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@alexandreamaro_

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Carta aberta a Mano Menezes,

1. Sou um torcedor de futebol. Gosto do esporte, a despeito de minha consciência sobre seus bastidores, nem sempre dignos de torcida e amor. Mas esse é um assunto em que me permito certa dose de alienação, é como um respiro (continua...)

2. (...) diante de tanta insatisfação com a realidade sócio-política do nosso país. Sou de uma geração que assistiu à Copa de 82 (eu tinha 12 anos) e chorou no terceiro gol do Paulo Rossi. Eu já tinha tamanho e senso crítico pra saber que o Telê deveria ter colocado o Batista

3. (...) e não o Paulo Isidoro no lugar do Serginho quando o jogo estava 2x2. O empate era nosso, oras... Pois é. O Telê ousou, a Itália fez 3x2 e desde então o futebol brasileiro passou a ser mais cauteloso. Ganhamos duas copas com técnicos famosos por se preocuparem

4. (...) com um meio de campo forte e resultados magros.
Pois bem. Outro dia, no jogo de ida da Libertadores, me peguei comemorando o pênalti perdido pelo River aos 52’ do segundo tempo. Fui pra janela gritar, mas tive uma sensação estranha. Eu estava comemorando um empate.

5. Confesso que me senti mal e tive uma sensação estranha. Estava errado. O Cruzeiro não deu um chute a gol,foi amassado pelo adversário durante mais de 90 minutos. Eu não podia estar comemorando aquilo. E então me veio uma luz. Mano, você está contribuindo para o fim do futebol.

6. Sei que a frase pesa, mas me entenda. A cautela que passamos a prezar no pós-82 se tornou pra você uma filosofia do esporte e isso não pode ser bom. Digo isso, porque, no extremo, um time sem apetite para atacar nos priva – a nós, torcedores, que fique claro – daquilo que nos

7. (...) faz continuar gostando do esporte. Sim, estou falando do gol, algo que para o Parreira era um simples detalhe. No momento em que escrevo essa carta, o Cruzeiro está há 8 partidas sem fazer um único gol. Desculpe. Este não é o meu time.
Mas por que isso está acontecendo?

8. Porque o ataque é ruim? Porque os deuses do futebol estão contra nós? Porque a pilantragem extra-campo está influenciando os atletas. Não, Mano. Isso está acontecendo porque você age como o mágico que acreditou demais no próprio truque. E ninguém mais – nem os torcedores

9. nem os adversários – acredita na sua fantasia. Sua obsessão pelo jogo cauteloso aniquilou nosso desejo pelo gol. E isso não é futebol, é armazém de secos e molhados, com a licença do Millôr. Amanhã tem Cruzeiro X Inter pela semifinal da Copa do Brasil e o meu sentimento

10. (...) é de desesperança. Não vou comemorar 0X0, nem 1x0, por que sei que esses resultados para você são o pretexto para entrar com 3 volantes e jogar um futebol “cauteloso”no joga de volta. Que pode terminar em 0X0, ou 0X1 e irmos para os pênaltis, dependendo dos detalhes

11. (...) que nesse tipo de disputa são da ordem do imponderável.
Sua filosofia já nos deu títulos e te agradeço por isso. Mas não sou daqueles que prefere uma vitória medíocre a um resultado adverso jogando bem. Um time que joga pra frente, com atitude, orgulho, confiança

12. (...) e alegria pode perder um jogo ou mais. Mas nunca fica 8 jogos sem marcar um gol ou obtém apenas uma vitória em 17 jogos. Sim. Esses são os números atuais do Cruzeiro. Números com os quais você tem que brigar a cada entrevista coletiva.
Amanhã te desejo sorte.

13. Mas te desejo mais que isso, pois sorte é algo que sorri pra nós sem que a gente saiba o motivo. Desejo que você pense no esporte, na torcida, nos jogadores. Que você pense além da economia, da estratégia, da ciência. Sei que ninguém muda por vontade do outro,

14. (...) mas nesse momento não estou pensando em você. Estou pensando em uma tradição que existia antes do seu nascimento e continuará existindo quando você for embora. Estou pensando no amor por uma causa e na coragem pela luta.

15. Estou pensando na esperança, algo de que precisamos muito nesse momento. Por fim, estou pensando na necessidade de continuar gostando de futebol.

Alexandre Amaro