Thread by @lucasableite

Gente, umas dicas rápidas pra jornalistas quando buscarem fontes pros seus artigos etc:

- Procure especialistas de verdade. Não é porque eu sou formado e tenho doutorado em Relações Internacionais que estou apto a falar sobre qualquer coisa. Se precisa cuidar dos olhos você vai+

no ortopedista? Com a gente é a mesma coisa, quem é especialista em Estados Unidos não necessariamente sabe falar de China ou União Europeia
- Claro que existem temas “neutros” que a maioria dos especialistas consegue abordar, geralmente áreas comuns de estudo das RI, mas não é+

sempre.
- Inclusive, essa busca por gente que fala “de tudo” acaba por dar holofote a picaretas e imbecis articulados (é o que mais tem, por sinal...). Não é porque alguém está sempre disponível e “fala bem” que diz coisa corretas, geralmente é só senso comum.

- Essa prática+

vem junto da necessidade constante de muitos jornalistas em procurar fontes que CORROBOREM certas visões pre-estabelecidas. E isso é muito chato, se você me pergunta algo eu vou falar o que eu sei e penso, não necessariamente o que quer ouvir. O que leva a outro ponto delicado+

- Às vezes disponibilizamos a falar por 20, 30, 40 minutos ou mais ao telefone, em entrar ao vivo, sair de casa em horários difíceis pra não falar outra coisa. E quando vemos foi usada uma frase fora de contexto, uma linha parafraseada ou um minuto de tevê. Isso é MUITO CHATO+

- A gente não recebe nada pra ajudar, pra esclarecer um ponto, tirar dúvidas, clarear uma questão, dar legitimidade a alguma pauta etc. O mínimo que se pede é respeito pelo nosso tempo e nosso trabalho. Pra quem é sério foi necessário MUITO TEMPO de estudo pra chegar nesse ponto+

- A questão das fake news até entra nisso. Porque ao dar palanque pra gente pouco interessada na verdade, que reproduz lugares comuns de internet, acabam por projetar bobagens que os outros vão tomar como certas. E eleger certas pessoas... +

- Por fim, respeitem certos horários. A não ser que uma guerra tenha sido declarada, um atentado tenha acontecido, uma crise financeira tenha começado, nada justifica nos chamar fora do horário comercial. Ou mesmo pedir pra participar de algo faltando poucas horas +

- Todo mundo dá aula, tem compromissos, fome, sono. E de novo: a gente não ganha um centavo pra fazer algo que é TRABALHO. Ninguém contrata um professor pela quantidade de vezes que ele apareceu na mídia (pelo menos não deveria). Então não chama a gente de última hora, por favor+

- Por fim: o trabalho de vocês é essencial, é admirável e temos mesmo que trabalhar juntos. Mas paremos de aceitar essa lógica de que o trabalho acima de tudo e de todos. Vamos buscar formas gentis de cooperar, todos ganhamos.