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Peço venia para falar um pouco sobre a tal Portaria 666. Ela é bem pesada, coloca Moro no nível linha dura de um Matteo Salvini da vida, mas não tem nela nada que afete o Glenn Greenwald ou liberdade de imprensa. Cumpre um outro propósito:
Moro, com a portaria, dá um baita salto na narrativa que ele deseja construir para si próprio como ministro da Justiça: implacável com o crime. Os apoiadores de Bolsonaro (e do Moro) devem estar festejando o rigor contra traficantes internacionais, pedófilos etc.
A medida em si é gravíssima. Ultrapassa linhas perigosas. É absurdo fazer deportação sumária de SUSPEITOS de crimes. A portaria deixa claro: basta "informações de inteligência" de autoridades estrangeiras. Se o serviço secreto russo falar, é verdade. Se o Mossad falar, é verdade.
Mais: a portaria dá apenas 48 horas para defesa. Se não der tempo para o suspeito de pertencer a uma organização criminosa se defender, azar. A deportação rola assim mesmo.
Entre prever isso tudo e executar, vai uma diferença. Minha aposta é que essa portaria, caso não seja derrubada pela Justiça, será usada de maneira seletiva. Na verdade, o governo está, aos poucos, preparando várias ratoeiras para ativar um lawfare em várias áreas qdo precisar.
Escrevi mais sobre a portaria e outras medidas do governo nesta semana aqui: brenocosta.substack.com/p/brasil-real-…
