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Já fui uma das pessoas que tiraram sarro de músicos e atores que em decadência aceitaram fazer trabalhos que foram considerados piada. Muitos lembram do Mattar fazendo comercial da Batata Show... O problema é que hoje, eu sou o Maurício Mattar neste comercial...
Dou aulas desde os 16 anos. Quando ainda era garçom, fiz aquele curso básico do bato-te office e ao final, fui chamado para integrar o corpo docente da mesma escola. Fui professor de informática por quatro anos...
Quando entrei na graduação de História, logo comecei a dar aula de enventual na rede estadual e consegui 4 aulas na escola onde fiz o cursinho... é continuava trabalhando no restaurante do meu velho...
Com o tempo as aulas foram aumentando, eu realmente gosto de ser professor... e ao longo de 15 anos, trabalhei em escolas particulares e fui me estabilizando. Tinha até que um bom salário.
Em 2016, uma das minhas escolas me dispensou por corte de pessoal, perdi metade das minhas aulas. Minha esposa perdeu todas, porque a escola dela não fechava turmas.
No mesmo ano, recebi um convite do prefeito ainda eleito de uma cidade de Minas: ajudar na resestruturacao do patrimônio histórico... achei uma ótima oportunidade e a agarrei. Minha esposa conseguiu até um cargo de coordenadora na rede particular de lá. Nos mudamos para Minas.
Só que meus salários atrasavam, a verba era escassa. Até o momento que fui dispensado por falta de verba municipal para a área. Fui indo de bico em bico e fazendo substituições na rede municipal de ensino da região...
Até o final do ano passado, quando minha esposa foi dispensada (sempre o corte de custos), e resolvermos voltar...
Procuramos em todas as escolas que trabalhamos e em toda a grande São Paulo... mas já era fim de janeiro e só consegui uma escola, e apenas 8 aulas semanais.... não paga os boletos, mas era um começo...
De fevereiro até abril, eu ia e voltava de Minas toda semana, pois não tínhamos casa em SP. Gastava mais com álcool do que com comida no mês...Ouvi muito Podcast nesta época.
Desde Abril, consegui trazer minha esposa e meus gatos de Minas. Os móveis, tivemos que vender todos...e com a ajuda de amigos e parentes, mobiliamos um apartamento da avó da minha esposa que tinha falecido recentemente (pagamos um aluguel simbólico e somos gratos à família dela)
Ela faz doces e salgados sob encomenda, e eu complemento à minha renda fazendo trabalho de jardinagem (lembrando de quando eu trabalhei na roça quando criança e ajudava minha avó). Comecei ajudando uma amiga mês passado e agora já foram três trabalhos...
Gosto de lidar com plantas? Gosto... como hobby... mas preciso pagar os boletineiro... preferiria dar aula todo dia e ver minha esposa em um museu ou escola, trabalhando na área que escolhemos como profissão...
Alguns meses atrás a ouvi dizendo que jamais teria escolhido fazer história, pois preferia ter mais estabilidade financeira a se formar em algo que gosta mas não consegue trabalho... foi um instante, mas é duro ouvir isto de quem você ama.
E assim está a nossa vida, dois historiadores formados na Universidade de São Paulo, uma fazendo doces (ela adora cozinhar, mas preferiria dar aulas), o outro complementando renda trabalhando em jardins...
Por isto, não tiro mais sarro do Mattar ou de qualquer outra pessoa que tenha de fazer um trabalho que pode não ser o que ela mais gostaria, mas foi o que surgiu. Basta a própria pessoa achar que fracassou pelas escolhas erradas que fez, não precisamos reforçar este sentimento.
É virtualmente impossível não sentir que falhou neste tipo de situação. Por isto vim para cá. #AulaFio é a maneira que tenho de tentar dar aula todo dia. É uma atitude pueril, ingênua até, mas às vezes, nos apegamos a estratégias pueris para manter um mínimo de sanidade.
Bem, é isto. Quando verem alguém que tenha uma formação é uma experiência aparentemente além do trabalho que ela exerce no momento, lembre que pode ser um momento de reestruturação desta pessoa. Compreender ajudará mais do que julgar....É isto... bom fim de semana para todos...
*boletinhos.
Bato-te =pacote...
