi uma benção, só precisava aparecer, votar nas coisas que o partido mandava e, quando perguntado, falar mal da oposição. O salário deu para começar o tratamento, o Tamoxifeno era administrado junto com um opióide p/ diminuir as dores.
Os resultados eram lentos. A curvatura ñ melhorou, mas tbm ñ piorou. A melhora nas dores fez com que conseguisse ter algumas ereções. Mas o volume de remédios dava confusão mental, enjôos – era difícil combinar ereção com esses sintomas.
Depois de seis meses de tratamento a única melhora percebida foi a diminuição das dores (e uma diminuição no pênis), as dores menores Jair atribuía ao opióide. A diminuição do pênis, ao remédio de mulher. Com + posses e + tempo livre, resolveu consultar um 2º especialista.
O 2º especialista ao se deparar com o problema recomendou de imediato a cirurgia. Jair recusou. Estava claro que o Tamoxifeno, que em teoria deveria diminuir a fibrogenese, não surtiu efeito. O médico recomendou colchinina aliada a Vitamina E.
Colchinina é um remédio muito usado em tratamentos de gota. Tem ação anti-inflamatória e, segundo o médico, Jair tinha uma doença autoimune e inflamatória. Junto à vitamina E, que é um antioxidante e o opióide, a tendência era melhorar.
A tendência também aumentar ainda mais os gastos. Mais remédios. Filhos mais velhos, ainda mais dinheiro. Jair tinha conseguido uns negócios por fora com uns amigos da Zona Oeste, mas precisava de outro emprego q ñ exigisse muito da cabeça e q pagasse mais.
Resolveu se candidatar a deputado estadual sem nem acabar o mandato de vereador. Nessa fase ele já estava bem ruim da cabeça por causa dos remédios, então concentrou a campanha em dizer que ia trabalhar pelos militares, pela segurança e outras qüestões. Foi eleito.
Nesse meio tempo Rogéria foi embora. A desgraçada pediu que ele se tratasse e não aguentou os efeitos do tratamento. Mulher não vale nada mesmo. A sorte é que Jair agora era famoso, tinha uma posição de poder e podia conseguir qualquer mulher. Mesmo torto.
Manteve um relacionamento amistoso com a ex não exatamente para preservar os filhos, mas para manter sua condição em segredo. Sabia que ela poderia contar tudo e ele viraria piada. Nos anos seguintes inclusive apoiou, muito a contragosto, duas candidaturas da ex para vereadora.
Mas Jair acabou se casando novamente. Deputado Federal precisava de uma família estável. O tratamento não tinha melhorado em muita coisa a condição do tortinho, mas ele já sabia como encaixar de ladinho e resolver rápido o problema. Fez até um outro filho assim.
O novo remédio diminuía a dor no biroliro, mas trazia uma dor no estômago insuportável e muita confusão nas ideias. Jair lembra muito pouco do que fez como deputado, falou em fechar o congresso, matar indígena, em matar esquerdista, que não teve ditadura.
Não sabia falar sem raiva, porque viver com dor e com um pinto disfuncional dá raiva. E falava o que vinha na telha – nem pensava. No final dava certo: sempre ganhava uma manchete. Com isso ganhava visibilidade e por fim acabava ganhando outra eleição.
A dor de Jair estava criando mais que uma lenda, um legado. E esse legado deveria ser passado para os filhos. Em 2001 resolveu colocar o 01, Flávio, para concorrer a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio. O moleque já estava pronto.
Na mesa do café da manhã, depois do pão com leite condensado, Jair chamou o filho para uma conversa séria. Falou da candidatura, falou dele cuidar dos negócios na Zona Oeste, falou da responsabilidade que ele tinha como um herdeiro de Bolso.
Flávio escutou tudo em silêncio. Concordou com tudo. Mas ao final, disse que também tinha uma coisa a dizer. "Desembucha", disse Jair. "Pai, acho que meu pinto está ficando torto. Dói muito". Jair ficou um tempo em silêncio. Reconheceu a dor no rosto do filho.
Mas também reconheceu que estava formando homem naquela casa, não uma bichinha chorona. Homem tem que aguentar a dor. "Você ficou louco? E eu quero lá saber do seu pinto? Tá me confundindo? Você que se vire. E não toque mais nesse assunto comigo. Me respeite".

FIM DA PARTE 2
Errata "resolveu se candidatar a deputado federal", não estadual.
E quem perdeu a parte 1, só seguir esse fio:
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