Thread by @tantotupiassu

Ninguém jamais entendeu porque meu filho adorava o Ministério da Saúde.

Qual seria a razão para um menino garotinho adorar um órgão ministerial burocrático e bem pouco divertido?

Pois bem, eu explico...

Acontece que Carlos não gosta de injeções.

Meu menino, como quase todas as crianças, tinha medo da furada por vezes dolorida, o que sempre resultava em muito choro e grito nos momentos de vacinação.

Belo dia, entra no ar uma campanha de vacinação do governo, e lá sai procurando onde durar o menino.

Acabei levando acho que no Posto da UEPa, e Carlos, pela primeira vez, prometeu ser valente e corajoso, e disse que não choraria.

Era o ano de 2015 e ele tinha 7 anos.

De fato, o moleque foi controlando o medo, foi sendo bravo, mas quando foi chegando a vez dele começou a bater o nervoso.

Já na sala, percebi que ele ia desabar, e enquanto eu segurava a mão do meu garoto, soltei a história:

- Filho, você sabia que o Ministro da Saúde manda medalha e troféu para as crianças valentes diante da vacina? Principalmente se tiver entre 5 e 10 anos, não chorar, o Ministro da Saúde manda entregar esses prêmios em casa...

Nunca vou esquecer de como os olhinhos dele brilharam. Na mesma hora ele se fez forte, segurou o medo e foi exemplar. Tomou injeção, saiu da sala segurando o braço e olhando o resto da criançada com um ar cheio de orgulho, como se dizendo “pode ir, galera, é tranquilo.”

Já no carro, já na volta, sem
nenhuma lágrima derramada, meu filho perguntou "papai, é verdade aquilo do troféu e da medalha?"

Eu disse que sim, que ia informar ao Ministro da Saúde, e que não demoraria para o reconhecimento chegar.

No dia seguinte fui ao Globo Esporte, lá na frente do Ver o Peso, e comprei um troféu tão lindo, e uma medalha tão brilhosa, tudo baratinho, e em tudo mandei gravar

"Ao Carlos Henrique, pela bravura no momento de tomar vacina, o reconhecimento do Senhor Ministro de Saúde."

O dia da entrega foi lindo.

Cheguei num carro preto, paletó e gravata, meu menino com os olhos arregalados de felicidade e orgulho.

Quando ele viu os brilhos, chega nem respirava de felicidade. Não cabia em si de tanta alegria.

Depois a @NatashaSchneide me contou que ele não se desgrudou dos prêmios dele, que quis dormir abraçado ao troféu e fez questão de levá-lo nas mãos, na volta para Macapá, no avião.

Aí a vida rolou e nunca mais tocamos no assunto, e pula para 2019...

Carlos Henrique, agora com 11 anos.

Veio de Macapá passar as férias em Belém, e a @NatashaSchneide chama a gente para um lanche. Lá vamos nós, eu e Liv, mais as crianças, e foi a maior diversão.

Imagina o caos de crianças e irmãos e primos brincando que nem doidos.

Lá pelas tantas Carlos me aparece com o bonito troféu nas mãos, andando pela casa. Eu, que sempre lembrava da história, me emocionei.

- Filho, que troféu é esse?
- Ah, pai... eu ganhei do Ministério da Saúde pela minha valentia, porque tomei vacina e nem chorei.

Ness hora, a @NatashaSchneide, que estava do meu lado, me olhou com uma cara de riso, aquela cara típica de pai e mãe que seguram o riso achando alguma coisa bonita do filho. O nosso olhar era de “vamos contar?”

Vamos, né?

- Filho, deixa eu te contar... quem te seu esse troféu e a medalha fui eu, rs
- Não, pai... eu lembro de um carro preto e dos homens do Ministério da Saúde indo em casa me entregar...

O pequeno, no auge do orgulho, nem lembrava de mim na cena, de tão grandioso que foi o momento

Aí a gente conversou com ele, explicamos tudo, e ele riu pacas quando se tocou que não tinha nada de Ministério, muito menos de Ministro - e que era só um pai tentando fazer o filho não chorar diante da agulha.

E ele me abraçou feliz ao final.

E ainda guarda, com muito carinho e amor, o troféu do Ministério da Saúde, comprado do Ver o Peso pelo pai inventor de histórias.

Fim