Thread by @MatiasSpektor

O discurso de Bolsonaro na ONU foi tão contrário a seus próprios interesses q a pergunta se impõe: quem assessorou o presidente calculou os riscos ou apenas alimentou seus instintos mais alucinados? A resposta é crucial pra quem estuda RI. Segue fio para os amigos nerds.

A imprensa em peso cravou q texto é de Eduardo Bolsonaro, Ernesto Araújo, Filipe Martins e Augusto Heleno. Foi @marinaadias que alertou para o contrário: segundo ela, Heleno teria sido limado no fim do processo.
folha.com/r7jmsu01
Se verdade, olavistas contra militares.

Isso é muito interessante porque aponta para as dinâmicas q rolam no coração da diplomacia do governo. Há anos, a literatura estuda como funcionam essas equipes de política externa.
jstor.org/stable/2991798…

Nos últimos anos, essa literatura ensinou q tais equipes podem fazer besteira mesmo quando seus membros são inteligentes, possuem informação precisa, recursos para obter a melhor inteligência e contratar ótimos serviços de análise.
tandfonline.com/doi/full/10.10…
Por quê?

A explicação mais comum é o "groupthink", aquele processo psicológico pelo qual membros de um grupo se recusam a discordar uns dos outros e terminam tomando decisões estúpidas. Tem pesquisa boa q identifica os mecanismos por trás do fenômeno.
journals.sagepub.com/doi/10.1177/10…

Outros pesquisadores tentam dissecar os mecanismos do "groupthink" para achar meios de transcendê-lo.
ler.amazon.com.br/kp/embed?asin=…

Ainda tem aqueles que fazem experimentos para saber quando o risco de "groupthink" sobe ou desce. Ele cai quando os membros do grupo circulam informação entre si livremente e evitam o viés de confirmação coletiva de modo explícito. journals.uchicago.edu/doi/abs/10.108…

Tem pesquisa nova alertando q nem tudo é "groupthink". Muitas vezes, as divisões internas no grupo são enormes. Quando isso ocorre, o desafio é descobrir pq o presidente escolhe um assessor em detrimento de outro.
journals.sagepub.com/doi/10.1177/00…

Como a diplomacia de Bolsonaro é feita por um grupo pequeno, todo mundo tende a achar que se trata de um grupo homogêneo. A teoria das RI está aí para dizer: calma lá, estuda esse negócio direito.

O episódio de ontem na ONU confirma que as divisões entre olavistas, militares e liberais são mais profundas na condução da política externa do que parece a primeira vista para quem olha toda essa turma em volta ao presidente de longe.

O desafio agora é descobrir em quais circunstâncias Bolsonaro privilegia um grupo em detrimento do outro. Só assim vamos entender que diabos acontece. Você que está aí sem tema para TCC, mestrado ou doutorado, ajuda a gente.