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Estive um pouco afastado do Twitter, cuidando de uns papers. Vi a confusão com o erro de Excel do @AlexSchwartsman em reação a @pedrolrossi e co-autores, que por sua parte tinham cometido erros conceituais. Esse fio traz meus próprios cálculos (vc pode baixar a planilha). 🧶
Antes de tudo, anoto que o tom ofensivo, tanto do artigo original (que acusava discordantes de defender interesses financeiros), quanto da resposta do Alex, não ajudam em avançar o debate. Discordância não significa deslealdade.
Os pontos principais do artigo original da Folha eram dois. Primeiro, esforço de economia do governo (superávit primário) não teria contribuído de forma relevante pra dinâmica da dívida entre 2007-14 ou 2014-18. Isso se mostrou falso quando corrigido o erro no artigo da Folha.
Resta o outro ponto: a deterioração do primário teria sido causada essencialmente pelas receitas, não pela despesa. Esse argumento tem sido levado adiante também pela @lauraabcarvalho e contestado por gente como o @FelipeSalto, da @IFIBrasil.
Houve tanto queda nas receitas quanto aumento nas despesas (em relação ao PIB) desde o começo da crise da nova matriz. O ponto de Lisboa, Pessoa e Mendes é ilustrado pelo gráfico abaixo. A variação nas despesas/PIB foi maior do que a variação na receita liq./PIB. 
Assim como é feito com a dinâmica da dívida, a gente pode decompor a dinâmica do superávit primário/PIB em uma identidade matemática. A derivação, bem simples, está abaixo: efeito da variação das receitas, despesas e produto.
O gráfico abaixo faz esse exercício. Ele decompõe a variação do primário/PIB ano a ano. Quando receitas variam positivamente, o resultado melhora em relação ao ano anterior. Quando despesas o fazem, o resultado piora. Número total negativo significa aumento do défice.
A gente consegue observar duas coisas. Por um lado, no período 2011-13, houve crescente contribuição negativa dos gastos para o primário (aumento da barra vermelha). Por outro, em 2014-15, há uma queda cíclica na contribuição das receitas (queda na barra preta).
.@lauraabcarvalho e outros dizem que, se as receitas não tivessem variado com a crise, o efeito fiscal seria menor. Isso é verdade. @AlexSchwartsman e outros dizem que gastos cresceram em termos reais e não houve ajuste até o fim de 2016. Isso também é verdade.
O gov tem pouco controle sobre a variação das receitas. Como não houve redução no gasto em 2014-15; e já que sempre em crises a receita diminui, o resultado foi uma deterioração fiscal. Pq não houve redução? Pq grande parte do gasto é obrigatório.
O q sabemos: i) no caminhar p/ crise, a contribuição negativa das despesas aumentou e se manteve alta durante ela; ii) como esperado, houve queda cíclica das receitas; mas iii) a variação acumulada da despesa/PIB foi maior do q da receita/PIB. Difícil sustentar o artigo original.
A planilha com os cálculos estão disponíveis aqui. Vou organizar isso num texto mais completo no futuro. Tive cuidado e incluí verificações pra garantir que não há erro, mas me avise se você encontrar algum. github.com/omercadopopula…
